INTERECLESIAL DEBATE ECUMENISMO, JUVENTUDE E MISSÃO
Porto Velho, 24 jul (RV) - No segundo dia de coletivas de imprensa, os participantes
abordaram três temas: ecumenismo, juventude e missão. Estes três pontos, fundamentais
para o fortalecimento das Comunidades Eclesiais de Base e principalmente para a jornada
de trabalho em defesa da vida, da ecologia e da fé, são alternativas para a criação
de um novo modo de ver e agir dentro da sociedade.
Cláudio Ribeiro (pastor
metodista), Dom Antônio Possamai (vice-presidente da Comissão da Amazônia da CNBB)
e Leila Regina (assessora do Regional Leste 2) falaram da experiência de atuar nas
CEBs e de como praticar a acolhida do ecumenismo e ouvir a juventude.
A missão
de atuação das CEBs é baseada no modelo de vida em defesa da fé e da preservação da
ecologia, como ponto fundamental para a Amazônia. Dom Antônio destacou que o sistema
de governo incentivou a migração para esta região como se nela não houvesse povos
integrados ao meio ambiente.
“Após a invasão da soja no sul e do eucalipto
no sudeste, o governo iniciou a ocupação e promoveu a derrubada da floresta amazônica.
Em Rondônia, o modelo de posse da terra criou um imenso vazio no meio da mata” - lembrou.
“A
Amazônia ocupada e devastada sempre contou com líderes formados nas Comunidades Eclesiais
de Base, e sua atuação firme e comprometida evitou muitos danos a esta região” - completou.
O
papel das CEBs tem sido debatido durante este 12º Intereclesial e entre os pontos
fundamentais está a defesa da vida, da fé e da ecologia. A juventude se apresenta
como arma essencial para vencer desafios, aliado à experiência de líderes que na década
de 60 pensaram na luta por um mundo melhor.
Em entrevista concedida à CNBB,
o arcebispo de Manaus e vice-presidente da Conferência, Dom Luiz Soares Vieira, destacou
a importância da realização do evento na Amazônia. Ele disse que o encontro mostra
a necessidade da humanidade repensar sua relação com a natureza: “Nossas Comunidades
de Base podem encontrar na ecologia um incentivo muito grande, uma nova bandeira,
sem desprezar a bandeira política, econômica e social. A ecologia é realmente o grande
problema da atualidade. Se não aprendermos a conviver com a natureza, não teremos
mais futuro. É uma questão de sobrevivência da raça humana. Precisamos despertar
para isso a partir da fé”.
A programação do 12º Intereclesial tem reservado
boa parte do tempo aos trabalhos em grupo, em diversas escolas espalhadas por Porto
Velho. Os grandes grupos, compostos de aproximadamente 250 pessoas cada, são denominados
“Rios” (fazendo menção aos grandes rios que cortam o norte do Brasil).
A escola
Dom Bosco, no centro de Porto Velho, acolheu o “Rio” Tapajós. A maior parte do debate
girou em torno do tema das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) na preservação e luta
pela não destruição da Amazônia. O um dos participantes foi o teólogo e autor de mais
de 70 obras, Leonardo Boff.
Boff citou em muitas partes de sua palestra o Documento
de Aparecida como sendo revitalizador das Comunidades Eclesiais de Base. “Ele resgatou,
de certo esquecimento, as CEBs. As comunidades Eclesiais são uma potência da Igreja.
Dão autonomia aos mais desfavorecidos de nossa sociedade. Levam aos cidadãos a mais
importante libertação, a intelectual. As CEBs criaram cristãos novos, ativos, participativos
dentro da Igreja, mas sem dúvida nenhuma, o maior crédito que se deve dar a elas é
o desenvolvimento da consciência, criando cidadãos pensantes algo de que o nosso
país precisa” - exclamou.
Segundo Boff, o desenvolvimento que se quer para
a Amazônia é destrutivo e é preciso cuidar da terra, do contrário, não haverá mais
vida no planeta. “Precisamos de uma terra inteira e mais 40% para atender à demanda
humana”, disse. “A Teologia da Libertação nasceu escutando o grito dos pobres, dos
negros, dos afrodescententes. Agora é preciso escutar o grito das águas, da floresta.
Se a marca da teologia da libertação é opção pelos pobres contra a pobreza, dentro
desta opção temos que colocar o mais pobre dentre os pobres, que é nossa mãe terra”
- acrescentou o teólogo.
Já a religiosa, Irmã Julieta, destacou o grito das
mulheres da Amazônia. De acordo com ela, o grito das mulheres vem da violência sexual
de que são vítimas, do tráfico de meninas e de mulheres, do serviço das mulheres como
prostitutas em canteiros de obras, da gravidez precoce. “A Teologia da Libertação
nos ajudou a descobrir a presença não só dos oprimidos, mas também das oprimidas”
- disse.
Ainda ontem, os participantes do Intereclesial partiram para as ‘missões’,
que consistem em visitas a famílias de 11 bairros das cidades, além de grupos específicos
como hospitais, indígenas, extrativistas, ocupações, afro-descendentes e casas de
recuperação de dependentes químicos.
Os trabalhos de ontem se encerraram com
uma noite cultural organizada pelas paróquias onde estão hospedados os participantes
do encontro. (CM)