Cidade do Vaticano, 16 jul (RV) - Quarenta anos atrás, em 16 de julho de 1969,
os Estados Unidos começavam a conquista da Lua.
A Igreja não assistiu impassível
àquele evento. Paulo VI acompanhou "passo a passo" os avanços da astronomia. Durante
a Audiência Geral daquele mesmo dia, o pontífice ofereceu uma meditação que permanece
atual ainda hoje:
"A audaz aventura de hoje nos obriga a olhar para o alto,
além do campo terrestre, a recordar-nos da imensa e misteriosa realidade na qual a
nossa mínima vida se realiza" – disse Paulo VI na ocasião.
Seus pronunciamentos
a respeito foram inúmeros. Três dias antes de o Apollo 11 decolar, no Angelus de 13
de julho, o pontífice falou da relação ente ciência e técnica:
"Ciência e técnica
se manifestam de modo tão incomparável, tão complexo, que nem mesmo a imaginação consegue
sonhar. E o que mais surpreende é ver que não se trata de sonhos. A ficção científica
se torna realidade."
A reflexão, afirmou, se curva sobre o homem: "Quem é
este ser capaz de tanto? Tão pequeno, tão frágil, tão parecido com um animal, que
não muda e não supera por si os confins dos próprios instintos naturais; e tão superior,
tão dono das coisas, tão vitorioso sobre o tempo e sobre o espaço? Quem somos nós?
O homem, esta criatura de Deus, ainda mais misterioso do que a lua, se revela no centro
deste feito. E se revela gigante, divino, não em si, mas no seu princípio e no seu
destino".
Uma semana depois, no Angelus do dia 20 de julho de 1969, Paulo
VI advertiu para os riscos do desenvolvimento científico desenfreado.
"Aonde
poderão chegar ainda o pensamento e a ação do homem? O perigo está na idolatria da
técnica" – profetizou o pontífice. O instrumento multiplica a eficiência do homem,
mas esta eficiência o beneficia? Faz dele um homem melhor? Mais homem? Ou o instrumento
o aprisiona e o torna servo? – questionou. "Tudo depende do coração do homem."
Paulo
VI acompanhou pela televisão o desembarque dos três astronautas americanos, Neil Armstrong,
Edwin Aldrin e Michael Collins. Antes, porém, foi até o Observatório Astronômico do
Vaticano para observar a lua. De Gastel Gandolfo, enviou um telegrama ao então presidente
dos Estados Unidos, Richard Nixon, em que escreveu: "Glória a Deus! E honra a vocês,
homens artífices do grande feito espacial! Honra a todos aqueles que tornaram possível
este vôo audacioso!".
O papa saudou também os astronautas que participaram
da empreitada: "Aqui, do Observatório em Castel Gandolfo, perto de Roma, o Papa Paulo
VI si dirige a vocês, astronautas. Honra, felicitações e bênçãos a vocês, que conquistaram
a Lua, pálida luz das nossas noites e dos nossos sonhos! Levem a ela, com sua presença,
a voz do espírito, o hino a Deus, nosso Criador e nosso Pai. A vocês, a nossa solidariedade,
nossos melhores votos e nossas orações. Com a toda a Igreja Católica, o Papa Paulo
VI os saúda".
Sobre a Lua, os americanos deixaram um disco com as mensagens
de 73 personalidades de todo o mundo. Em sua mensagem, Paulo VI escolheu alguns versículos
do Salmo 8:
"Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra!
Vossa majestade se estende, triunfante, por cima de todos os céus. Da boca das
crianças e dos pequeninos sai um louvor que confunde vossos adversários, e reduz ao
silêncio vossos inimigos. Quando contemplo o firmamento, obra de vossos dedos,
a lua e as estrelas que lá fixastes: Que é o homem, digo-me então, para pensardes
nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles? Entretanto, vós
o fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra o coroastes. Destes-lhe poder
sobre as obras de vossas mãos, vós lhe submetestes todo o universo. Rebanhos e
gados, e até os animais bravios, pássaros do céu e peixes do mar, tudo o que se
move nas águas do oceano. Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda
a terra!" (BF)