Cartum, 14 jul (RV) - Um grupo de mulheres cristãs e animistas sudanesas foi
preso e recebeu chicotadas como punição por usar calças em público na capital, Cartum,
segundo uma jornalista que foi presa junto com o grupo. A pena por vestir-se de forma
“indecente” é de 40 chicotadas.
Acusadas do crime de ofensa à ordem moral
e pública, dez das 13 mulheres detidas declararam serem culpadas e submeteram-se à
pena de dez chicotadas, executada no momento. Outras optaram por não aceitar a pena
sem antes falar com os seus advogados.
Na capital, vivem numerosos cristãos
e animistas provenientes do sul, para os quais a lei corânica ‘xariá’ não se aplica,
mesmo que estejam presentes em territórios de maioria islâmica. Em síntese, sudaneses
que não são muçulmanos não são obrigados a seguir a lei islâmica.
Uma das mulheres,
jornalista renomada no país, contou que um grupo de entre 20 e 30 policiais entrou
de repente em um dos restaurantes mais populares de Cartum e escolheu apenas moças
que usavam calças.
A polícia as levou para a delegacia, onde libertaram aquelas
que usavam calças mais largas e blusas longas. Na delegacia, segundo a jornalista,
havia outras jovens do sul do país, aguardando julgamento; eram cristãs e três delas
tinham menos de 18 anos.
Lubna Ahmed al-Hussein é conhecida por suas críticas
ao governo do país. Ela revelou à BBC que contratou um advogado e mandou imprimir
centenas de convites para seu julgamento, pois quer mostrar ao povo sudanês o que
acontece com as mulheres.
A lei islâmica foi introduzida pelo ex-presidente
Jaffar Al Numeri há cerca de 30 anos e, desde então, é motivo de polêmica no país,
principalmente no sul, de maioria cristã. (CM)