Cidade do Vaticano, 08 jul (RV) - Um total de 296 encíclicas foram publicadas
pela Igreja Católica no curso dos últimos dois séculos, algumas das quais marcaram
a história da humanidade como a "Rerum novarum", de Leão XIII (1891), na qual foram
denunciadas as condições desumanas de trabalho da classe operária.
Para entender
o impacto político e a importância dessa encíclica, é preciso levar em conta o momento
histórico do pontificado de Leão XIII que assumiu a cátedra de Pedro em plena revolução
industrial, a grande transformadora das relações de trabalho no mundo.
Diante
da terrível exploração trabalhista dos operários no final do século XIX, a Igreja
Católica se viu obrigada a responder com um documento, no qual explicava como era
a situação operária, defendendo a justiça social e os trabalhadores.
A solução
proposta, chamada de Carta Magna do Trabalho, teve uma grande influência, já que envolvia
o Estado, a Igreja, o trabalhador e o empresário, para que trabalhassem juntos.
"É
desumano abusar dos homens, como se fossem coisas, para tirar proveito deles" − afirmava
o texto.
A primeira encíclica da história foi assinada por Bento XIV, em 1740.
Apenas eleito como sucessor de Pedro, ele publicou a "Urbi primum" sobre a função
dos bispos.
As encíclicas − corpo doutrinário que define a posição da Igreja
atólica sobre assuntos-chave − nascem como "cartas circulares" do Papa dirigidas a
todos os bispos e fiéis, sobre argumentos muito diversos, e sua versão oficial é sempre
em latim.
Muitas encíclicas serviram para denunciar erros e condenar tendências
e movimentos, como o ateísmo, a maçonaria e o modernismo.
Quase todos os pontífices
da era moderna escreveram várias encíclicas, entre eles Leão XIII (1878-1903), que
escreveu 86. Em seguida vieram Pio XII (1939-1958) com 41, Pio IX (1846-1878), com
38, e Pio XI (1922-1939), com 32.
Pio X (1903-1914) assinou 16, Bento XIV (1740-1758)
escreveu 13, Bento XV (1914-1922) redigiu 12, João XXIII (1958-1963) foi autor de
8 encíclicas e Paulo VI (1963-1978) publicou 7.
O falecido João Paulo II escreveu
apenas 14 encíclicas de 1978 a 2005, entre elas "Redemptor Hominis", de 1979, sobre
o Cristo Redentor e a dignidade do homem, consagrada à defesa dos direitos humanos.
Entre
as encíclicas memoráveis figuram a "Pacem en Terris" (Paz na Terra) de João XXIII,
escrita em 1963, que convidada à paz entre todas as nações e condenava a corrida armamentista,
no momento em que imperava a chamada Guerra Fria."É impossível pensar que, na era
atômica, a guerra possa ser utilizada como instrumento de justiça" − afirma João XXIII
no texto da "Pacem in terris".
Outra encíclica de teor social foi a de Paulo
VI "Populorum Progressio", publicada em 1967, sobre o "progresso dos povos", na qual
a Igreja reconhecia que apenas com o desenvolvimento social se pode alcançar a paz
entre os povos. Paulo VI escreveu também a "Evangelium Nuntiandi", de 1975 (sua última
encíclica) sobre a evangelização nos tempos atuais.
A terceira encíclica de
Bento XVI se entrelaça com a "Populorum Progressio" (1967) de Paulo VI e com a "Centesimus
Annus" (1991) de João Paulo II, a fim de examinar a globalização.
Nela, o papa
pede ao mundo, no início do terceiro milênio, que se governe a globalização com ética
e se crie uma nova e verdadeira autoridade política mundial baseada na solidaridade
e na caridade. (AF)