Caritas in veritate, um documento social profundamente teológico
(7/7/2009) Caritas in veritate é um documento social, a primeira encíclica
sobre a situação do mundo na época da globalização. Mas é também um documento profundamente
teológico. Os últimos decénios tornaram-se testemunhas da ruptura de continuidade
da mensagem cultural. A linguagem cristã para muitos deixou de ser um portador evidente
de conteúdos que trata seriamente. Pelo contrario esta encíclica contém uma síntese
dos pensamentos do Papa e das experiencias da Igreja, uma síntese que é verdadeiramente
universal e reflecte sobre situações muito diferentes, crescidas em contextos muitas
vezes contrastantes dos respectivos países, continentes, nações; reflecte sobre as
condições dos mecanismos económicos e da força, mas também das dificuldades e fraquezas,
das organizações internacionais no período da globalização. A nova encíclica é
um elemento, uma força, não só para superar a crise, mas para seguir em frente no
caminho do desenvolvimento para o bem de cada um e de todos. Mas é também um desafio.
Assinada a 29 de Junho de 2009 a encíclica tem como titulo “O amor na verdade” e já
na introdução o Papa afirma que “a caridade na verdade”, da qual Jesus Cristo que
fez testemunha com a sua vida terra e sobretudo com a sua morte e ressurreição, “é
a principal força propulsiva para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da
humanidade inteira” Ela dá verdadeira substancia á relação pessoal com Deus e com
o próximo; é o principio não só das micro - relações: relações amistosas, familiares,
de pequeno grupo, mas também das macro - relações: relações sociais, económicas, politicas. A
carta do Santo Padre aos participantes do G8 está fundada no facto de que a encíclica
contém uma análise coerente dos mecanismos sócio –económicos , culturais e políticos
do mundo da época da globalização e procura inspirar as mudanças muito profundas a
nível internacional, encoraja a reflectir sobre a urgente necessidade de uma nova
autoridade politica mundial e de uma profunda e eficaz reforma da ONU. Exorta a reflectir
também sobre o repensamento do papel dos mass media na época da globalização e sobre
as novas possibilidades tecnológicas. É claro que os grande grupos de interesse
desejariam conservar o seu status quo para continuar a armazenar grandes lucros á
custa da maioria da população mundial. Por isso não lhes será fácil aceitar este
documento que exige a coragem de empreender acções concretas sobre os problemas novos
sublinhados por Bento XVI. Na encíclica , encontra-se uma ampla lista. Só um exemplo:
João Paulo II na Centesimus annus, sublinhou a necessidade de um sistema com
três sujeitos isto é, o mercado, o Estado e a sociedade civil. “Ma época da globalização,
deve - se modificar a maneira de assegurar uma forma concreta e profunda de democracia
económica. A solidariedade - sentir-se todos responsáveis de todos – não pode ser
delegada apenas ao Estado. O problema crucial será a capacidade de compreender
de maneira responsável a voz do Papa e da Igreja sobre o papel da dignidade da pessoa
humana. De cada um e de todos. E de afirmar que a questão social se tornou radical
mente questão antropológica, no sentido que ela implica a própria maneira não só
de conceber, mas também de manipular a vida, cada vez mais colocada pelas biotecnologias
nas mãos do homem. As biotecnologias, mas também o mercado, também o lugar e as regras
das grandes empresas internacionais; o significado da cultura das populações e das
nações. Muito depende da frescura intelectual necessária para avaliar os comportamentos
culturais, o papel do estado na época da globalização, da educação, do fenómeno das
migrações, sobre a transformação do trabalho e do desemprego e as consequências que
produz nas pessoas dos trabalhadores, das famílias, da vida da sociedade civil como
tal. O testo fala muito da nova situação do mundo sindical, da arquitectura económica
e financeira internacional. Mas o fundamento de qualquer avaliação é a abertura ao
Absoluto. Como salienta Bento XVI na conclusão da sua encíclica, “só um humanismo
aberto ao Absoluto pode guiar-nos na promoção e realização de formas de vida social
e civil — no âmbito das estruturas, das instituições, da cultura, do ethos — preservando-nos
do risco de cairmos prisioneiros das modas do momento. É a consciência do Amor indestrutível
de Deus que nos sustenta no fadigoso e exaltante compromisso a favor da justiça, do
desenvolvimento dos povos, por entre êxitos e fracassos, na busca incessante de ordenamentos
rectos para as realidades humanas. O amor de Deus chama-nos a sair daquilo que é limitado
e não definitivo, dá-nos coragem de agir continuando a procurar o bem de todos, ainda
que não se realize imediatamente e aquilo que conseguimos actuar — nós e as autoridades
políticas e os operadores económicos — seja sempre menos de quanto anelamos. Deus
dá-nos a força de lutar e sofrer por amor do bem comum, porque Ele é o nosso Tudo,
a nossa esperança maior “.