2009-07-06 12:39:12

RUMO À ENCÍCLICA, PARTE II


Cidade do Vaticano, 06 jul (RV) - A semana que começa hoje será particularmente intensa para Bento XVI. Na agenda, a publicação, amanhã, da encíclica social Caritas in Veritate, e no dia 10, à tarde, a audiência com o novo presidente norte-americano, Barack Obama, logo após o fim do G-8. Dois eventos paralelos, com preocupações comuns: a crise econômica dos mercados financeiros, suas dramáticas conseqüências e implicações éticas para as economias dos países pobres e ricos.

É a primeira vez que a agenda de um G-8 se "enlaça" com a publicação de uma encíclica papal, como está para ocorrer com a Caritas in Veritate e o G-8 de L’Aquila.

A coincidência é significativa: a crise econômica pressiona cada vez mais os pobres, aumentando as disparidades entre norte e sul do planeta, e os governos parecem ter cada vez mais dificuldade em encontrar soluções realmente justas e eficazes.

A encíclica dará voz aos países mais pobres, excluídos do G-8, pretendendo medidas anticrise que vislumbrem quem mais paga as conseqüências e pouco contribuiu para causá-la. E deve alertar os "oito grandes" para o fato que desta crise – acredita o papa – ou saímos todos, ou não sai ninguém.

A expectativa pelo documento aumenta a cada hora. Entre antecipações e especulações, o certo é que deve ilustrar novos horizontes sobre o pensamento do papa, que ele mesmo reafirma, quando tem oportunidade. Ao abrir, em outubro passado, o Sínodo dos bispos, Bento XVI despertou a atenção ao citar a falência dos grandes bancos e condenar a idolatria do dinheiro. Com o tempo, seus pronunciamentos sobre economia e doutrina social foram sempre mais específicos e pontuais.

A manutenção das ajudas ao desenvolvimento e a firme intenção de erradicar a pobreza extrema são as maiores exigências de Bento XVI. Em sua carta ao premiê italiano, Silvio Berlusconi, em vista do G-8, o papa pede "trabalho para todos", para que possamos defender nossa dignidade, manter nossas famílias e participar da vida social de nossos países. E exige que as medidas anticrise, que estarão no centro do debate, sejam adotadas segundo um critério "ético".

Suas indicações sugerem medidas práticas imediatas, voltadas à proposta de um modelo econômico global para o futuro, que Bento XVI imagina não "estatalista" e muito menos confiado a um capitalismo individualista.

A Caritas in veritate chega após 120 anos da primeira encíclica com temas sociais: a Rerum Novarum, de 1891, de Leão XIII. Desde o advento da modernidade e das transformações geradas pela revolução industrial, a Igreja vem analisando temas abrangentes da economia e das mudanças sociais.

Nos últimos dias, Bento XVI recordou que o caminho da doutrina social da Igreja tem mais de um século: o pensamento social começou a ser formalizado sob forma de encíclica com Leão XIII, mas os capítulos sucessivos foram muitos: a Quadragesimo Anno, de 1931, escrita por Pio XI; a Mater et Magistra, de 1961 de João XXIII, seguidas pela Popolorum Progressio, de Paulo VI, em 1967, e a Centesimus annus, de 1991.

Todavia, a Humanae Vitae (1968) também pode ser incluída no rol das encíclicas "sociais", por colocar a questão da centralidade da vida nas relações humanas, mas, sobretudo, por tratar o grande problema do crescimento e controle demográfico.

Uma constante em todos estes documentos é o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, e dotado, por natureza, de dignidade específica. Daí derivam os seus diretos.

A crescente independência de povos e nações, começou a impor uma visão mais global dos problemas, que surgiu com a Mater et Magistra e prosseguiu na Populorum progressio, de Paulo VI.

Em todas as encíclicas sociais de João Paulo II, a dimensão universal, ou seja, a interdependência entre desenvolvimento e solidariedade, foi contemplada.

Recordamos que o magistério de João Paulo II se deu durante o conflito (até 1989) de dois modelos socioeconômicos: o capitalismo e o socialismo, situação que foi pano de fundo histórico para a Sollicitudo Rei Socialis (1987). Depois da queda do muro de Berlim, foi a vez da Centesimus Annus, de 1991, com a qual papa Wojtyla começou a enfrentar os nós da globalização.

Hoje, 18 anos depois, papa Ratzinger desenvolve sua reflexão a partir de aspectos e implicações técnicas e teológicas totalmente inéditas. (CM)







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