Aguardando a Caritas in veritate: as antecipações da Encíclica nas palavras
do Papa. Uma reflexão sobre o desenvolvimento integral e não um “resposta” á crise
(6/7/2009) Um contributo ético da Igreja á humanidade Substancialmente
è desde há pelo menos três meses que a imprensa internacional segue coo um interesse
particular, muitas vezes com não poucas elucubrações mediáticas a aproximação do
momento da publicação da terceira encíclica de Bento XVI Caritas in veritate. Agora
que estamos na véspera da publicação vamos recordar aqui algumas das vezes que o próprio
Papa a ela se referiu. A 29 de Junho passado, festa de São Pedro e São Paulo, depois
da recitação do Angelus Bento XVI confiou este seu documento á oração dos fiéis definindo
- o um ulterior contributo que a Igreja oferece á humanidade no seu empenho a favor
de um progresso sustentado, no pleno respeito da dignidade humana e das exigências
reais de todos. Além disso o Papa explicando o conteúdo principal da sua encíclica
observou que nela retoma as temáticas sociais contidas na Populorum progressio,
escrita pelo Servo de Deus Paulo VI em 1967, e deseja aprofundar alguns aspectos
do desenvolvimento integral na nossa época, á luz da caridade na verdade. A
ética não está fora da economia A 17 de Março no encontro com os jornalistas
no avião que o levava aos Camarões e mais tarde a Angola, á pergunta do colega dos
Estados Unidos John Thavis, o Santo Padre precisava o seu pensamento sobre o documento
que estava a elaborar. “Todos sabemos que um elemento fundamental da crise é precisamente
um deficit de ética nas estruturas económicas ; percebeu-se que a ética não é algo
que está fora da economia, mas sim dentro, e que a economia não funciona se não traz
em si o elemento ético . Portanto, falando de Deus e falando dos grandes valores espirituais
que constituem a vida cristã, procurarei dar um contributo próprio também para superar
esta crise, para renovar o sistema económico a partir de dentro, onde s encontra o
ponto da verdadeira crise
Bento XVI na sua resposta recorda que a Igreja não
tem para oferecer nem programas políticos nem económicos, coisas que estão fora da
sua missão e nas quais não possui competências , mas sim um programa religioso, de
fé, de moral, e salienta, “mas precisamente este é também um contributo essencial
para o problema da crise económica que vivemos neste momento. As crises oferecem
pontos de reflexão São reflexões e tomadas de posição suficientes para evitar
qualquer óptica redutora ou desviante que possa levar a juízos insustentáveis, porque
fora do objectivo e da natureza do documento pontifício. O Santo Padre, sempre na
resposta ao jornalista americano quis ser ainda mais pontual e portanto acrescentou:”E naturalmente farei apelo á solidariedade internacional: a Igreja é católica,
isto é universal, aberta a todas as culturas, a todos os continentes; está presente
em todos os sistemas políticos e assim a solidariedade é um principio interno, fundamental
para o catolicismo. Naturalmente desejaria dirigir um apelo antes de mais á solidariedade
católica, estendendo-a também á solidariedade de todos aqueles que vêm a sua responsabilidade
na sociedade humana de hoje. Obviamente falarei disto também na Enciclica: este è
um dos motivos do seu atraso. Estávamos já quase para o publicar quando se desencadeou
esta crise e retomámos o testo para responder mais adequadamente, no âmbito das nossas
competências , no âmbito da Doutrina social da Igreja, mas com referencia aos elementos
reais da crise actual. Assim espero que a Encíclica possa ser também um elemento,
uma força para superar a difícil situação presente”. A este ponto é claro o que
devemos esperar desta terceira encíclica de Bento XVI: uma ampla e aprofundada reflexão
do magistério pontifício em continuidade com os ensinamentos dos seus predecessores,
inteiramente centrada no contributo que a Doutrina social da Igreja oferece á grande
questão do desenvolvimento humano, integral e sustentável partindo do seu elemento
inovador de muitas situações negativas que se vieram a criar com a deflagração de
varias crises: financeira, climática, alimentar. O Papel profético da Igreja
è um dever A 22 de Fevereiro passado, durante o terceiro encontro com o clero
de Roma, á pergunta do PadreGiampiero Ialongo que dizia ao Santo Padre:
Deveríamos ter a coragem de denunciar um sistema económico e financeiro injusto nas
suas raízes, o Papa respondeu“Agora esta questão que toca o nervo dos
problemas do nosso tempo. Eu distinguiria entre dois níveis. O primeiro é o nível
da macroeconomia, que depois de realiza e vai até ao último cidadão, o qual sente
as consequências de uma construção errada. Naturalmente, denunciar isto é um dever
da Igreja. Como sabeis, há muito tempo que preparamos uma Encíclica sobre estes pontos.
E no longo caminho vejo como é difícil falar com competência, porque se não for enfrentada
com competência uma determinada realidade económica não pode ser credível. E, por
outro lado, é preciso falar também com uma grande consciência ética, digamos criada
e despertada por uma consciência formada pelo Evangelho. Portanto é preciso denunciar
estes erros fundamentais que agora são evidenciados pela queda dos grandes bancos
americanos, os erros na base. No final, é a avareza humana como pecado ou, como diz
a Carta aos Colossenses, avareza como idolatria. Devemos denunciar esta idolatria
que vai contra o verdadeiro Deus e a falsificação da imagem de Deus com outro deus
"dinheiro". Devemos fazê-lo com coragem mas também concretamente. Pois os grandes
moralismos não ajudam se não forem substanciados com conhecimentos da realidade, que
ajudam também a compreender o que se pode fazer concretamente para mudar pouco a pouco
a situação. E, naturalmente, para o poder fazer são necessários o conhecimento desta
verdade e a boa vontade de todos. Para além das denuncias é necessário
mostrar os caminhos de saída Depois Bento XVI acrescentou na sua resposta:
“ Por isso é necessária, diria, a denúncia razoável e raciocinada dos erros,
não com grandes moralismos, mas com razões concretas que se tornem compreensíveis
no mundo da economia de hoje. A denúncia disto é importante, é um mandato para a Igreja
desde sempre. Sabemos que na nova situação que se veio a criar com o mundo industrial,
a doutrina social da Igreja, começando por Leão XIII, procura fazer estas denúncias
e não as denúncias, que não são suficientes mas também mostrar os caminhos difíceis
nos quais, passo a passo, se exige o consentimento da razão e da vontade, juntamente
com a correcção da minha consciência, à vontade de renunciar num certo sentido a mim
mesmo para poder colaborar no que é a verdadeira finalidade da vida humana, da humanidade.
Sem homens justos não existe nem justiça nem estruturas justas Sobre
o segundo nível do problema o Papa explica: O outro é o sermos realistas. E ver
que estas grandes finalidades da macrociência não se realizam na microciência a macro-economia
na micro-economia sem a conversão dos corações. Se não existem os justos, também não
existe a justiça. Devemos aceitar isto. Portanto a educação para a justiça é uma finalidade
prioritária, poderíamos dizer que é a prioridade. Porque São Paulo diz que a justificação
é o efeito da obra de Cristo, não é um conceito abstracto, relativo a pecados que
hoje não nos interessam, mas refere-se precisamente à justiça integral. Só Deus no-la
pode dar, mas no-la concede com a nossa cooperação a diversos níveis, a todos os níveis
possíveis. Não se pode criar no mundo a justiça apenas com modelos económicos bons,
que são necessários. A justiça só se realiza se existem os justos. E os justos não
existem se não há o trabalho humilde, quotidiano, de converter os corações. E de criar
justiça nos corações. Só assim se expande também a justiça correctiva. Por isso o
trabalho do pároco é muito fundamental não só para a paróquia, mas para a humanidade.
Porque se não houver justos, como disse, a justiça permanece abstracta. E as estruturas
boas não se realizam se se opõe o egoísmo também de pessoas competentes.