A força do amor de Cristo move o mundo, e é capaz de transformar e renovar as criaturas.
Bento XVI na homilia da Missa celebrada este Domingo em San Giovanni Rotondo
(21/6/2009) Bento XVI visita este Domingo a localidade de San Giovanni Rotondo, no
Sul da Itália, onde se encontra sepultado o S. Pio de Pietrelcina. A segunda visita
de um Papa ao local reuniu cerca de 50 mil pessoas. Milhares de pessoas têm passado
por ali desde Abril deste ano, altura em que se iniciou a exibição dos restos mortais
do Padre Pio, canonizado em 2002 por João Paulo II. A iniciativa assinala o 40.º aniversário
da morte do Santo. O corpo do Padre Pio permanece em exposição até Setembro, com
o rosto coberto por uma máscara de silicone. Espera-se a passagem de quase 750 mil
peregrinos de todo o mundo durante este período de veneração das relíquias do Santo
de Pietrelcina. Bento XVI partira de avião de Roma em direcção a Foggia e dali
de automóvel para San Giovanni Rotondo. O Papa visitou, em privado, o Santuário
de Santa Maria das Graças, onde ficou, por momentos, em oração para venerar os restos
mortais de São Pio de Pietrelcina, que repousam na Cripta. O encontro com os fiéis
teve lugar no adro da igreja dedicada ao Santo Capuchinho, onde o Papa presidiu à
eucaristia. Para o Padre Pio, a Eucaristia “constituiu o centro de toda a sua existência:
a origem da sua vocação, a força do seu testemunho, a consagração do seu sacrifício”
– sublinhou Bento XVI logo no princípio da homilia da Missa. Comentando o Evangelho
da tempestade no lago, o Papa recordou que “na Bíblia o mar era considerado um elemento
ameaçador, caótico, potencialmente destrutivo, que só Deus, o Criador, pode dominar,
governar e silenciar”.
“Há porém uma outra força – uma força positiva – que
move o mundo, capaz de transformar e renovar as criaturas: a força do amor de Cristo,
como a chama São Paulo na II Carta aos Coríntios: não uma força cósmica, essencialmente,
mas sim divina, transcendente”.
“O amor de Cristo (fez notar o Papa) age também
sobre o cosmos, mas em si mesmo é um poder “outro”, e esta sua alteridade transcendente,
o Senhor a manifestou na sua Páscoa, na santidade da via por Ele escolhida
para nos libertar do domínio do mal”.
“O solene gesto de acalmar o mar tempestuoso
é claramente sinal do domínio de Cristo sobre as potências negativas e leva-nos a
pensar na sua divindade”. A fé dos discípulos “ainda não é uma fé sólida, está em
formação; é um misto de medo e de confiança; pelo contrário, é total e puro o abandono
confiante de Jesus ao Pai”. É por isso que Ele dorme durante a tempestade, “completamente
seguro nos braços de Deus”. Contudo, “virá o momento em que também Jesus experimentará
medo e angústia”
“quando vier a sua hora, sentirá sobre si todo o peso dos
pecados da humanidade, como uma vaga que está para se abater sobre Si. Essa sim, será
uma terrível tempestade, não cósmica, mas espiritual. Será o último, extremo assalto
do mal contra o Filho de Deus”.
Mesmo “nessa hora, Jesus não duvidou do poder
de Deus Pai e da sua proximidade, embora tenha tido que experimentar plenamente a
distância que separa o ódio - do amor, a mentira – da verdade, o pecado – da graça.
Jesus experimentou em si mesmo, de maneira dilacerante, este drama, especialmente
no Getsémani, antes de ser preso, e depois durante toda a paixão, até à morte na cruz”.
“Alguns Santos viveram intensa e pessoalmente esta experiência de Jesus.
Padre Pio da Pietrelcina é um desses. Homem simples, de ascendência humilde, arrebatado
por Cristo (como de si próprio escreve o apóstolo Paulo) para dele fazer uma instrumento
eleito do perene poder da sua Cruz: poder de amor pelas almas, de perdão e de reconciliação,
de paternidade espiritual, de solidariedade concreta com os que sofrem. Os estigmas,
que o marcaram no corpo, uniram-no intimamente ao Crucificado-Ressuscitado”.
O
que (advertiu o Papa) não significou perda de personalidade: “Deus nunca anula o que
é humano, transforma-o com o seu Espírito e orienta-o ao serviço do seu desígnio de
salvação”.
“Como aconteceu com Jesus, a verdadeira luta, o combate radical
de Padre Pio não foram contra inimigos terrenos, mas sim contra o espírito do mal.
As maiores tempestades que o ameaçavam eram os assaltos do diabo, dos quais
se defendeu com a armadura de Deus, com o escudo da fé e com a espada
do Espírito, que é a palavra de Deus”.
Como disse Paulo VI, Padre Pio
“era um homem de oração e de sofrimento”. Antes de mais a oração.
“Como todos
os grandes homens de Deus, Padre Pio tinha-se tornado ele mesmo oração, alma e corpo.
Os seus dias eram um rosário vivo, isto é, uma contínua meditação e assimilação dos
mistérios de Cristo, em união espiritual com a Virgem Maria. Assim se explica a singular
com-presença, nele, de dons sobrenaturais e de humanidade bem concreta. E tudo culminava
na celebração da santa Missa: era ali que ele se unia plenamente ao Senhor morto e
ressuscitado”.
Da oração, como fonte viva, jorrava a caridade – prosseguiu
o Papa. “O amor que (Padre Pio) levava no coração e transmitia aos outros era pleno
de ternura, sempre atento às situações reais das pessoas e das famílias. Especialmente
para com os doentes e sofredores, ele nutria a predilecção do Coração de Cristo, e
foi precisamente daí que teve origem e forma o projecto de uma grande obra dedicada
a “aliviar o sofrimento”. O ponto de partida, “a fonte inspiradora” desta instituição
– sublinhou Bento XVI – foi, é “a caridade evangélica, por sua vez animada pela oração”.
Daqui uma advertência contra “os riscos do activismo e da secularização”:
“Muitos
de vós, religiosos, religiosas e leigos, estais de tal modo apanhados pelas mil tarefas
requeridas pelo serviço aos peregrinos, ou aos doentes do hospital, que correis o
risco de descurar o que é verdadeiramente necessário: escutar Cristo para realizar
a vontade de Deus”.
O Santo Padre exortou religiosos e fiéis a recordar sempre
o exemplo e os sofrimentos de Padre Pio, a invocarem a sua intercessão, para obterem
do Senhor “luz e força para prosseguirem a sua mesma missão embebida de amor a Deus
e de caridade fraterna”.