Missa e procissão do Corpo de Deus: Papa recorda aos fiéis a missão de serem "a alma"
da Cidade e evoca o Cura d'Ars, modelo de "verdadeira devoção eucarística"
Bento XVI presidiu quinta-feira às celebrações do Corpo de Deus, com a procissão,
ao cair da noite, da basílica de São João de Latrão até à de Santa Maria Maior, diante
da qual deu a bênção do Santíssimo. Na homilia da Missa celebrada às 19 horas no adro
de São João de Latrão, Bento XVI evocou o mistério eucarístico, recordando aos fiéis
a missão de serem "a alma" da Cidade. Aos padres o Papa recordou a figura do Cura
d'Ars, modelo de oração e adoração. O Santo Padre comentou naturalmente as leituras
da Missa, detendo-se especialmente na segunda, da Carta aos Hebreus, onde o autor
declara que Jesus é “mediador de uma nova aliança”. “Na cruz, Jesus é ao mesmo tempo
vítima e sacerdote: vítima digna de Deus – sem mancha, e sumo sacerdote que se oferece
a si mesmo, sob o impulso do Espírito Santo, e intercede por toda a humanidade. “A
Cruz é, portanto, mistério de amor e de salvação, que nos purifica a consciência das
obras mortas, ou seja dos pecados, e nos santifica, esculpindo no nosso coração
a nova aliança. Renovando o sacrifício da Cruz, a Eucaristia torna-nos capazes de
viver fielmente a comunhão com Deus”.
“Como o povo eleito reunido na assembleia
do Sinai, também nós queremos esta tarde reafirmar a nossa fidelidade ao Senhor” –
prosseguiu o Papa, que sublinhou “a importância de permanecer, como Igreja, à escuta
da Palavra de Deus”, nomeadamente com a prática da Lectio divina (“leitura
meditativa, adorante, da Bíblia” - disse). Palavra e Eucaristia alimentam continuamente
a comunidade cristã, o Povo de Deus. “A nossa comunidade, caracterizada por uma
pluralidade de culturas e de experiências diversas, Deus a plasma como seu
povo, como o único Corpo de Cristo, graças à nossa sincera participação na dupla mesa
da Palavra e da Eucaristia. Nutridos de Cristo, nós, seus discípulos, recebemos a
missão de ser a alma desta nossa cidade, fermento de renovação, pão repartido
por todos, sobretudo a favor daqueles que se encontram em situações de mal-estar,
pobreza e sofrimentos físico e espiritual. Tornemo-nos testemunhas do seu amor”.
Dirigindo-se
especialmente aos padres, o Papa recordou-lhes que só da união com Jesus pode brotar
“aquela fecundidade espiritual que gera esperança”. “Em cada dia, recebemos do Corpo
e do Sangue do Senhor aquele amor livre e puro que nos torna ministro de Cristo e
testemunhas da sua alegria” – assegurou Bento XVI. “É isto o que os fiéis esperam
do sacerdote: o exemplo de uma autêntica devoção à Eucaristia. Gostam de o ver passar
longas pausas de silêncio e de adoração diante de Jesus, como fazia o santo Cura d’Ars,
que recordaremos de modo particular durante o Ano Sacerdotal, já iminente”. Citando
S. João Maria Vianney, que dizia aos seus paroquianos “Vinde à comunhão… É verdade
que não sois dignos, mas tendes necessidade”, Bento XVI convidou a renovar a fé na
presença real de Cristo na Eucaristia, conscientes de que, se somos de facto inadequados,
pelos nossos pecados, a verdade é que precisamos de nos alimentar do amor que o Senhor
nos oferece no sacramento eucarístico. “Existe hoje, mesmo no interior da Igreja,
o risco de uma sub-reptícia secularização, que se pode traduzir num culto eucarístico
formal e vazio, em celebrações privadas daquela participação que se exprime em veneração
e respeito pela liturgia. É sempre forte a tentação de reduzir a oração a momentos
superficiais e apressados, deixando-se dominar pelas actividades e preocupações terrenas”. Bento
XVI concluiu dirigindo-se a Jesus, em jeito de oração, pedindo-lhe para libertar este
mundo “do veneno do mal, da violência e do ódio”, purificando-o com a potência do
Seu amor misericordioso. A Maria, “mulher eucarística em toda a sua vida”,
o Papa pediu que nos “ajude a caminharmos unidos para a meta celeste, alimentados
do Corpo e Sangue de Cristo”.