TRINTA ANOS ATRÁS, O MEMORÁVEL RETORNO DE KAROL WOJTYLA À SUA PÁTRIA COMO SUCESSOR
DE PEDRO
Cidade do Vaticano, 10 jun (RV) - Durante oito dias, de 2 a 10 de junho de
1979, a Polônia viveu um momento inesquecível. Os milhões de católicos que viviam
no país oprimidos pelo regime comunista de então receberam a visita de um compatriota
que – após durante anos ter enfrentado com firmeza as arbitrariedades do totalitarismo
– voltava agora à sua pátria com a veste branca de Pastor universal da Igreja.
Passados
trinta anos, permanecem indeléveis na memória aquela primeira viagem de João Paulo
II à sua pátria e o seu "Não tenham medo" que mudou para sempre a história do bloco
do Leste Europeu.
O diretor de programas da Rádio Vaticano, o jesuíta polonês
Pe. Andrzej Koprowski, recorda os sentimentos e os efeitos daquela viagem apostólica:
Pe.
Andrzej Koprowski:- "A primeira peregrinação de João Paulo II na Polônia teve
um significado especial. Não foi apenas um retorno do papa polonês à sua pátria, mas
uma viagem apostólica do Sucessor de Pedro para além da Cortina de ferro, a um país
do bloco soviético. Foi uma ocasião para compreender melhor aquilo que era específico
do pontificado, o modo de ver juntos a mensagem teológica inserida na realidade cultural
e social das pessoas e da sociedade civil."
P. Quais foram os temas que
o jovem papa polonês abordou naquele seu primeiro e memorável retorno à pátria como
Sucessor de Pedro?
Pe. Andrzej Koprowski:- "Durante a primeira viagem
à Polônia João Paulo II abordou todos os fundamentos teológicos como base não só da
vida pessoal, mas também comunitária, social, cultural, para organizar a vida pública,
econômica e política. A visita se realizou num clima extraordinário, mas também repleto
de tensões políticas, sobretudo durante os encontros com o mundo do trabalho em Jasna
Góra e em Nowa Huta. "O cristianismo e a Igreja – disse o Papa Wojtyla – não têm medo
do mundo do trabalho, não têm medo do sistema baseado no trabalho. O papa não tem
medo dos homens do trabalho." Através da própria experiência de trabalho, ouso dizer
– continua Pe. Koprowski – que o papa aprendeu novamente o Evangelho. Deu-se conta
e estava convencido de quão profundamente o problema contemporâneo do trabalho humano
está presente no Evangelho. E tinha a convicção de que sem o Evangelho é impossível
resolvê-lo."
P. As recordações daquela viagem fazem sempre lembrar as reações
de preocupação dos líderes comunistas de Varsóvia diante daquele filho da Polônia
que se tornara chefe universal da Igreja...
Pe. Andrzej Koprowski:-
"O regime, o governo e os chefes do partido tiveram medo da viagem. Temiam que a visita
do papa provocasse manifestações e desordens. Na realidade foram dias repletos de
alegria e de serenidade. Pela primeira vez, depois de décadas, o povo – fiel e não-fiel
– se encontrou junto, em comunhão e livre. Redescobriu a sua dignidade. Não foi algo
contra o regime. Simplesmente, o regime desapareceu da perspectiva. Como a sujeira
do pára-brisa de um veículo tirada pelo seu limpador."
P. A visita de João
Paulo II à Polônia produziu a primeira centelha daquela profunda mudança que caracterizou
todo o Leste Europeu nos dez anos seguintes. Como o senhor avalia aquele fenômeno?
Pe.
Andrzej Koprowski:- "De fato, o processo de amadurecimento não disse respeito
somente à Polônia. O renascimento da Igreja nos diversos países do Leste Europeu,
as mudanças de mentalidade e de situação política que levaram à queda do Muro de Berlim,
o processo de alargamento da União Européia com todas as suas dificuldades e fraquezas
– das quais tivemos uma clara expressão nestes dias com a escassa participação dos
eleitores nas eleições – caracterizam as etapas de um caminho que tem as suas raízes
naquela viagem pastoral." (RL)