Que a solicitude internacional para com os países mais pobres suscite ajudas concretas,
especialmente para os aliviar do peso opressor da dívida externa. Intenção Geral
do Papa para o mês de Junho
(3/6/2009) Há temas que, de tão falados e nunca resolvidos, acabam por cansar. Este
parece ser um deles – quanto mais se fala de «ajudas ao desenvolvimento», mais se
fica com a sensação de que certos países ou regiões do globo ficaram definitivamente
para trás. Importa, por isso, lembrar como é recente esta convicção de que os países
mais ricos e economicamente desenvolvidos devem ajudar os mais pobres: tem, talvez,
uns cinquenta anos. Nestas décadas, foi ganhando, lentamente, espaço na opinião pública
e nas preocupações de políticos e governantes. Contribuiu para isso a percepção cada
vez mais clara de que, a prazo, ou as vantagens do desenvolvimento económico são partilhadas
por todos ou a miséria da maior parte acabará por arrastar consigo os restantes. Contribuiu
também a tão maltratada globalização (das comunicações e da economia), abrindo fronteiras
e tornando cada vez mais intolerável a miséria extrema em que se encontram mergulhadas
populações inteiras. E contribuíram inúmeras Organizações da sociedade civil feitas
porta-vozes do desespero de tantos povos junto dos governantes dos países ricos. Hoje,
não é mais possível ignorar as condições de vida miseráveis das nações mais pobres
– e se esta consciência não é suficiente, é absolutamente necessária para tornar possível
os passos seguintes: a ajuda concreta, capaz de promover o desenvolvimento sustentado
dos países em causa. As armadilhas da «ajuda ao desenvolvimento» Infelizmente,
em não poucos casos, a chamada «ajuda ao desenvolvimento» dos países pobres tornou-se
um instrumento de exploração económica desses países e de imposição de modelos culturais
e sociais estranhos as tradições dos povos. Infelizmente, também, muitas dessas ajudas
foram canalizadas através de governos ditatoriais e corruptos, que desbarataram a
ajuda recebida ou se assenhorearam dela, mantendo os respectivos povos na miséria.
Com o tempo, a má gestão local aliada ao egoísmo dos «países dadores» criou situações
insuportáveis, com os países pobres paralisados economicamente por dívidas impossíveis
de pagar. Tudo isto tornou evidente que o desenvolvimento dos países pobres não passa
pela injecção de dinheiro nos cofres dos governantes locais. Implica, em primeiro
lugar, exigir boa governação, respeito pelas pessoas, abertura de mercados para os
produtos dos países pobres e investimentos produtivos na economia local. Mais do que
impor modelos económicos e culturais, importa promover os modos de vida locais, permitindo
às pessoas, famílias e comunidades tornarem-se senhoras dos próprios destinos. Neste
sentido, é fundamental a criação de condições para que as populações locais possam
produzir os bens necessários a uma existência digna. Sem isso, nunca haverá desenvolvimento
económico sustentável. Menos dinheiro e mais cooperação, menos arrogância e mais respeito
pelas pessoas e culturas é a chave de uma ajuda eficaz aos países mais pobres.
Ajudas concretas Num tempo de crise económica global, torna-se mais difícil
conseguir que os governantes dos países ricos se disponham a investir grandes somas
de dinheiro em iniciativas sem retorno imediato, nem económico nem eleitoral. Esta
crise pode, no entanto, constituir uma oportunidade de sensibilizar as pessoas para
a urgência em promover formas de ajuda aos países pobres com impacto local. Certamente,
há necessidade de levar os grande credores internacionais a diminuírem o peso asfixiante
da dívida externa sobre a economia dos países mais pobres. Isso, porém, não se pode
fazer sem garantias de boa governação local e transparência na gestão dos dinheiros
que um perdão, mesmo parcial, da dívida externa acabaria por gerar nas economias dos
países devedores – sobretudo, exigindo e assegurando que tais poupanças e outras ajudas
concedidas não sirvam para financiar militarismos descabidos, terrorismos e outras
formas de violência, muitas vezes exercidas sobre as populações locais pelos próprios
governantes. Os modos concretos como tal se poderá fazer devem ser deixados aos peritos
nestes assuntos. O que não se lhes pode deixar – nem aos políticos – é a exigência
pública de procederem de modo a tornar menos penosa a situação das populações dos
países mais pobres. Ora, para estas populações, ter acesso a um poço de água potável
é muito mais importante do que ouvir falar de uma linha de crédito para vender produtos
que não conseguem produzir. ( Com Ecclesia)