DEPOIS DE JOSEF FRITZL, CASOS DE ABUSOS VÊM À TONA NA AMÉRICA LATINA
Bogotá, 30 mai (RV) - Um ano depois de se tornar público o caso de Josef Fritzl,
o austríaco que encarcerou e estuprou durante 24 anos a filha, na América Latina vieram
à tona pelo menos cinco ocorrências de abusos tão graves como esse.
A polêmica
gerada pelo caso do austríaco, que hoje cumpre prisão perpétua, parece estar ajudando
outras vítimas desse tipo de abusos, a denunciar uma realidade muitas vezes oculta
pelo medo e a vergonha.
O primeiro caso de que se soube na América Latina
após o impacto do ocorrido na Áustria foi o do colombiano Arcebio Álvarez, de 59 anos,
detido em março passado por estuprar uma de suas filhas, durante 20 anos. Da relação
entre Álvares e sua filha, que agora tem 35 anos, nasceram oito crianças.
Em
maio, o argentino Armando Lucero, de 67 anos, foi preso em Mendoza, após a denúncia
de sua filha Paola, de 35, que denunciou ter sido estuprada desde os 15 anos, sob
ameaça de morte, e que teve sete filhos dessa relação incestuosa.
Esta semana,
Manuel Jesús Valtierra Jara, de 48 anos, foi detido na localidade chilena de Colina,
depois de ter quatro meninas com uma de suas filhas, agora com 26 anos, de quem teria
abusado durante 14 anos.
Na quarta-feira passada, Giuliana Ramírez Ugarte,
de 29 anos, denunciou, no Peru, ter sofrido abusos por parte de seu pai, dos 7 aos
23 anos, tendo chegado a ficar grávida, mas perdido o filho.
Na Bolívia, ontem,
também ficou conhecido o caso de um homem de 54 anos, já em prisão preventiva, acusado
de abusar das filhas de 12 e 14 anos, assim como de sua sogra e de uma filha dela,
também de 12 anos, que supostamente é fruto de uma de suas agressões, ou seja, que
seria sua filha.
"Cerca de 85% das crianças que sofrem tais abusos são atacados
por parentes e conhecidos, com maior frequência por pais e padrastos" disse à agência
de notícias espanhola − EFE − a vereadora Gilma Jiménez, promotora de uma iniciativa
de referendo apoiada por 300 mil assinaturas, para implementar a prisão perpétua dos
pedófilos.
Segundo o Instituto de Medicina Legal do país, 74% dos 3.317 casos
de abuso sexual registrados em 2008 foram contra menores, e em 8% deles, o agressor
foi o pai da vítima. No Chile, em 15% dos casos, o estuprador é o pai da vítima −
disse à EFE − o Serviço Nacional de Menores (Sename). Em El Salvador, entre 2004 e
2007 houve 1.007 casos de abuso sexual infantil, 58% dos quais foram perpetrados por
pessoas do círculo familiar. Algumas ONGs da Nicarágua asseguram que para cada denúncia
de abusos cometidos por um pai contra uma filha, outros quatro casos permanecem no
silêncio, isto é, não são denunciados.
A Rede de Prevenção e Atendimento de
Maus-tratos e Abuso Sexual contra Crianças, Meninas e Adolescentes, da Guatemala,
assinala que o incesto é "uma prática comum" no país, e que não se costuma denunciá-la
por considerar "um assunto privado, de família".
No Brasil, a relação incestuosa
entre adultos não é considerada crime, mas a violação de menores é definida como "crime
repugnante" e é punida com até 25 anos de reclusão. (AF)