Cidade do Vaticano, 27 mai (RV) - Leia a íntegra da carta assinada pelo Cardeal-Prefeito
da Congregação para o Clero, Dom Claudio Hummes, por ocasião do Ano Sacerdotal convocado
pelo papa, que terá início em 19 de junho próximo.
Caros Sacerdotes,
O Ano Sacerdotal, anunciado por nosso amado Papa Bento XVI, para celebrar o 150º
aniversário da morte de S. João Maria Vianney, o Santo Cura D’Ars, está às portas.
O Santo Padre o abrirá a 19 de junho p.f., festa do Sagrado Coração de Jesus e Dia
Mundial de oração pela santificação dos sacerdotes. O anúncio deste ano especial teve
uma repercussão mundial positiva, especialmente entre os próprios sacerdotes. Todos
queremos empenhar-nos com determinação, profundidade e fervor, a fim de que seja um
ano amplamente celebrado em todo o mundo, nas dioceses, nas paróquias, em cada comunidade
local, com envolvimento caloroso do nosso povo católico, que sem dúvida ama seus padres
e os quer ver felizes, santos e alegres no trabalho apostólico quotidiano.
Deverá
ser um ano positivo e propositivo, em que a Igreja quer dizer antes de tudo aos sacerdotes,
mas também a todos os cristãos, à sociedade mundial, através dos meios de comunicação
global, que ela se orgulha de seus sacerdotes, os ama, os venera, os admira e reconhece
com gratidão seu trabalho pastoral e seu testemunho de vida. Realmente, os sacerdotes
são importantes não só pelo que fazem, mas também pelo que são. Ao mesmo tempo, é
verdade que alguns deles apareceram envolvidos em problemas graves e situações delituosas.
Obviamente, é preciso continuar a investigá-los, julgá-los devidamente e puni-los.
Estes casos, contudo, dizem respeito somente a uma porcentagem muito pequena do clero.
Na sua imensa maioria, os sacerdotes são pessoas muito dignas, dedicadas ao ministério,
homens de oração e de caridade pastoral, que investem toda sua vida na realização
de sua vocação e missão, muitas vezes com grandes sacrifícios pessoais, mas sempre
com amor autêntico a Jesus Cristo, à Igreja e ao povo, solidários com os pobres e
os sofridos. Por isso, a Igreja está orgulhosa de seus sacerdotes em todo o mundo.
Este ano seja também ocasião para um período de intenso aprofundamento da identidade
sacerdotal, da teologia do sacerdócio católico e do sentido extraordinário da vocação
e da missão dos sacerdotes na Igreja e na sociedade. Isso exigirá congressos de estudo,
jornadas de reflexão, exercícios espirituais específicos, conferências e semanas teológicas
em nossa faculdades eclesiásticas, pesquisas científicas e respectivas publicações.
O Santo Padre, em seu discurso de anúncio, durante a Assembléia Plenária da Congregação
para o Clero, a 16 de março p.p., disse que com este ano especial pretende-se “favorecer
esta tensão dos sacerdotes para a perfeição espiritual da qual sobretudo depende a
eficácia do seu ministério”. Por esta razão, deve ser, de modo muito especial, um
ano de oração dos sacerdotes, com eles e por eles, um ano de renovação da espiritualidade
do presbitério e de cada presbítero. A adoração eucarística pela santificação dos
sacerdotes e a maternidade espiritual de monjas, de religiosas consagradas e de leigas
referente a sacerdotes , como já proposto, tempos atrás, pela Congregação para o Clero,
poderiam ser desenvolvidas com frutos reais de santificação.
Seja um ano
em que se examinem de novo as condições concretas e a sustentação material em que
vivem nossos sacerdotes, às vezes submetidos a situações de dura pobreza.
Seja,
ao mesmo tempo, um ano de celebrações religiosas e públicas, que levem o povo, as
comunidades católicas locais, a rezar, a meditar, a festejar e a prestar uma justa
homenagem a seus sacerdotes. A festa na comunidade eclesial constitui uma expressão
muito cordial, que exprime e nutre a alegria cristã, uma alegria que brota da certeza
de que Deus nos ama e festeja conosco. Será uma oportunidade para desenvolver a comunhão
e a amizade dos sacerdotes com a comunidade que lhes foi confiada.
Muitos
outros aspectos e iniciativas poderiam ser nomeados para enriquecer o Ano Sacerdotal.
Aqui deverá entrar a justa creatividade das Igrejas locais. Por esta razão, convem
que cada Conferência Episcopal, cada diocese, cada paróquia e comunidade local estabeleçam,
quanto antes, um verdadeiro e próprio programa para este ano especial. Obviamente,
será muito importante começar o ano com um evento significativo. No próprio dia da
abertura do Ano Sacerdotal em Roma com o Santo Padre, 19 de junho, as Igrejas locais
são convidadas a participar, de algum modo, quiçá com um ato litúrgico específico
e festivo. Os que puderem vir a Roma para a abertura, venham para manifestar assim
a própria participação nesta feliz iniciativa do Papa. Deus, sem dúvida, abençoará
este empenho com grande amor. E a Santíssima Virgem Maria, Rainha do Clero, intercederá
por todos vós, caros sacerdotes!
Cardeal Dom Cláudio Hummes Arcebispo Emérito
de São Paulo Prefeito da Congregação para o Clero