Papa insiste sobre oração e acção a favor da paz, ao longo da visita a Cassino e Montecassino
Com a celebração de Vésperas, na basílica da Abadia de Montecassino, e um momento
de oração no cemitério polaco situado nas imediações, concluiu-se ontem, ao fim da
tarde, a visita que o Papa realizou à cidade de Cassino e à famosa Abadia, criada
por São Bento em meados do século VI. Cassino situa-se a uns 100 Km ao sul de Roma,
a meio caminho em direcção a Nápoles.
De manhã, Bento XVI presidiu à celebração
eucarística, na praça central da cidade, que de agora em diante passa a ser designada
com o seu nome. O Papa evocou a actual crise de desemprego e lançou um apelo às autoridades
e aos empresários. De tarde, como dizíamos, presidiu à celebração de Vésperas,
na basílica da Abadia, com a participação de Abades beneditinos, monges e monjas de
todo o mundo.
Na alocução então pronunciada, Bento XVI deteve-se precisamente
na figura de São Bento, “eminente mestre de vida monástica”, “doutor de sabedoria
espiritual no amor à oração e ao trabalho”, conduzindo os homens de todos os tempos
a procurarem a Deus e as riquezas eternas que Ele preparou”.
“Sim, Bento foi
luminoso exemplo de santidade, indicando aos monges Cristo como único grande ideal.
Foi mestre de civilização que, propondo uma visão adequada e equilibrada das exigências
divinas e das finalidades últimas do homem, teve sempre também bem presentes as necessidades
e as razões do coração, para que, no conjunto das relações sociais não se perdesse
de vista uma unidade de espírito capaz de construir e alimentar sempre a paz”.
Reconstruída
depois do “imane desastre da II Guerra mundial, a Abadia de Montecassino – observou
o Papa –- ergue-se “como uma silenciosa advertência a rejeitar toda e qualquer forma
de violência para construir a paz: nas famílias, nas comunidades, entre os povos e
na humanidade inteira”. Seguindo o caminho vivido e traçado por São Bento. “os mosteiros
tornaram-se, no decurso dos séculos, fervorosos centros de diálogo, de encontro e
de benéfica fusão entre populações diversas, unificadas pela cultura evangélica da
paz”.
“Os monges souberam ensinar, com a palavra e o exemplo, a arte da paz,
concretizando os três vínculos que Bento indica como necessários para conservar
a unidade do Espírito entre os homens: a Cruz, que é a própria lei de Cristo; o livro
– ou seja, a cultura; e o arado, que indica o trabalho, o domínio sobre a matéria
e sobre o tempo. Graças à actividade dos mosteiros, articulada no tríplice empenho
quotidiano da oração, do estudo e do trabalho, povos inteiros do continente europeu
conheceram um autêntico resgate e um benéfico desenvolvimento moral, espiritual e
cultural, educando-se ao sentido da continuidade com o passado, à acção concreta a
favor do bem comum, à abertura a Deus e à dimensão transcendente”.
O Papa
convidou a rezar “para que a Europa saiba valorizar sempre este património de princípios
e de ideais cristãos que constitui uma imensa riqueza cultural e espiritual”.
A
oração e o empenho a favor da paz foram repetidamente recordadas por Bento XVI ao
longo do dia. Especialmente tocante o último número do programa, com um momento de
recolhimento e de prece junto dos mais de mil túmulos do Cemitério polaco, situado
precisamente no sopé de Monte Cassino. Numa oração, em grande parte improvisada, o
Papa dirigiu a sua prece a “Deus, nosso Pai, fonte inexaurível de vida e de paz”,
pedindo-lhe que acolha no seu abraço misericordiosos os que caíram ou caiem vítimas
de cada uma das guerras que têm ensanguentado a terra.
“Tu que em Cristo nosso
Senhor colocaste o sinal de um sofrimento que nunca é inútil, mas sim fecundo graças
à tua força redentora. Concilia todos os que no mundo continuam a sofrer com o ódio
cego de guerras fratricidas…”
Para todos o Papa invocou “a força da esperança
sem ocaso” e “a coragem de uma acção de paz quotidiana e efectiva”.
“Dá-nos
o teu Espírito Paráclito para que os homens do nosso tempo possam compreender que
o dom da paz é muito mais precioso do que qualquer tesouro corruptível… e que todos
somos chamados a ser construtores de paz para o futuro dos teus filhos”.
Já
no final da Missa, na alocução antes do canto do Regina Coeli, na saudação em inglês,
Bento XVI rezara por todas as vítimas da II Grande Guerra, especialmente pelos milhares
de militares que caíram na zona de Cassino:
“Neste lugar, onde tantos perderam
a vida nas batalhas da II Guerra Mundial, rezo especialmente pelas almas dos que caíram,
encomendando-os à infinita misericórdia de Deus. Rezemos pelo fim das guerras que
continuam a afligir o nosso mundo”.