Deus ou os deuses, um novo livro do arcebispo Gianpaolo Crepaldi, do Conselho Pontificio "Justiça e Paz"

(22/5/2009) Foi apresentado nos dias passados na Universidade Pontifícia Gregoriana, de Roma, o novo livro do secretário do Conselho Pontifício para a Justiça e a Paz, D. Gianpaolo Crepaldi. A obra, intitulada "Deus ou os deuses", é composta de quatro partes: novos aspectos da questão antropológica; fé, razão e política; os direitos humanos hoje; o recente Magistério social da Igreja. A Rádio Vaticano entrevistou o autor pedindo-lhe antes de mais que explicasse o titulo
 
D. Gianpaolo Crepaldi:- "Extraí o título de uma homilia do Papa P Bento XVI, o qual, referindo-se á situação do mundo actual, disse que se nós excluímos Deus da nossa vida e também da nossa vida social, corremos o risco de cair nos braços dos deuses. E os deuses privam o homem da sua liberdade, da sua responsabilidade, e também da possibilidade do seu desenvolvimento. Se também na nossa vida colectiva, quando enfrentamos problemas políticos ou económicos ou de carácter social, não fazemos referência a Deus, corremos o risco de a solução desses problemas não estar à altura e não ser respeitosa da dignidade do homem, mas contra a sua dignidade, o seu desenvolvimento, os seus direitos fundamentais. Deus não é um inimigo do homem, mas uma grande oportunidade para o homem e também para o seu desenvolvimento integral e social."
 
P. Perante os problemas económicos e financeiros, que incidem sobre o mundo do trabalho, e que depois recaem no campo social, a Igreja dispõe, hoje, dos instrumentos idóneos para enfrentar essa questão?

D. Gianpaolo Crepaldi:- "A Igreja não dispõe de uma série de receitas de carácter técnico para enfrentar problemas financeiros, económicos ou de outra natureza; porém, a doutrina social da Igreja é aquela sabedoria que a Igreja colhe no Evangelho para dar um juízo de caracter moral sobre as várias situações concretas do homem. Justamente a crise económico - financeira que estamos a viver evidencia como essa doutrina social da Igreja é pertinente e oportuna."
 
P. Estamos á espera da encíclica do Papa, que deverá tratar também questões análogas a estas de que estamos a falar: a crise económica , o mundo do trabalho. Podemos dizer que também a política espera uma palavra iluminadora de outras fontes, como, por exemplo, a doutrina social da Igreja?

D. Gianpaolo Crepaldi:- "Penso que a nova encíclica social, que o Santo Padre nos prometeu, poderá ser um instrumento para fazer com que a política possa recuperar a sua função: desenhar as estruturas arquitectónicas do nosso viver social na direcção da justiça, da liberdade, da verdade e da solidariedade; aqueles quatro grandes valores que João XXIII na 'Pacem in terris' colocava como pilares de uma autêntica e verdadeira convivência humana. Creio que todos estamos á espera dessa encíclica: será uma grande oportunidade, não somente para o mundo da política, mas para todas as pessoas que, de certo modo, querem encontrar um sentido para a sua vida em comunidade, querem encontrar um sentido para as suas relações sociais, económicas e políticas, para realizar juntas uma sociedade mais caracterizada pela justiça e pela paz."