Brasília, 14 mai (RV) - A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
publicou, nesta quarta-feira, uma mensagem por ocasião do Dia da Abolição da Escravatura,
celebrado em 13 de maio. A mensagem é assinada pelo secretário-geral da CNBB, Dom
Dimas Lara Barbosa, bispo auxiliar do Rio de Janeiro.
Publicamos abaixo o
texto integral da mensagem.
"... para dar liberdade aos oprimidos." (Lc 4,
18)
O sonho de liberdade, desde sempre, moveu o coração humano.
O dia
13 de maio acentua os 121 anos da Assinatura da Lei Áurea que declarou extinta legalmente
qualquer forma de trabalho escravo no Brasil. Foi um fato marcante para nosso País,
mas que exige um complemento, pois a abolição da escravatura é uma obra inconclusa,
devido às precárias condições de vida da população negra.
O sonho ainda não
se completou. Há ainda feridas não cicatrizadas e cicatrizes ainda doídas, pois "nenhuma
sociedade passa impunemente por quatro séculos de escravidão" (Campanha da Fraternidade
1988, § 52).
A riqueza do Brasil Colônia e Império foi construída, principalmente,
pelas mãos dos negros e negras que foram feitos escravos. A memória desse fato motiva
a sociedade a estar ciente da dívida que ainda tem para com os descendentes dos povos
africanos.
A Abolição da Escravatura não foi acompanhada por medidas de inserção
dos afro-brasileiros na sociedade como portadores de direito. Não significou a melhoria
nas condições de vida dos descendentes desse povo. Somam-se a esta situação a ameaça
à sobrevivência, a desconsideração à cultura e à tradição herdadas.
A CNBB
renova neste dia a sua solidariedade para com os afro-brasileiros, e o irrestrito
apoio a políticas publicas afirmativas em prol da melhoria de suas condições de vida,
sobretudo da população Quilombola. Garantir a esta população a legalização do seu
território significa muito mais do que garantir um pedaço de chão: é a certeza de
preservação da herança e da cultura de tradição afro-brasileira presente nessas populações.
É
preciso aprofundar ainda as políticas afirmativas de inclusão social do restante da
população afro-brasileira, especialmente as crianças e jovens. Isso passa por uma
educação básica de qualidade, pelo acesso ao ensino superior gratuito e pelo atendimento
qualificado nas questões de saúde.
Há preconceitos a vencer. Muitos obstáculos
a superar. Mas não estamos sonhando sozinhos. "Deus Amor" sonha conosco, pois "é Pai
de todos os homens e mulheres de todos os povos e raças" (Documento de Aparecida,
382).
Que Jesus Cristo, Aquele que revela o rosto de Deus misericordioso "na
lógica do seu amor preferencial pelos empobrecidos e marginalizados, rompendo com
a mentalidade discriminatória do seu tempo (Lc 4,12-25)" (Campanha da Fraternidade
1988, § 101), nos inspire no compromisso samaritano com toda a população afro-brasileira.
Sob
o olhar maternal de Nossa Senhora de Fátima, cuja festa hoje celebramos, proclamando
que "é pelo amor que é preciso conquistar o direito de dizer a verdade" (Dom Hélder
Câmara), invocamos a Bênção de Deus sobre todos os que se comprometem com esta causa.
Dom
Dimas Lara Barbosa Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro Secretário Geral da CNBB (CM)