“Aqui em Belém requer-se aos discípulos de Cristo uma perseverança especial, para
continuar a crer na boa nova da paz que os céus anunciaram. Bento XVI na homilia da
Missa em Belém
(13/5/2009) Bento XVI chegou hoje a Belém. Depois da cerimonia de boas vindas com
o presidente Mahmoud Abbas transferiu-se para a Praça da Manjedoura para celebrar
a Santa Missa. Saudando o pontífice, o patriarca latino de Jerusalém, D. Fouad
Twal, afirmou que até quando houver instabilidade política e o muro que separa Belém
de Jerusalém e do resto mundo continuar de pé, esta terra não terá paz. “A guerra
em Gaza é ainda uma ferida aberta para centenas de milhares de pessoas, assim como
a ocupação e a falta de esperança num futuro melhor. As nossas feridas precisam de
ser curadas, os prisioneiros libertados; os nossos corações purificados do ódio, porque
este povo, que continua a sofrer com a injustiça, precisa de viver em paz e segurança”
– afirmou. Nas saudações iniciais aos vários grupos de líderes e fiéis presentes,
Bento XVI reservou palavras de especial afecto e conforto aos católicos palestinianos
vindos de Gaza:
“O meu coração dirige-se de modo especial aos peregrinos provenientes
de Gaza, dilacerada pela guerra: peço-vos que leveis aos às vossas famílias e comunidades
o meu caloroso abraço, as minhas condolências pelas perdas, adversidades e sofrimentos
que tivestes que suportar. Contai com a minha solidariedade convosco, na imensa obra
de reconstrução que se vos apresenta agora, e com as minhas orações para que cesse
sem mais tardar o embargo”.
Tema central desta homilia foi o anúncio dos
anjos aos pastores de Belém: “Não tenhais medo! Trago-vos boas notícias de grande
alegria… Nasceu hoje, para vós, na cidade de David um Salvador!” “No plano de Deus
(observou Bento XVI), Belém, a mais pequena das terras da Judeia, tornou-se
um lugar de glória imortal: o lugar onde, na plenitude dos tempos, Deus escolheu tornar-se
homem para pôr termo ao longo reino de pecado e de morte, e para levar vida nova e
abundante ao mundo que se tinha tornado velho e cansado, oprimido pelo desespero”.
“Aqui em Belém, no meio de toda a espécie de contradições, as pedras continuam
a gritar pela Boa Nova, pela mensagem da redenção que esta cidade, mais do que todas
as outras, está chamada a proclamar ao mundo.” “E é isto o que a mensagem de Belém
exige de nós: testemunhar o triunfo do amor de Deus sobre o ódio, o egoísmo, o medo
e o rancor que - paralisam as relações humanas, - criam divisão entre irmãos que deveriam
viver juntos na unidade, - provocam destruições onde os homens deveriam edificar e
desespero onde deveria florescer a esperança”.
O Papa evocou “as virtudes
que se requerem dos homens e mulheres que vivem a esperança”:
“Antes de mais,
- a constante conversão a Cristo que se reflecte não só nas nossas acções, mas também
na nossa maneira de reflectir; -a coragem de abandonar modos de pensar, agir e reagir
infrutíferos e estéreis; - cultivar uma atitude mental de paz, assente na justiça,
no respeito pelos direitos e deveres de todos e no empenho em cooperar para o bem
comum; - finalmente, a perseverança, perseverar no bem e na rejeição do mal.”
“Aqui
em Belém (sublinhou o Papa), requer-se aos discípulos de Cristo uma perseverança especial,
para continuar a crer na boa nova da paz que os céus anunciaram.
“Não tenhais
medo! É esta a mensagem que o Sucessor de são Pedro deseja deixar-vos hoje, em
eco à mensagem dos anjos. Foi esta a missão que o nosso bem amado Papa João Paulo
II vos deixou quando aqui veio no Grande Jubileu do nascimento de Cristo. Contai
com as orações e com a solidariedade dos vossos irmãos e irmãs da Igreja universal,
e actuai, com iniciativas concretas, para consolidar a vossa presença e para oferecer
novas possibilidades aos que se sentem tentados a emigrar. Sede uma ponte de diálogo
e de cooperação construtiva na edificação de uma cultura de paz que substitua o actual
impasse de medo, agressão e frustração”.
E o Papa concluiu a sua homilia
exortando os habitantes de Belém – e, em geral, os palestinianos – a empenharem-se
concretamente na edificação da sua pátria:
“A vossa pátria não precisa só
de novas estruturas comunitárias e económicas. É ainda mais importante o que poderíamos
chamar uma nova estrutura espiritual, capaz de galvanizar as energias de todos
os homens e mulheres de boa vontade no serviço da educação, do desenvolvimento e da
promoção do bem comum. Tendes recursos humanos para construir a cultura da paz e do
respeito mútuo, que garantirá um futuro melhor aos vossos filhos. Aguarda-vos esta
nobre empresa. Não tenhais medo!”