NICARÁGUA: GOVERNO BUSCA DIÁLOGO COM BISPOS APÓS CARTA CONTRA A IGREJA
Manágua, 06 mai (RV) – O Governo do Presidente Daniel Ortega busca uma aproximação
com a Conferência Episcopal da Nicarágua, depois que o Executivo divulgou uma carta
na qual um de seus assessores assegura que o Vaticano considera a hierarquia católica
no país como "uma das mais corruptas".
A informação foi divulgada pelo bispo
de Estelí, Dom Juan Abelardo Mata Guevara, vice-presidente do Episcopado nicaraguense.
"Esta manhã, nos contatou um mensageiro do Governo – disse Dom Mata Guevara, a um
canal de televisão local – manifestando o desejo do Presidente Ortega, de dialogar
com a Conferência Episcopal."
O prelado explicou que o Executivo pretende realizar
uma reunião com os bispos do país, antes do encontro do Conselho Episcopal Latino-americano
(CELAM), que se realizará em Manágua, de 11 a 16 do corrente.
Os bispos pedirão
uma "ampla agenda" para este encontro com o presidente, que "inclua questões como
a aborto terapêutico, a situação do país e as perspectivas da Igreja nicaraguense"
– sublinhou Dom Mata Guevara.
Os bispos da Nicarágua pediram ao Governo, na
última segunda-feira, esclarecimentos sobre a origem da carta divulgada na semana
passada, na qual, supostamente, o Vaticano consideraria a hierarquia católica no país
como "uma das mais corruptas".
O assessor do Presidente Ortega para questões
sociais, Orlando Núñez, afirmou, numa carta divulgada no último 30 de abril, com base
numa suposta conversação com o pároco espanhol Pe. Gregorio Raya, que os bispos nicaraguenses
subtraem dinheiro das doações dos fiéis e que mantêm, abertamente, mulheres e filhos.
Pe. Raya – pároco da Igreja de San Martín de Porres, em Juigalpa – disse que
não conhece Núñez e que jamais conversou com ele sobre uma presumível corrupção dos
bispos. O texto da carta de Núñez foi distribuído através da Internet, aos meios de
comunicação no país e no exterior.
Os bispos declararam, nesta segunda-feira,
que essa carta tem como objetivo deturpar a imagem da Igreja na Nicarágua, pelo fato
de ela ter questionado o Executivo – Ortega assumiu o poder em janeiro de 2007 – por
corrupção, pelo uso indevido da imagem de Nossa Senhora com finalidades político-partidárias
e, principalmente, pela falta de transparência nas eleições municipais de novembro
passado, vencidas por ampla maioria pelos sandinistas. (AF)