IRLANDA: ESTUDO VINCULA CONSUMO DE ALCOOL COM PROCESSO DE PAZ
Dublin, 06 mai (RV) – O processo de paz na Irlanda del Norte transformou radicalmente
a sociedade local. Em muitos casos, para melhor, mas em outros casos – segundo os
resultados de um estudo, divulgados nesta quarta-feira – para pior. A pesquisa indica,
de fato, que o aumento do consumo de álcool na Irlanda poderia estar vinculado ao
fim do conflito armado no país.
O informe, elaborado pela Oxford Brookes University,
para a Fundação "Joseph Rowntree", indica que a proliferação de "pubs e clubes" –
além das mudanças na legislação – elevou o consumo de bebidas alcoólicas na região,
se comparado com o restante do Reino Unido, onde essa tendência vem caindo desde 1986.
O
número de novos consumidores na Irlanda del Norte também aumentou, sobretudo, no que
se refere aos jovens de 16 a 24 anos, revela o estudo. Uma explicação possível, segundo
os autores da pesquisa, seria a reforma, aprovada 13 anos atrás, da lei de concessão
de licenças para bares e restaurantes, e a consequente expansão da "indústria do ócio",
desde o início do processo de paz, em 1998.
Essa transformação pode ser observada
– mais claramente do que em qualquer outra cidade da Irlanda – em Belfast, onde, há
apenas uma década, o centro urbano ficava deserto por volta das 18h, quando o comércio
fechava suas portas. Hoje, o coração da capital norte-irlandesa oferece um amplo leque
de opções de lazer, desde antigos "pubs" ou teatros até os novos bares, modernos restaurantes
e cinemas, além de salas de concertos, frutos da demanda do público e também da ausência
de atentados.
Ironicamente, o estudo afirma que a paz melhorou até mesmo o
aspecto de alguns bairros periféricos que, todavia, permanecem divididos segundo a
afiliação político-religiosa de seus moradores. Essa melhora no visual dos bairros
se deve também ao empenho de ex-paramilitares que dedicam seu tempo livre – hoje em
dia tanto! – para se dedicar à jardinagem, um passatempo muito britânico e muito irlandês.
"O
processo de paz incrementou os investimentos, melhorou a situação econômica e a independência
da população, sobretudo, entre os jovens" – explica o estudo.
Seu autor, Lesley
Smith, destaca que, além da "emancipação social e econômica", os norte-irlandeses
se aproximam agora, dos níveis de consumo do restante do Reino Unido, o que antes
não acontecia, porque partiam com as desvantagens impostas por "normas religiosas
e culturais" que marcaram historicamente o país. (AF)