INDÍGENAS REIVINDICAM SEUS DIREITOS NA ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS
Brasília, 05 mai (RV) - "Este país foi construído sobre uma mentalidade de
exploração que nunca mudou. Até hoje, uma cabeça de boi vale mais do que uma criança
indígena, e a cana-de-açúcar, mais do que as florestas."
Foi o que disse o
indígena da tribo Guarani Kaiowá, Anastásio Peralta, do Mato Grosso do Sul, que, junto
com outros índios de 150 etnias, provenientes de vários estados do Brasil, acamparão
durante uma semana, a partir de amanhã, quarta-feira, na Esplanada dos Ministérios,
em Brasília, a fim de reivindicar do Governo, o pleno respeito pelos direitos sancionados
pela Constituição de 1988.
Também amanhã, o Conselho Indigenista Missionário
(CIMI), divulgará o relatório "Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil 2008"
em concomitância com o 6° Acampamento Terra Livre, na Esplanada dos Ministérios.
Do
Acampamento Terra Livre se eleva um pedido feito, pela primeira vez 14 anos atrás:
a aprovação de um novo estatuto dos povos indígenas, a fim de garantir a plena aplicação
dos direitos constitucionais, e substituir o que está em vigor desde 1973 que, aprovado
durante o período da ditadura militar, é considerado arcaico e cheio de preconceitos,
pois considera os povos indígenas juridicamente incapazes, nomeando o Estado brasileiro
como seu tutor.
Os indígenas analisarão o esboço do novo estatuto elaborado
pela Assembléia dos Povos Indígenas, e querem apresentá-lo ao Executivo, a fim de
que o levem ao Congresso Nacional. Eles esperam também encontrar, até o final da semana,
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma das maiores preocupações dos indígenas
é a exploração das riquezas presentes no subsolo das terras indígenas: o Governo aceita
o veto dos povos originários sobre a exploração minerária, mas não sobre as reservas
hídricas e, no momento − disse o dirigente amazônico Marcos Apuriná − "existem 450
projetos de infraestrutura que inundarão as nossas terras".
O relatório,
que será divulgado amanhã pelo CIMI, aborda a violência perpetrada contra o patrimônio
indígena, como os conflitos territoriais, danos ambientais e a violência perpetrada
contra eles.
Outro tema abordado pelo relatório são as violências decorrentes
da omissão do poder público, como os suicídios e a falta de assistência à saúde indígena.
O capítulo final do relatório apresenta dados sobre ameaças aos povos indígenas isolados.
O
CIMI registrou, em 2008, 68 mortes de indígenas, em conseqüência da precária situação
de assistência à saúde indígena. Esses dados referem-se aos estados do Acre, Amazonas,
Rondônia, Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Maranhão. (MJ)