Duas declarações da Sala de Imprensa da Santa Sé a propósito da participação na Conferência
que decorre em Genebra e a intervenção do presidente iraniano
Perante algumas reacções suscitadas pela participação da delegação da Santa Sé na
Conferência Durban 2 em curso nestes dias, em Genebra, e a propósito das palavras
do Santo Padre domingo passado, ao meio dia, em Castelgadolfo, por ocasião da oração
mariana, já ontem, segunda-feira, o Padre Frederico Lombardi, fizera a seguinte comunicação
(citamos): “Esta Conferência é em si uma importante ocasião para promover a luta
contra o racismo e a intolerância. É com estas intenções que a Santa Sé nela participa,
desejando apoiar o esforço das instituições internacionais para que se avance nesta
direcção. Nela participam a grande maioria dos países do mundo, e o esboço de
resolução concordado sexta-feira passada é em si aceitável, tendo sido eliminados
os principais elementos que tinham suscitado objecções. Naturalmente que intervenções
como o do presidente iraniano não vão na direcção justa , pois, embora não tenha negado
o Holocausto ou o direito à existência de Israel, pronunciou expressões extremistas
e inaceitáveis. É por isso importante continuar a afirmar com clareza o respeito
pela dignidade de cada pessoa humana contra todas as formas de racismo e intolerância. É
este sem dúvida o sentido do empenho da delegação da Santa Sé na continuação dos trabalhos”.
Para
além desta primeira declaração do director da Sala de Imprensa do Vaticano, que contemplava
já o discurso ontem proferido pelo presidente iraniano na “Conferência de exame da
Declaração de Durban de 2001 contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia
e a relativa intolerância”, a mesma Sala de Imprensa quis hoje recordar as palavras
pronunciadas pelo Santo Padre Bento XVI domingo passado: “Formulo os meus sinceros
votos para que os delegados presentes na Conferência de Genebra colaborem, em espírito
de diálogo e de acolhimento recíproco, para pôr termo a qualquer forma de racismo,
de discriminação e intolerância, assinalando assim um passo fundamental em direcção
à afirmação do valor universal da dignidade do homem e dos seus direitos, num horizonte
de respeito e de justiça por cada pessoa e povo”. Por consequência – prossegue
a Nota da Sala de Imprensa – “a Santa Sé deplora a utilização deste forum da ONU para
assumir posições políticas, extremistas e ofensivas, contra qualquer Estado que seja.
Isso não contribui para o diálogo e provoca uma conflitualidade inaceitável. Trata-se,
pelo contrário, de valorizar esta importante ocasião para dialogar conjuntamente,
segundo a linha de acção que a Santa Sé desde sempre adoptou, em vista de uma luta
eficaz contra o racismo e a intolerância que ainda hoje afectam crianças, mulheres,
afro-descendentes, migrantes, populações indígenas, etc, em todas as partes do mundo.
Ao mesmo tempo que renova o apelo do Papa, a Santa Sé assegura que é com este espírito
que a sua Delegação está presente e actua na Conferência.”
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A
Santa Sé participa da Conferência "Durban 2" com uma delegação presidida pelo observador
permanente nas Nações Unidas em Genebra, D. Silvano Maria Tomasi, e composta por um
membro do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz e um membro do Pontifício Conselho
para os Migrantes e os Itinerantes. Segundo explicou o director da Sala de Imprensa
da Santa Sé e nosso director, Padre Frederico Lombardi, "a participação da Santa Sé
na Conferência é motivada pelai importância que a Igreja atribui aos temas da discriminação
racial e da intolerância. Questões relevantes do ponto de vista ético porque revestem
um papel central para o respeito da pessoa humana". Por sua vez, Dom Silvano Maria
Tomasi observou que a Santa Sé tem razões muito coerentes para participar desta conferência,
em Genebra. Afirmou nomeadamente o prelado: "Já havíamos participado da conferência
de Durban em 2001, e agora esta segunda Conferência, em Genebra, é importante porque
o racismo, presente em muitas formas em muitos países, representa uma questão de carácter
ético à qual não nos podemos subtrair: cada pessoa tem a mesma dignidade e não pode
ser objecto de comportamentos discriminatórios". ''Se não participássemos, que
mensagem daríamos, por exemplo, aos países africanos? Se deixarmos que a mensagem
da indiferença prevaleça sobre as razões políticas, acabaremos por impulsionar esses
países numa direcção que comportaria consequências negativas. Basta pensar no fenómeno
da imigração maciça em direcção à Europa. Que mensagem de convivência damos a essas
pessoas?" – interrogou-se Dom Silvano Tomasi. "Ver-se-á se a declaração final será
aceitável ou não (concluiu o arcebispo), em todo o caso devemos estar presentes para
tentar mudar algumas posições." Há que reforçar as estruturas internacionais e dar
a todos a possibilidade de contribuir para fazer avançar uma cultura mais solidária.
Domingo,
ao meio-dia, em Castel Gandolfo, Bento XVI referiu com ênfase esta Conferência, organizada
pelas Nações Unidas, em Genebra, a partir desta segunda-feira, para examinar a “Declaração
de Durban, de 2001, contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e a relativa
intolerância”. “Trata-se - disse - de uma iniciativa importante porque ainda hoje,
não obstante os ensinamentos da história, se registam fenómenos deploráveis”. “A Declaração
de Durban (explicou) reconhece que ‘todos os povos e pessoas formam uma família
humana, rica em diversidade. Esses contribuíram para o progresso da civilização e
das culturas que constituem o património comum da humanidade… A promoção da tolerância,
do pluralismo e do respeito pode conduzir a uma sociedade mais inclusiva”, “A
partir destas afirmações requer-se uma acção firme e concreta, a nível nacional e
internacional, para prevenir e eliminar toda e qualquer forma de discriminação e intolerância”
– declarou o Papa. “Ocorre, sobretudo, uma vasta obra de educação, que exalte a dignidade
da pessoa, tutelando os seus direitos fundamentais. A Igreja, pela sua parte, reafirma
que só o reconhecimento da dignidade do homem, criado à imagem e semelhança de Deus,
pode constituir uma referência segura para tal empenho. É, de facto, desta origem
comum que brota um destino comum da humanidade, que deveria suscitar em cada um e
em todos, um forte sentido de solidariedade e de responsabilidade”. Bento XVI
concluindo fazendo votos de que os delegados presentes em Genebra, a partir desta
segunda-feira, “colaborem em espírito de diálogo e de acolhimento recíproco, para
pôr termo a qualquer forma de racismo, discriminação e intolerância, assinalando assim
um passo fundamental em direcção à afirmação do valor universal da dignidade do homem
e dos seus direitos, num horizonte de respeito e de justiça para cada pessoa e povo”.