Roma, 11 abr (RV) – Bento XVI presidiu, ontem à noite, ao exercício religioso
da Via-Sacra, no Coliseu de Roma, que pudemos acompanhar através dos meios de comunicação
social. As meditações das estações da Via-Sacra, este ano, foram confiadas pelo
papa ao bispo indiano, Dom Thomas Menamparampil. Ao término das orações, o Santo Padre
dirigiu uma reflexão, aos numerosos fiéis presentes,
Referindo-se à dramática
narração da Paixão, o evangelista Marcos escreveu: “O centurião que estava em frente
de Jesus, ao vê-Lo expirar, exclamou: ‘Na verdade, este homem era Filho de Deus!’”.
Esta profissão de fé do soldado romano, que aconteceu após a crucificação, não pode
deixar de surpreender-nos.
As trevas estavam para cair sobre aquela sexta-feira,
única na história; o sacrifício da Cruz já se havia consumado e os presentes se apressavam
para celebrar a Páscoa judaica. Neste cenário, as poucas palavras, que escaparam dos
lábios de um anônimo comandante do exército romano, ressoaram no silêncio, diante
daquela morte tão singular.
Este oficial do exército romano, que assistira
à execução de um de tantos condenados à pena capital, reconheceu naquele homem crucificado
o Filho de Deus, que expirou no abandono mais humilhante. O seu fim ignominioso deveria
ter determinado o triunfo definitivo do ódio e da morte sobre o amor e sobre a vida:
“A
profissão de fé deste soldado nos é proposta todas as vezes que ouvimos a narração
da Paixão de São Marcos. Nesta noite também nós, como ele, nos detemos a fixar o rosto
exânime do Crucificado, no fim da devoção habitual da Via-Sacra, que reuniu, graças
à rádio e à televisão, muita gente de todas as partes do mundo. Revivemos a trágica
vicissitude de um homem, único na história de todos os tempos, que mudou o mundo,
deixando-se crucificar”.
Este homem, no entanto, perdoa aos seus algozes;
ele se aniquilou a si mesmo, assumiu a condição de servo e obedecendo até à morte
e morte de cruz. A dolorosa paixão do Senhor Jesus, frisou o pontífice, não pode deixar
de mover à piedade, porque constitui o ápice da revelação do amor de Deus por nós.
Cristo morreu na cruz por nosso amor. No decurso dos milênios, multidões de homens
e mulheres deixaram-se fascinar por este mistério e seguiram a Jesus, fazendo da própria
vida um dom para os irmãos. E o papa explicou:
“São os santos e os mártires,
muitos dos quais são desconhecidos. Neste nosso tempo, quantas pessoas, no silêncio
da sua vida diária, unem os seus sofrimentos aos do Crucificado, tornando-se apóstolos
de uma autêntica renovação espiritual e social! O que seria do homem sem Cristo?”.
Nesta noite, concluiu Bento XVI, contemplemos o seu rosto desfigurado: é o
rosto do Homem das dores, que assumiu todas as nossas angústias mortais. O seu rosto
se reflete naquele de cada pessoa humilhada e ofendida, doente e atribulada, só, abandonada
e desprezada. Derramando o seu sangue, ele nos resgatou da escravidão da morte, rompeu
a nossa solidão e participou das nossas penas e aflições.
Enfim, antes de
se despedir dos fiéis, no Coliseu, o Santo Padre dirigiu seu pensamento a todos aqueles
que foram atingidos pelo terremoto de L’Aquila, na região de Abruzzo, pedindo orações
para todas as vítimas e sofredores. (MT)