2009-04-10 12:14:37

Celebração da Missa Crismal nas várias dioceses portuguesa foi oportunidade para avaliar desafios mais prementes


(10/4/2009) A Celebração da Missa Crismal, na manhã de Quinta-feira Santa, nas várias dioceses de Portugal, foi oportunidade para avaliar desafios prementes na Igreja e na sociedade.
D. José Policarpo deixou esta Quinta-feira Santa vários alertas, numa celebração com o clero de Lisboa, admitindo que “temos de purificar tanta coisa na Igreja real que somos, para que no rosto da Igreja os homens possam contemplar o rosto de Cristo sacerdote”.
Na homilia da Missa Crismal a que presidiu na Sé Patriarcal, o Cardeal de Lisboa indicou que "quando a Igreja, na sua realidade humana, não anuncia o rosto de Cristo, é porque há nela as marcas da infidelidade à Palavra".
"É Cristo que garante à Palavra da Igreja o rosto que a humaniza e a torna audível como Palavra de Deus”, alertou.
Aos padres presentes, o Cardeal-Patriarca referiu que “o vosso sacerdócio ministerial encontra a sua verdade no serviço do Povo sacerdotal. Se a Igreja não se assumir como rosto de Cristo sacerdote, o sacerdócio ministerial perde o seu sentido, transforma-se em poder, torna-se incompreensível aos olhos do mundo”.
D. José Policarpo precisou “o contexto da exigência da fidelidade da Igreja”: “seguir de tal modo o seu Senhor de modo a que os homens, ao contemplarem a realidade humana da Igreja, possam contemplar nela o rosto de Cristo”.
Reflectindo sobre a “identificação entre Cristo e a Igreja”, frisou que a mesma “faz com que no rosto humano da Igreja resplandeça o mistério de Cristo e a sua Palavra amorosa”.
Noutro ponto da homilia, D. José Policarpo aludiu ao sacerdócio ministerial e da Igreja como “Povo sacerdotal”.
“A velha questão do lugar dos leigos na Igreja é muito mais que uma questão organizativa ou de eficácia da missão. O verdadeiro sujeito do ser e da missão da Igreja é o Povo sacerdotal: todo o Povo louva o Senhor, todo ele celebra os sacramentos, ele é o sujeito do anúncio da Palavra”, explicou.
Neste contexto, indicou que “é um erro pensar que a valorização da Igreja como Povo sacerdotal possa relativizar a importância dos sacerdotes ordenados. Antes pelo contrário: a especificidade do seu ministério sacerdotal ganha todo o relevo no tornar possível que o sacerdócio da Igreja se identifique com o sacerdócio de Cristo”.
No Porto, D. Manuel Clemente pediu aos padres que estejam “abertos e atentos a tudo quanto vai surgindo e crescendo, em termos de movimentos e grupos, em termos de trabalho interparoquial e vicarial, em termos de ligação próxima ou longínqua pela comunicação social e os seus novos instrumentos mediáticos, em termos de entreajuda de seculares e religiosos, de missionários «ad gentes» ou de nova evangelização local”, no contexto da Missão diocesana de 2010.
Para este responsável, “durante muito tempo, em ambiente sócio-cultural que o proporcionava, a religiosidade popular ancestral coincidia com a proposta oficial, sendo esta oficialidade tão confessional como cívica: o reconhecimento social fazia-se pelo Baptismo, a família constituía-se pelo Matrimónio, as exéquias mantinham o defunto no âmbito eclesial”.
Hoje, contudo, assiste-se “à grande dificuldade em compatibilizar a religiosidade espontânea, por vezes reduzida à subjectividade e pouco ou nada catequizada, com a proposta católica propriamente dita e as exigências que coloca em termos de fé e inclusão comunitária”.
“Tomemos as actuais dificuldades e urgências como outras tantas oportunidades de evolução pastoral positiva, com paciente pedagogia e lucidez criativa”, apontou.
Quanto ao Arcebispo de Braga, defendeu que "é espontâneo questionar-se e reconhecer que a chamada crise actual - que sabemos que não é meramente económica ou financeira mas sobretudo de carência de valores espirituais, ou seja, confirmação de que pretender construir uma sociedade humana sem referências ao sobrenatural conduz a esta perplexidade e dramatismo que vivemos - espera que a Igreja, particularmente, nos seus sacerdotes, se coloque no essencial da sua missão: encontrar-se com Cristo".
"Nesta tarefa, com S. Paulo, gostaria de vos deixar um duplo apelo: crescer na paixão pelas comunidades e suscitar, contar e confiar nos cooperadores", acrescentou.
Noutra celebração, D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu, defendeu “não é fácil ser Pastor e ser Profeta no mundo de hoje”.
“Não é fácil, hoje, propor uma verdade da Igreja, por ser da Igreja ou porque a Igreja seja uma instituição que se imponha pela autoridade, pela proximidade ou pela afectividade. Temos que a propor porque, sendo apresentada pela Igreja, ela é evangélica, porque é carregada de amor e porque dá esperança e confiança às pessoas”, indicou.
Nesse contexto, o Bispo de Viseu pede “um espírito de acolhimento e de acompanhamento – pessoal e de grupo – a exigir-nos disponibilidade, atenção, contemplação, amor pastoral”.
“Precisamos de entender a ética do Bom Pastor e da «Ovelha Ferida» – toda a pessoa que está à margem ou com dificuldades de ver e de palpar o Deus que liberta, o Deus que ama, o Deus Amigo, o Deus de Jesus Cristo, Vivo e Ressuscitado, a viver connosco”, disse.
A esta, porque ferida, porque desiludida, porque cansada, porque enganada, porque pecadora… importa procurá-la, encontrá-la e reconduzi-la ao rebanho, tantas vezes carregando-a ao colo ou aos ombros e tratar as suas feridas, sendo bons samaritanos e bons acolhedores de todos os pródigos da vida”, prosseguiu.
Já D. Manuel Pelino, Bispo de Santarém, disse que “na vida e na consciência de muitos contemporâneos nossos perde-se o sentido de Deus. Sem Deus faltam referências, falta um rumo que dê sentido e luz à existência humana, falta um alicerce sólido para a relação humana e para a ética. Sem fé, soçobra a esperança e definha a caridade. O mundo precisa da luz, da alegria e da santidade do evangelho”.
“Numa sociedade satisfeita com os bens imediatos, indiferente à proposta da fé, marcada por preconceitos e suspeitas em relação ao cristianismo, por vezes mesmo hostil à Igreja, não podemos considerar como adquirida uma disposição favorável ao anúncio do evangelho”, alertou.
D. José Alves, Arcebispo de Évora, falou por seu turno das “tentações que podem insinuar-se na vida dos presbíteros”: a tentação do individualismo, da ostentação e do isolamento auto-suficiente que podem levar à incapacitação para a comunhão presbiteral; a tentação do autoritarismo; a tentação da demissão que leva à negligência, por preguiça ou por medo de desagradar.
“O nosso ideal não pode ser agradar aos homens mas estar ao serviço dos homens nossos irmãos e, de modo especial, estar ao serviço daqueles que são membros do mesmo presbitério”, apontou.
Em Aveiro, D. António Francisco dos Santos afirmou que "vivemos envolvidos social e culturalmente por situações de grande progresso e de afirmado desenvolvimento técnico e científico e simultaneamente sentimo-nos imersos nas incertezas do futuro que uma avassaladora crise económica arrasta consigo".
"A fé, a esperança e a caridade cristãs não podem ficar silenciadas e emudecidas diante da realidade. Este tempo da Semana Maior e os mistérios que nela celebramos devem ajudar-nos a estar atentos, presentes e activos no mundo", vincou.
Para este responsável, "o sentido e o valor de uma humanidade vivida e respeitada são indissociáveis da nossa fé em Deus e da nossa responsabilidade na construção de uma sociedade mais justa, mais livre e mais fraterna onde as desigualdades e a corrupção não magoem o bem comum nem ofendam os direitos humanos. Necessitamos de aprender caminhos solidários e sóbrios onde os pobres e os humildes nos ensinem o segredo das bem-aventuranças".
Da Madeira, D. António Carrilho deixou uma palavra especial aos sacerdotes, declarando que "os trabalhos do Evangelho e a vossa caridade pastoral são motivo de grande alegria, mas, por vezes, também causa de sofrimentos, porque as iniciativas, os esforços e a doação à comunidade nem sempre encontram ressonância e até pode parecer infrutífera a vossa acção pastoral".
"Sentindo convosco, a minha palavra só pode ser esta: Coragem", assinalou.








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