A universalidade inclui o mistério da Cruz. O Reino de Cristo passa pela Cruz e abre
à universalidade: Bento XVI, aos jovens, no domingo de Ramos, na Praça de São Pedro
Sob um tépido sol primaveril, uma numerosa assembleia de jovens e adultos participou
neste Domingo de manhã, na Praça de São Pedro, na celebração de Ramos, presidida pelo
Papa, em coincidência com a Jornada da Juventude, este ano a nível diocesano. Presente
uma delegação de jovens de Sidney e outra de Madrid: para a transmissão da Cruz das
Jornadas Mundiais da Juventude à diocese onde esta terá lugar, em Agosto de 2011. No
final da Missa, por volta do meio-dia, Bento XVI, para além das saudações aos variados
grupos de peregrinos presentes, evocou a Jornada promovida pela ONU para sensibilizar
sobre o problema das minas anti-pessoa. Recordou também, de modo sentido, os muitos
africanos que perderam a vida, na semana passada, nas águas do Mediterrâneo, quando
tentavam alcançar as costas da Europa. Para além da urgência de estratégias coordenadas
entre a União Europeia e os países africanos, o Papa sublinhou a necessidade de as
populações africanas, apoiadas pela comunidade internacional, se libertarem da miséria
e das guerras.
Na homilia da Missa, comentando o episódio da entrada de Jesus
em Jerusalém, aclamado pela multidão que canta “Bendito o Reino que vem”, Bento XVI
interrogou-se sobre o verdadeiro significado deste “Reino” que Jesus nos trouxe:
“Mas
nós, compreendemos nós verdadeiramente a mensagem de Jesus, Filho de David? Compreendemos
que coisa é o Reino de que nos falou no interrogatório diante de Pilatos. Compreendemos
o que significa que este Reino não é deste mundo? Ou porventura desejamos, pelo contrário,
que seja deste mundo?”
Evocando a resposta de Jesus àqueles que, no Evangelho
segundo São João, queriam ver Jesus, naquele Páscoa, em Jerusalém – “Se o grão de
trigo, caído em terra, não morre, permanece só; mas se morre, produz muito fruto”,
observou o Papa:
“Podemos assim reconhecer duas características essenciais
deste Reino. A primeira é que este Reino passa através da cruz. É por se dar totalmente,
que Jesus pode, como Ressuscitado, pertencer a todos e tornar-se presente a todos.”
“Na
santa Eucaristia recebemos o fruto do grão de trigo morto, a multiplicação dos pães
que prossegue até ao fim do mundo e em todos os tempos”.
“A segunda característica
diz: o seu Reino é universal. Cumpre a antiga esperança de Israel: esta realeza de
David já não conhece fronteiras. Estende-se de mar a mar – como diz o profeta Zacarias
– ou seja, abraça o mundo inteiro”.
“Mas isto é só possível porque não é
uma realeza de um poder político, mas baseia-se unicamente na adesão livre do amor
– um amor que, pela sua parte, responde ao amor de Jesus Cristo que se deu por todos”.
“Temos
que aprender sempre de novo ambas as coisas – acima de tudo a universalidade, a catolicidade.
Esta significa que ninguém pode pôr como absoluto a si mesmo, a sua cultura e o seu
mundo. Isto exige que todos nos acolhamos uns aos outros, renunciando a algo do que
é nosso. A universalidade inclui o mistério da cruz – a superação de si mesmo,
a obediência à palavra comum de Jesus Cristo, na Igreja comum. A universalidade é
sempre uma superação de si mesmo, renúncia a algo de pessoal. A universalidade e a
cruz vão pari passu. Só assim se cria a paz”.
Dirigindo-se antes de mais
aos jovens presentes, o Papa advertiu que, falando do grão de trigo, Jesus formula
“a lei fundamental da existência humana”.
“Quem pretende ter a sua vida para
si, viver só para si mesmo, atar tudo em si explorando todas as possibilidades – é
precisamente esta pessoa que perde a vida. Esta torna-se aborrecida e vazia. Só no
abandono de si mesmo, só no dom desinteressado do eu a favor do tu, só no sim à vida
maior, própria de Deus, é que também a nossa vida se torna ampla e grande”.
Tudo
isto porque – observou ainda o Papa - “amar significa desapegar-se de si mesmo, doar-se”,
libertar-se de si mesmo, “olhar em frente, para o outro – para Deus e para os homens
que Ele me manda”.
“De uma vida recta faz parte também o sacrifício, a renúncia.
Quem promete uma vida sem este dom de si, sempre renovado, engana as pessoas. Sem
sacrifício, não existe uma vida realizada. Se lanço um olhar retrospectivo sobre a
minha vida pessoal, devo dizer que os momentos grandes e importantes da minha vida
foram precisamente aqueles em que disse sim a uma renúncia”.
“Tocamos aqui
o maravilhoso mistério do amor de Deus, a única verdade realmente redentora. Mas tocamos
também a lei fundamental, a norma constitutiva da nossa vida: sem o sim à Cruz, sem
caminhar em comunhão com Cristo dia a dia, a nossa vida não é uma vida bem sucedida”.
“Quem dá a vida – quotidianamente, nos pequenos gestos que fazem parte da grande decisão
– é este que a encontra. É uma verdade muito exigente, mas também profundamente bela
e libertadora” – conclui o Papa. “Queira o Senhor abençoar este caminho”.