BENTO XVI: QUE OS RICOS SEJAM SENSÍVEIS AO DRAMA DA FOME NO MUNDO
Cidade do Vaticano, 31 mar (RV) - O Santo Padre dedica ao Apostolado da Oração,
uma intenção geral e uma intenção particular para cada mês. Para o mês de abril, o
papa convida, na intenção geral, a rezar "a fim de que o Senhor abençoe o trabalho
dos agricultores com uma colheita abundante, e torne os povos mais ricos sensíveis
ao drama da fome no mundo."
O pontífice faz uma triste constatação: a fome
no mundo, ao invés de diminuir, aumenta. As pessoas atingidas pela desnutrição já
são quase um bilhão.
Para Bento XVI não se trata de "uma mera fatalidade, provocada
por situações ambientais adversas ou de calamidades naturais desastrosas" – de fato,
existem no planeta recursos suficientes para erradicar a fome. Trata-se de um verdadeiro
escândalo, que se deve, sobretudo, a uma lógica que faz o lucro prevalecer sobre a
dignidade humana.
Segundo o pontífice, são necessárias "providências corajosas"
que respeitem o princípio da "destinação universal dos bens da terra", contrastando
uma globalização que se faz segundo a lei do mais forte e com políticas protecionistas
que impedem aos mais pobres o acesso aos mercados.
Quem paga com isso são as
populações rurais dos países em via de desenvolvimento: o trabalho delas "é avidamente
explorado e a sua produção é desviada para mercados distantes, com pouco ou nenhum
benefício para a comunidade local", com a conseqüente emigração e desagregação das
famílias.
Bento XVI indica o trágico paradoxo de um mundo "que experimenta
uma riqueza sem precedentes, tanto econômica quanto científica e tecnológica", junto
a uma crescente e dramática pobreza.
Diante dessa realidade, o papa ressalta
que se faz "necessário reconhecer que o progresso técnico, embora necessário, não
é tudo. O verdadeiro progresso é somente aquele que salvaguarda a dignidade do ser
humano na sua inteireza e permite a todo povo partilhar os seus recursos espirituais
e materiais, em benefício de todos".
Bento XVI destaca a necessidade de uma
colaboração entre países ricos e pobres, entre instituições internacionais e organizações
não-governamentais: a necessidade de uma ação conjunta que ajude "as comunidades indígenas
a prosperar em seus próprios territórios e a viver em harmonia com as suas culturas
tradicionais".
Nesse sentido, o Santo Padre afirma que cada um de nós deve
se sentir comprometido em primeira pessoa – até mesmo mudando estilo de vida – a combater
a desnutrição.
Uma antiga sentença dos padres da Igreja afirma: 'Dê de comer
àquele que se encontra moribundo por causa da fome, porque, se não você não tiver
dado de comer, o terá assassinado'.
O pontífice convidou ao jejum para esta
Quaresma, o que significa "privar-nos de algo para ajudar os outros", e recordou que
no fim da vida seremos julgados sobre o amor: "tive fome e me destes de comer" (Mt
25, 35). (RL)