DEIXAR-SE GUIAR PELO ESPÍRITO SANTO: FREI CANTALAMESSA AO PAPA E À CÚRIA ROMANA
Cidade do Vaticano, 28 mar (RV) - O pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero
Cantalamessa, fez ontem pela manhã, no Vaticano, na Capela Redemptoris Mater da residência
pontifícia, a sua terceira pregação da Quaresma para a Cúria Romana, na presença do
papa. O frade capuchinho fez a sua meditação sobre o convite de São Paulo a deixar-se
conduzir pelo Espírito Santo. O religioso franciscano abordou o tema do Espírito Santo
como guia interior ressaltando que o Apóstolo dos Gentios introduziu uma importante
novidade:
"Para ele o Espírito Santo não é somente 'o mestre interior'; é um
princípio de vida nova (aqueles que são guiados por ele se tornam filhos de Deus'!);
não se limita a indicar o que deve ser feito, mas dá também a capacidade de fazer
aquilo que determina."
"A condução do Espírito – afirmou o pregador da Casa
Pontifícia – é exercida não somente nas grandes decisões, mas também nas pequenas
coisas":
"Paulo e Timóteo querem pregar o Evangelho na província da Ásia, mas
o Espírito Santo os proíbe... Depois se entende o motivo dessa condução exigente:
o Espírito Santo impelia desse modo a Igreja nascente a sair da Ásia e se fazer presente
no novo continente, a Europa" (cf. At 16, 9).
O Espírito Santo fala a todo
homem através da consciência, fiel ou não-fiel, chamando-o com as "boas inspirações",
ou as "iluminações interiores":
"São impulsos a seguir o bem e a fugir do mal,
atrações e propensões do coração que não se explicam naturalmente, porque muitas vezes
vão na direção oposta àquela que a natureza gostaria. É justamente baseando-se nesse
componente ético da pessoa que alguns cientistas e biólogos da atualidade conseguiram
superar a teoria que vê o ser humano como resultado casual da seleção das espécies.
Se a lei que governa a evolução é somente a luta pela sobrevivência do mais forte,
como se explicam certos atos de puro altruísmo e, até mesmo, de sacrifício de si pela
causa da verdade e da justiça?"
Em seguida, o frade capuchinho falou de dois
testemunhos do Espírito: o testemunho interior e o testemunho exterior, ou seja, o
testemunho dos apóstolos. É necessário que essas duas dimensões estejam unidas "para
que possa desembocar na fé". De fato, "quando se deixa de lado o testemunho interior,
se cai facilmente no legalismo e no autoritarismo; quando se deixa de lado o testemunho
exterior, apostólico, se cai no subjetivismo e no fanatismo":
"Quando se reduz
tudo somente à escuta pessoal, privada, do Espírito, se abre o caminho a um processo
irrefreável de divisões e subdivisões, porque cada um acredita estar certo, e a própria
divisão e multiplicação das denominações e das seitas – muitas vezes em contraste
entre si sobre pontos essenciais – demonstra que não pode ser o mesmo Espírito de
verdade que fala a todos, porque, do contrário, ele estaria em contradição consigo
mesmo. Esse, como se sabe, é o perigo ao qual muitas vezes se expõe o mundo protestante,
tendo colocado o 'testemunho interno' do Espírito Santo como único critério de verdade,
contra todo testemunho externo, eclesial, que não seja unicamente o da Palavra escrita."
(RL)