(26/3/2009) O bispo do Porto, que cumpriu esta quarta-feira dois anos à frente da
diocese, diz acreditar na capacidade da sociedade portuguesa para superar a crise
e no papel fundamental desempenhado pelas comunidades cristãs. "Há na sociedade
portuguesa, em geral, e na do Porto, em particular, mais do que capacidade para responder
a esta e outras crises", afirmou D. Manuel Clemente, bispo do Porto, à agência Lusa. Em
tempo de crise as paróquias, misericórdias e comunidades cristãs "são constantemente
procuradas para resolver os problemas de pessoas com maiores dificuldades", garantiu
o prelado. Daí que D. Manuel Clemente considere "impensável" que não haja na sociedade
uma "presença contínua e constante" das comunidades cristãs, sublinhando que elas
devem mesmo ser "reforçadas porque as actuais circunstâncias assim o exigem". Como
bispo do Porto, afirma ter assistido nos últimos dois anos a "uma reflexão acerca
do desafio social e cultural que se põe à religião", sobre o "tecido mais complexo
e fluído" que é a sociedade actual, e ainda sobre a redefinição das comunidades. Essa
reflexão irá culminar em 2010 com uma "missão diocesana" que passará por "propor a
experiência comunitária de Cristo a quem já o esqueceu ou simplesmente está só". O
objectivo é que todas as comunidades cristãs da diocese do Porto, incluindo as 477
paróquias, partilhem a sua experiência e consigam "ir mais além na transmissão da
mensagem cristã", recorrendo às novas tecnologias ou à "cultura do povo" como "as
janeiras e os compassos". Sobre a diocese do Porto, D. Clemente considera tratar-se
de "uma realidade muito vasta e muito densa" para abarcar em apenas dois anos e cujas
"potencialidades humanas são imensas". Ainda assim, admite que os problemas são diversos,
nomeadamente os de aspecto católico e religioso. "Temos um clero de faixa etária
alta - 60 anos ou mais - e directamente adstritos à diocese são 350 para quase 500
paróquias", lamentou. Também no feminino há dificuldades em encontrar quem procure
a vida religiosa. "Há muitas casas e lares ligados a religiosas", mas "há poucas mulheres".
D. Manuel Clemente nota que o catolicismo tem assistido a um aumento de praticantes
em toda a parte menos na Europa. "Na Europa, a religião não passa pela fixação numa
comunidade mas por um percurso individual das pessoas", contou. Essa "privatização
da religião" impõe grandes desafios ao catolicismo que "insiste muito na presença
comunitária". O segundo aniversário de D. Manuel Clemente como bispo do Porto foi
comemorado ontem à noite, com a apresentação, pelo sociólogo António Barreto, do livro
"Um só propósito: Homilias e Escritos Pastorais em termos de Nova Evangelização" sobre
o seu magistério episcopal. ( Em Jornal de Noticias)