2009-03-22 12:03:27

Que cada cristão deste grande continente experimente o toque salutar do amor misericordioso de Deus e a Igreja em África se torne «lugar de autêntica reconciliação para todos, graças ao testemunho dado pelos seus filhos e filhas».Bento XVI na homilia da Missa na explanada da Cimangola


(22/3/2009) Bento XVI preside na manhã deste Domingo a Santa Missa com os bispos da Imbisa na explanada da Cimangola.
No inicio da celebração, depois da saudação ao Papa do arcebispo de Luanda e presidente da conferencia episcopal de Angola e São Tomé, Bento XVI quis recordar os dois jovens mortos e os feridos, de ontem á tarde, á entrada do estádio dos Coqueiros.
“Amado irmãos, quero incluir nesta Eucaristia um sufrágio particular pelos dois jovens que ontem perderam a vida na entrada para o Estádio dos Coqueiros. Confiemo-los a Jesus para que os acolha no seu Reino. Aos seus familiares e amigos, exprimo a minha solidariedade e o mais  vivo pesar ate porque vieram para me encontrar. Ao mesmo tempo rezo pelos feridos desejando-lhes pronto restabelecimento; abandonemos-nos aos desígnios insondáveis de Deus!”
«Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna»: foi com a proclamação desta passagem do Evangelho deste domingo, palavras “de alegria e de esperança”, que Bento XVI iniciou a homilia. O Papa quis saudar expressamente, uma a uma, as diferentes dioceses e províncias de Angola, assim como os bispos da África Austral, com uma menção expressa de cada um dos seus países.


Partindo da primeira leitura da Missa, que recordava a destruição de Jerusalém e o exílio do Povo eleito longe do seu país, Bento XVI evocou “as terríveis consequências da guerra civil, que pode destruir tudo o que tem valor: famílias, comunidades inteiras, o fruto das canseiras humanas, as esperanças que guiam e sustentam a sua vida e o seu trabalho”:


“Trata-se, infelizmente, de uma experiência demasiado familiar a toda a África: a força destrutiva da guerra civil, a queda na voragem do ódio e da vingança, a delapidação dos esforços de gerações de gente boa. Quando a Palavra do Senhor – uma Palavra que visa a edificação dos indivíduos, das comunidades e da família humana inteira – é transcurada e a lei de Deus é ridicularizada, desprezada e achincalhada, o resultado só pode ser destruição e injustiça: a humilhação da nossa humanidade comum e a traição da nossa vocação de filhos e filhas do Pai misericordioso, irmãos e irmãs do seu dilecto Filho”.

Em Angola – recordou o Papa - este Domingo estava reservado como dia de oração e sacrifício pela reconciliação nacional.

“O Evangelho ensina-nos que a reconciliação – uma verdadeira reconciliação – só pode ser fruto de uma conversão, de uma mudança do coração, de um novo modo de pensar. Ensina-nos que só a força do amor de Deus pode mudar os nossos corações e fazer-nos triunfar sobre o poder do pecado e da divisão.”
“(…) Vim à África precisamente para proclamar esta mensagem de perdão, de esperança e de uma nova vida em Cristo.”

Evocando a II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, dedicada ao tema A Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz, Bento XVI pediu orações por essa intenção:

“Hoje peço-vos para rezardes, em união com todos os nossos irmãos e irmãs da África inteira, por esta intenção: para que cada cristão deste grande continente experimente o toque salutar do amor misericordioso de Deus e a Igreja em África se torne «lugar de autêntica reconciliação para todos, graças ao testemunho dado pelos seus filhos e filhas».”

Recordando aos presentes nesta missa a luz de Cristo recebida no baptismo, o Papa pediu-lhes que fossem “fiéis a este dom, certos de que o Evangelho pode revigorar, purificar e nobilitar os profundos valores humanos da vossa cultura originária e das vossas tradições: famílias solidárias, profundo sentido religioso, celebração festiva do dom da vida, apreço pela sabedoria dos mais velhos e pelas aspirações do jovens”. Pediu também gratidão para com os missionários que - disse - “tanto contribuíram, e contribuem, para o desenvolvimento humano e espiritual deste país”: “Senti-vos agradecidos pelo testemunho de tantos pais e professores cristãos, de catequistas, presbíteros, religiosas e religiosos, que sacrificaram a sua vida pessoal para vos transmitir este tesouro precioso”.

“A Igreja em Angola e na África inteira está destinada a ser, perante o mundo, um sinal daquela unidade a que é chamada toda a família humana mediante a fé em Cristo Redentor”.

“A luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque as suas obras eram más”…

“Oh como são grandes as trevas em tantas partes do mundo! E as nuvens do mal obscureceram tragicamente também a África, incluindo esta amada nação angolana. Pensemos no flagelo da guerra, nos frutos terríveis do tribalismo e das rivalidades étnicas, na avidez que corrompe o coração do homem, reduz à escravidão os pobres e priva as gerações futuras dos recursos de que terão necessidade para criar uma sociedade mais solidária e justa: uma sociedade verdadeira e autenticamente africana no seu estro e nos seus valores.
E que dizer daquele insidioso espírito de egoísmo que fecha os indivíduos em si mesmos, divide as famílias e, espezinhando os grandes ideais de generosidade e abnegação, conduz inevitavelmente ao hedonismo, à fuga para falsas utopias através do uso da droga, à irresponsabilidade sexual, ao enfraquecimento do vínculo matrimonial, à destruição das famílias e à eliminação de vidas humanas inocentes por meio do aborto?
Mas a palavra de Deus é uma palavra de esperança sem limites. «Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito… para que o mundo seja salvo por Ele». Deus nunca nos considera um caso perdido. Continua a convidar-nos para erguermos os olhos para um futuro de esperança, e promete-nos a força para o realizar.”

Aludindo pois à obra de reconstrução nacional em que os angolanos estão empenhados, obra “penosamente lenta e dura”, observou o Papa:

“Requer tempo, fadiga e perseverança: deve começar nos nossos corações, nos pequenos sacrifícios quotidianos necessários para sermos fiéis à lei de Deus, nos pequenos gestos pelos quais demonstramos de amar os nossos vizinhos – os nossos vizinhos todos sem olhar a raça, etnia ou língua – com a disponibilidade de colaborar com eles para construir, juntos, sobre bases duradouras. Fazei com que as vossas paróquias se tornem comunidades onde a luz da verdade de Deus e a força do amor reconciliador de Cristo não sejam apenas celebradas, mas manifestadas em obras concretas de caridade. E não tenhais medo!”

Quase a concluir, Bento XVI dirigiu-se especialmente aos jovens angolanos e a todos os jovens da África:

“Queridos jovens amigos, vós sois a esperança do futuro do vosso país, a promessa de um amanhã melhor. Começai, desde hoje, a crescer na vossa amizade com Jesus, que é «o Caminho, a Verdade e a Vida»: uma amizade nutrida e aprofundada através da oração humilde e perseverante. Procurai conhecer a vontade de Deus a vosso respeito, ouvindo diariamente a sua palavra e permitindo à sua lei de modelar a vossa vida e as vossas relações.”

A concluir, de novo em inglês, Bento XVI deixou uma palavra de encorajamento aos angolanos e a todos os cristãos da África meridional:

“Coragem! Ponde-vos a caminho!. Olhai o futuro com esperança, confiai nas promessas de Deus e vivei na sua verdade. Deste modo, construireis algo destinado a permanecer e deixareis às gerações futuras uma herança duradoura de reconciliação, justiça e paz. Amen.”
(texto integral em "Viagens apostólicas)








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