Comunidade internacional evite "politica de avestruz" na Guiné Bissau
(21/3/2009) A impunidade é um factor importante na instabilidade há mais de uma década
na Guiné-Bissau e "a comunidade internacional não quer continuar com essa política
de avestruz", disse à Lusa o ministro cabo-verdiano dos Negócios Estrangeiros. Há
o sentimento generalizado na comunidade internacional de que não se pode continuar
com a impunidade na Guiné-Bissau. Houve vários acontecimentos no passado que nunca
foram julgados e a comunidade internacional não quer continuar com essa política de
avestruz. A impunidade é também responsável pelas sucessivas crises", afirmou José
Brito, referindo-se à ausência de condenações nos últimos anos de pessoas envolvidas
em golpes de Estado ou crimes com motivações políticas. O chefe da diplomacia de
Cabo Verde esteve quarta e quinta-feira em Bissau a participar na reunião do Conselho
de Mediação e Segurança da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)
sobre a Guiné-Bissau. Em declarações à Lusa, José Brito sublinhou que o futuro
do país passa pela estabilização política, económica, judicial e militar, que só será
possível depois de garantidas as condições para que acabe a impunidade, mesmo depois
da aprovação, em 2008, da Lei da Amnistia. Por essa razão, disse José Brito, a
CEDEAO decidiu criar uma comissão de inquérito internacional para investigar os assassínios
do presidente guineense, João Bernardo "Nino" Vieira, na madrugada de 02 deste mês,
e do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) da Guiné-Bissau, Tagmé
Na Waié, na véspera. Uma comissão de inquérito foi criada pelo procurador-geral
guineense no mesmo dia que o Presidente guineense morreu, mas só começou os trabalhos
de investigação uma semana mais tarde. Outra comissão de inquérito, da iniciativa
das Forças Armadas, na sequência do assassínio de Tagmé Na Waié, tem pessoas detidas,
mas é desconhecido o número de suspeitos e suas identidades. O chefe da diplomacia
cabo-verdiana deu, por outro lado, a entender que as eleições presidenciais guineenses
poderão ser adiadas, uma vez que é preciso apurar ainda se há condições logísticas,
técnicas e políticas para as concretizar. A reforma do sector da Defesa e Segurança
foi outra das questões abordadas pela CEDEAO em Bissau, ficando claro, segundo o ministro
cabo-verdiano, a necessidade de que as missões em curso, "todas dispersas e sem coordenação",
sejam unificadas num só comando. "Sabemos do impacte do tráfico de droga na Guiné-Bissau.
A CEDEAO e a CPLP vão apoiar essa luta, pois a Guiné-Bissau não tem meios suficientes
e essa questão deverá também ser incluída na reunião com os doadores", em Abril, na
Cidade da Praia, sublinhou, adiantando a aposta na formação de agentes policiais e
da judiciária e na recolha e tratamento da informação.