“O respeito e promoção dos direitos humanos, governo transparente, magistratura independente,
comunicação social livre, administração pública honesta, rede de escolas e de hospitais
que funcionem de modo adequado, e a firme determinação, radicada na conversão dos
corações, de acabar de uma vez por todas com a corrupção”: Bento XVI no encontro com
as autoridades e o corpo diplomático em Luanda
(20/3/2009) No discurso que dirigiu ao Corpo Diplomático e às autoridades políticas,
Bento XVI começou por se congratular pelo facto de Angola ser hoje – disse - um país
“que se levanta”: “após vinte e sete anos de guerra civil…, a paz começou a lançar
raízes, trazendo consigo os frutos da estabilidade e da liberdade. Os esforços palpáveis
do Governo para estabelecer as infra-estruturas e recriar as instituições fundamentais
ao progresso e bem-estar da sociedade fizeram voltar a esperança entre os cidadãos
da nação”.
“Angola sabe que chegou para a África o tempo da esperança. Cada
comportamento humano recto é esperança em acção. As nossas acções nunca são indiferentes
aos olhos de Deus; e também não o são para o progresso da história”.
Prosseguindo
com palavras que, mais do que ao Corpo Diplomático, se dirigiam às autoridades, e
mais em geral ainda, a todos os angolanos e mesmo aos africanos em geral, o Papa sublinhou
que, “armados de um coração íntegro, magnânimo e compassivo”, poderão “transformar
este continente, libertando o povo do flagelo da avidez, da violência e da desordem
e guiando-o pela senda daqueles princípios que são indispensáveis em qualquer democracia
civil moderna” E o Papa explicitou:
“O respeito e promoção dos direitos humanos,
um governo transparente, uma magistratura independente, uma comunicação social livre,
uma administração pública honesta, uma rede de escolas e de hospitais que funcionem
de modo adequado, e a firme determinação, radicada na conversão dos corações, de acabar
de uma vez por todas com a corrupção”.
Referindo “a necessidade duma perspectiva
ética do desenvolvimento”, Bento XVI sublinhou que “as pessoas deste continente pedem
justamente uma conversão - profundamente convicta e duradoura - dos corações à fraternidade”.
“A quantos servem na política, na administração pública, nas agências internacionais
e nas companhias multinacionais”, os africanos (lembrou o Papa) pedem sobretudo que
permaneçam ao seu lado de modo verdadeiramente humano, acompanhando pessoas, famílias
e comunidades, mas sem as substituir.
“O desenvolvimento económico e social
da África requer a coordenação do Governo nacional com as iniciativas regionais e
com as decisões internacionais. Uma tal coordenação supõe que as nações africanas
não sejam vistas apenas como destinatárias dos planos e soluções elaborados por outros.
Os próprios africanos, trabalhando juntos para o bem das suas comunidades, devem ser
os agentes primários do seu desenvolvimento.” O Papa sublinhou a necessidade de
apoiar as iniciativas internacionais que favoreçam segurança, estabilidade e desenvolvimento,
nomeadamente na Região dos Grandes Lagos, assim como as que promovam transparência,
exercício comercial honesto e bom governo. É urgente e importante (observou o Papa)
que a comunidade internacional coordene esforços para enfrentar a questão das alterações
climáticas e cumpra os compromissos em prol do desenvolvimento, concretizando nomeadamente
a promessa, muitas vezes repetida pelos países desenvolvidos, de destinarem 0,7% do
seu PIB (produto interno bruto) a ajudas oficiais ao desenvolvimento.
Bento
XVI referiu que os dias já passados em África nele têm suscitado “aquela profunda
alegria humana que se sente ao voltar a casa, ao seio da família”. Ora se em África
– sublinhou o Papa, citando a “Ecclesia in África” - «a família constitui a base sobre
a qual assenta o edifício da sociedade», não faltam problemas, também a este nível:
“Entretanto, como todos sabem, também aqui se abatem numerosas pressões sobre
as famílias: ânsia e humilhação causadas pela pobreza, desemprego, doença, exílio…
para mencionar apenas algumas. Particularmente inquietante é o jugo opressivo da discriminação
sobre mulheres e jovens meninas, para não falar daquela prática inqualificável que
é a violência e exploração sexual que lhes causa tantas humilhações e traumas”.
Quase
a concluir, Bento XVI assegurou que a Igreja – por vontade do seu Fundador divino
– se encontrará sempre ao lado dos mais pobres do continente. Através de iniciativas
diocesanas, das muitas obras educativas, sanitárias e sociais das diferentes ordens
religiosas e de programas para o desenvolvimento, a Igreja continuará a fazer tudo
o possível para apoiar as famílias (nomeadamente as que se encontram feridas pelos
trágicos efeitos da SIDA) e para promover a igual dignidade de homens e mulheres na
base de uma harmoniosa complementaridade.
“O caminho espiritual do cristão
é o da conversão diária; a isto mesmo a Igreja convida todos os líderes da humanidade
para que esta possa trilhar as sendas da verdade, da integridade, do respeito e da
solidariedade.” (texto integral em "viagens apostólicas")