Iaundé, 20 mar (RV) - O último compromisso do Santo Padre em Camarões no dia
de ontem foi o encontro com os membros do Conselho Especial para a África do Sínodo
dos Bispos, na Nunciatura Apostólica de Iaundé.
O encontro representou o simbólico
início no continente africano da II Assembléia Sinodal Especial que se realizará no
Vaticano de 4 a 25 de outubro de 2009. O Conselho Especial é composto por 12 membros
pertencentes a diversos países do continente: Nigéria, Tanzânia, África do Sul, Argélia,
Camarões, Moçambique, Congo, Burkina Fasso, Zâmbia, Madagascar e Egito.
No
discurso aos presentes o Papa em primeiro lugar recordou que em1994, o Servo de Deus
João Paulo II convocou a Primeira Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos, em sinal
de solicitude pastoral por este continente rico tanto de promessas como de prementes
carências humanas, culturais e espirituais.
Bento XVI afirmou que toda a Igreja
olha com atenção para este encontro em vista da Segunda Assembléia Especial para a
África do Sínodo dos Bispos, que será celebrada em outubro próximo. O tema é: “A Igreja
na África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz. “Vós sois o sal da terra…
Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 13.14)”.
Na sua reflexão o Papa sublinhou
que o continente africano foi santificado pelo próprio Jesus Cristo. No início da
sua vida terrena, tristes circunstâncias fizeram-No pisar o solo africano. Deus escolheu
este continente para abrigar seu Filho.
A África representou uma etapa importante
na Encarnação, o primeiro momento da kenose, porque acolheu a humilhação e o despojamento
do Filho de Deus, antes de voltar à Terra Prometida.
“Por causa da vinda de
Cristo que a santificou com a sua presença física, a África recebeu um apelo particular
para conhecer Cristo. Que os africanos se sintam orgulhosos disso, destacou o papa.”
Depois de recordar alguns momentos significativos da história cristã deste
continente que lembram a ligação profunda que existe entre a África e o cristianismo
a partir das suas origens o Papa destacou que depois de ter sido posto à prova por
vicissitudes históricas, o cristianismo subsistiu, durante quase um milênio, apenas
na parte nordeste do continente. Com a chegada dos europeus, que procuravam a rota
para a Índia, nos séculos XV e XVI, as populações subsaarianas encontraram Cristo.
Foram as populações costeiras que receberam, em primeiro lugar, o batismo.
Econtramo-nos
atualmente – continuou o Papa - num período histórico que coincide, do ponto de vista
civil, com a readquirida independência e, do ponto de vista eclesial, com o acontecimento
do Concílio Vaticano II. A Igreja na África preparou e acompanhou, durante este período,
a construção das novas identidades nacionais e, paralelamente, procurou traduzir a
identidade de Cristo segundo caminhos próprios.
A Primeira Assembléia Especial
do Sínodo dos Bispos permitiu indicar as direções a tomar e pôs em evidência, para
além do mais, a necessidade de aprofundar e encarnar na vida o mistério de uma Igreja-Família.
Então o papa sugeriu algumas reflexões sobre o tema específico da Segunda Assembléia
Especial para a África do Sínodo dos Bispos, relativo à reconciliação, à justiça e
à paz.
“O continente dos senhores – disse o Papa - não tem sido poupado; foi
e é ainda triste cenário de graves tragédias que reclamam por uma verdadeira reconciliação
entre os povos, as etnias, os homens. Para nós, cristãos, esta reconciliação enraíza-se
no amor misericordioso de Deus Pai e realiza-se através da pessoa de Jesus Cristo,
que, no Espírito Santo, ofereceu a todos a graça da reconciliação. As consequências
que daí se hão de manifestar serão a justiça e a paz, indispensáveis para construir
um mundo melhor”.
Na realidade, perguntou-se o Papa – o que pode haver de
mais dramático, no atual contexto sócio-político e econômico do continente africano,
do que a luta frequentemente sangrenta entre grupos étnicos ou povos irmãos? E, se
o Sínodo de 1994 insistiu sobre a Igreja-Família de Deus, qual poderá ser o contributo
do Sínodo deste ano para a construção da África, sedenta de reconciliação e à procura
da justiça e da paz?
Os conflitos locais ou regionais, os massacres e os genocídios
que sucedem no continente devem-nos interpelar de maneira muito particular, frisou
o Santo Padre: se é verdade que, em Jesus Cristo, pertencemos à mesma família e partilhamos
a mesma vida, dado que, nas nossas veias, circula o mesmo Sangue de Cristo, que fez
de nós filhos de Deus, membros da Família de Deus, então não deveria haver mais ódios,
injustiças e guerras ente irmãos.
Bento XVI recordou ainda o Cardeal Bernardin
Gantin, de venerada memória que ao constatar o avanço da violência e a aparição do
egoísmo em África, fazia apelo, desde 1988, a uma Teologia da Fraternidade, como resposta
aos prementes apelos dos pobres e dos humildes.
No seu discurso o Papa disse
ainda que é urgente que as comunidades cristãs se tornem cada vez mais lugares de
profunda escuta da Palavra de Deus e de leitura meditada da Sagrada Escritura. Quanto
à Eucaristia, esta torna o Senhor realmente presente na história. Através da realidade
do seu Corpo e Sangue, Cristo inteiro torna-Se substancialmente presente nas nossas
vidas. A Eucaristia é fonte de unidade reconciliada na paz.
Por fim, o papa
convidou todos a encorajar a preparação do acontecimento sinodal, recitando também
com os fiéis a oração que conclui o Instrumentum laboris pelo bom êxito da Assembléia
Sinodal. (SP)