DISCURSO ÀS AUTORIDADES E AO CORPO DIPLOMÁTICO EM ANGOLA
Senhor Presidente da República, Distintas Autoridades, Ilustres Embaixadores, Venerados
Irmãos no Episcopado, Senhoras e Senhores!
Num amável gesto de hospitalidade,
quis o Senhor Presidente nos acolher em sua residência, dando-me a alegria de poder
vos encontrar, saudar e vos desejar os melhores êxitos na condução das importantes
responsabilidades que cada um de vós assume no âmbito governamental, seja civil ou
diplomático, onde cada um serve a própria nação em vista do bem de toda família humana.
Senhor Presidente, obrigado por esta acolhida e pelas palavras que acabais de me dirigir,
cheias de consideração pela pessoa do Sucessor de Pedro e de confiança na ação da
Igreja Católica em favor desta nação muito amada. Meus amigos, vós sois artesãos
e testemunhas de uma Angola que se levanta. Após vinte e sete anos de guerra civil
que devastou o país, a paz começou a se enraizar, trazendo consigo os frutos da estabilidade
e da liberdade. Os esforços palpáveis do Governo para estabelecer as infra-estruturas
e recriar as instituições indispensáveis ao desenvolvimento e bem-estar da sociedade
fizeram voltar a esperança entre os cidadãos. Para sustentar esta esperança, têm concorrido
várias iniciativas de agências internacionais, decididas a transcender interesses
particulares para trabalhar na perspectiva do bem comum. Nas diversas regiões do país,
não faltam os exemplos de professores, agentes da saúde e funcionários públicos que,
em troca de um magro salário, servem com integridade e dedicação as respectivas comunidades
humanas às quais pertencem. Aumenta o número de pessoas engajadas em atividades voluntárias
para prestar os serviços mais necessários Queira Deus abençoar e multiplicar todas
estas boas vontades e iniciativas ao serviço do bem! Angola sabe que chegou para
a África o tempo da esperança. Cada comportamento humano reto é esperança em ação.
Nossas ações jamais são indiferentes a Deus; e também não o são para o progresso da
história. Meus amigos, com um coração íntegro, magnânimo e cheio de compaixão, podereis
transformar este continente, libertando o vosso povo do flagelo da avidez, da violência
e da desordem e guiando-o pelo caminho indicado por princípios indispensáveis a qualquer
democracia civil moderna: o respeito e a promoção dos direitos humanos, um governo
transparente, uma magistratura independente, uma comunicação social livre, uma administração
pública honesta, uma rede de escolas e de hospitais que funcionem de modo adequado,
e a firme determinação, radicada na conversão dos corações, de acabar de uma vez por
todas com a corrupção. Na Mensagem deste ano para o Dia Mundial da Paz, quis chamar
a atenção de todos para a necessidade de uma atitude ética do desenvolvimento. De
fato, mais do que simples programas e protocolos, os habitantes deste continente pedem
com razão, uma conversão autêntica, profunda e duradoura dos corações à fraternidade
(cf. n. 13).Sua exigência aos que trabalham na política, na administração pública,
nas agências internacionais e nas companhias multinacionais é sobretudo esta: permanecei
ao nosso lado de modo verdadeiramente humano, acompanhai-nos as nós, às nossas famílias
e comunidades. O desenvolvimento econômico e social da África requer a coordenação
das ações governamentais nacionais com as iniciativas regionais e com as decisões
internacionais. Uma tal coordenação supõe que as nações africanas não sejam apenas
consideradas como destinatárias dos planos e soluções elaborados por outros. Os próprios
africanos, trabalhando juntos para o bem das suas comunidades, devem ser os agentes
primários do seu desenvolvimento. A tal propósito, existe um número crescente de eficazes
iniciativas que merecem ser sustentadas. Contam-se entre elas a New Partnership for
Africa’s Development (NEPAD) e o Pacto para a segurança, a estabilidade e o desenvolvimento
na Região dos Grandes Lagos, juntamente com o Kimberley Process, a Publish What You
Pay Coalition e a Extractive Industries Transparency Iniziative, que promovem a transparência,
o exercício comercial honesto e o bom governo. Quanto à comunidade internacional no
seu todo, é de urgente importância a coordenação dos esforços para enfrentar a questão
das alterações climáticas, a realização plena e honesta dos compromissos em prol do
desenvolvimento indicados pelo Doha round e, de igual forma, a realização desta promessa
muitas vezes repetida pelos países desenvolvidos: destinarem 0,7% do seu PIB (produto
interno bruto) para ajudas oficiais ao desenvolvimento. Esta assistência é ainda mais
necessária hoje com a tempestade financeira mundial em curso; que ela não seja mais
uma das suas vítimas. Amigos, concluo minha reflexão confidenciando que esta minha
visita a Camarões e a Angola suscita em mim aquela alegria humana profunda que se
sente ao voltar a casa, ao seio da família. Creio que a mesma experiência é o dom
comum que a África faz a quantos vêm de outros continentes aqui, onde «a família representa
a base sobre a qual está construído o edifício da sociedade» (Ecclesia in Africa,
80). Entretanto, como todos sabem, também aqui se abatem numerosas pressões sobre
as famílias: angústia e humilhação causadas pela pobreza, desemprego, doença, exílio
para mencionar apenas algumas. Particularmente inquietante é o jugo opressivo da discriminação
que pesa sobre mulheres e moças, para não falar daquela prática inqualificável que
é a violência e exploração sexual que lhes causa tantas humilhações e traumas. Devo
ainda referir uma nova área de grave preocupação: as políticas daqueles que, com a
ilusão de fazer crescer o «edifício social», estão ameaçando os seus próprios alicerces.
Que amarga é a ironia daqueles que promovem o aborto como um dos cuidados de saúde
«materna»! Como é desconcertante a tese de quantos defendem a supressão da vida como
uma questão de saúde reprodutiva (cf. Protocolo de Maputo, art. 14)! Senhoras
e Senhores, encontrareis sempre a Igreja – por vontade do seu divino Fundador – ao
lado dos mais pobres deste continente. Posso assegurar-vos que ela, através de iniciativas
diocesanas e inumeráveis obras educativas, de saúde e sociais das diversas ordens
religiosas, continuará a fazer tudo o possível para apoiar as famílias, nomeadamente
feridas pelos trágicos efeitos da AIDS, e promover a igual dignidade de homens e mulheres
com base em uma harmoniosa complementaridade. O caminho espiritual do cristão é o
da conversão diária. A Igreja convida todos os líderes da humanidade a tomar esse
caminho, para que esta última possa trilhar as sendas da verdade, da integridade,
do respeito e da solidariedade. Senhor Presidente, desejo reiterar-lhe a minha
viva gratidão pelo acolhimento que nos ofereceu em sua casa. Agradeço a todos e cada
um de vós pela amável presença e escuta atenta. Contai com as minhas orações por vós
e vossas famílias e por todos os habitantes desta África maravilhosa. O Deus do Céu
vos seja propício e a todos abençoe!