Documento de trabalho do próximo Sínodo dos Bispos para a África, aponta o dedo
às multinacionais e à globalização; fala da perda de valores e elenca os efeitos devastadores
da globalização sobre a economia, os costumes políticos e a sociedade do continente
mais pobre do planeta
(19/3/2009) O texto que o Papa entregou aos presidentes das Conferências Episcopais
nacionais e regionais de África e Madagáscar elenca os efeitos devastadores da globalização
sobre a economia, os costumes políticos e a sociedade do continente mais pobre do
planeta, o mais atingida pela crise económica e mundial. No documento fala-se da
perda de valores como o respeito pelos anciãos e pela vida ou a cultura de entreajuda.
Duras críticas às multinacionais que “invadem” África para apropriar-se dos recursos
naturais, deixando danos significativos no meio ambiente: esta é uma das questões
levantadas pelo documento de trabalho do próximo Sínodo de Bispos africanos, que o
Papa entregou hoje nos Camarões. A destruição da “identidade africana” por causa
da globalização é outra das preocupações manifestadas, num texto que apresentada as
linhas orientadoras da futura assembleia sinodal, subordinada ao tema “A Igreja em
África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz”. No documento lamenta-se
a cumplicidade dos dirigentes africanos diante destas situações e fala-se num “processo
organizado de destruição da identidade africana” pelo fenómeno da globalização, “sob
o pretexto da modernidade”. Esta manhã, na homilia da Missa a que presidiu em
Yaoundé, o Papa afirmara que “pessoas sem escrúpulos procuram impor o reino do dinheiro,
desprezando os mais miseráveis”, obrigando-os muitas vezes a emigrar, e que “a África
em geral, e os Camarões em particular, correm perigo”. O texto que o Papa entregou
aos presidentes das Conferências Episcopais nacionais e regionais de África e Madagáscar
elenca os efeitos devastadores da globalização sobre a economia, os costumes políticos
e a sociedade do continente mais pobre do planeta, o mais atingida pela crise económica
e mundial. As potências militares e económicas são acusadas de “impor a sua lei”,
fomentando o tráfico de armas, as guerras e a exploração dos recursos da terra africana.
As próprias instituições financeiras internacionais são colocadas em causa pelos
efeitos “funestos” dos programas de desenvolvimento impostos a muitos países. O
documento nasce de uma ampla consulta aos Bispos africanos – que responderam a um
questionário com 32 perguntas – e do trabalho do o conselho especial para a África
da secretaria-geral do Sínodo dos Bispos, um grupo mais restrito de prelados. Para
o Papa, este «Instrumentum laboris» reflecte o grande dinamismo da Igreja na África,
mas também os desafios que a mesma deve enfrentar e que o Sínodo deverá examinar”.
Conflitos armados, corrupção, violações dos direitos humanos, tribalismos exacerbados
– que atingem a própria Igreja – são algumas das questões assinaladas, num texto que
sublinha ainda “evoluções positivas” como a aparição de uma sociedade civil activa
ou a preocupação por uma resolução interafricana dos problemas do continente. O
documento tem quatro capítulos, precedidos por um prefácio, que passam pela situação
actual da Igreja, os temas da reconciliação, justiça e paz, a missão da Igreja Católica
e o testemunho de vida dos seus membros em diversos âmbitos.