A Igreja deve ser uma comunidade de pessoas reconciliadas com Deus e entre si mesmas.
Deste modo, pode anunciar a Boa Nova da reconciliação à sociedade actual, que infelizmente
conhece, em numerosos lugares, conflitos, violências, guerras e ódio.
819/3/2009) Na Nunciatura apostolica de Yaoundé Bento XVI concluiu este terceiro
dia da sua viagem á Africa encontrando os membros do conselho especial para a áfrica
do sinodo dos bispos. Este encontro representou o simbolico inicio no continente
africano da II assembleia sinodal especial que se efectuará no Vaticano de 4 a 25
de Outubro de 2009. O conselho especial é constituido por 12 membros pertencentes
a varios paises do continente: Nigéia, Tanzania Africa do Sul, Argelia, Camarões,
Moçambique, Congo, Burkina Faso, Zambia, Madagascar e Egipto.Perante os conflitos
étnicos que dilaceram o continente africano, Bento XVI fez votos de que o próximo
Sínodo para a África possa encarar esta grave situação, porventura desenvolvendo aquela
“teologia da fraternidade” de que já em 1988 falava o cardeal Gantin. O Papa dirigia-se
ao Conselho especial para a África do Sínodo dos Bispos.
O Papa começou por
recordar que o continente africano “foi santificado pelo próprio Senhor Jesus”, pois
“no alvorecer da sua vida terrena, tristes circunstâncias fizeram-No pisar o solo
africano”:
“Deus escolheu o vosso continente para abrigar seu Filho. Através
de Jesus, Deus veio ao encontro certamente de todos os homens, mas duma maneira particular
do homem africano. A África ofereceu ao Filho de Deus uma terra que O nutriu e uma
protecção eficaz. Através de Jesus, já lá vão dois mil anos, o próprio Deus trouxe
o sal e a luz à África”
Desde então, a semente da presença de Jesus Cristo
está enterrada nas profundezas do coração da África e germina pouco a pouco, para
além e através dos riscos da história humana do continente…
. Por causa da
vinda de Cristo que a santificou com a sua presença física, a África recebeu um apelo
particular para conhecer Cristo. Que os africanos se sintam orgulhosos disso!”
Bento
XVI considera que, “aprofundando espiritual e teologicamente esta primeira etapa da
kenose, o africano poderá encontrar as forças suficientes para enfrentar o seu dia
a dia às vezes muito duro; poderá descobrir imensos espaços de fé e de esperança que
o ajudarão a crescer em Deus”.
Evocando, em breves traços, o lento avançar
da evangelização no continente africano, Bento XVI deteve-se especialmente nos últimos
dois séculos, quando a África subsaariana viu chegar missionários, homens e mulheres,
provenientes de todo o Ocidente, da América Latina e mesmo da Ásia. Prestando “homenagem
à generosidade da sua resposta incondicional ao apelo do Senhor e ao seu ardente zelo
apostólico”, o Papa quis desde logo referir também “os catequistas africanos, companheiros
inseparáveis dos missionários na evangelização”.
“Leigos com os leigos, souberam
encontrar na língua de seus pais as palavras de Deus que tocaram o coração dos seus
irmãos e irmãs. Souberam partilhar o sabor do sal da Palavra e fazer resplandecer
a luz dos Sacramentos que anunciavam. Acompanharam as famílias no seu crescimento
espiritual, encorajaram as vocações sacerdotais e religiosas, e serviram de ligação
entre as suas comunidades e os presbíteros e os bispos. Com naturalidade, realizaram
uma eficaz inculturação que deu maravilhosos frutos. Foram os catequistas que permitiram
que a luz brilhasse diante dos homens.”
Bento propôs-se entretanto
adiantar “qualquer reflexão sobre o tema específico da Segunda Assembleia Especial
para a África do Sínodo dos Bispos, relativo à reconciliação, à justiça e à paz”.
A
Igreja – sublinhou o Papa – “deve ser uma comunidade de pessoas reconciliadas com
Deus e entre si mesmas”, para poder “anunciar a Boa Nova da reconciliação à sociedade
actual, que infelizmente conhece, em numerosos lugares, conflitos, violências, guerras
e ódio”. A África, aliás, “foi e é ainda triste cenário de graves tragédias que reclamam
por uma verdadeira reconciliação entre os povos, as etnias, os homens”.
“Que
pode haver de mais dramático, no actual contexto sócio-político e económico do continente
africano, do que a luta frequentemente sangrenta entre grupos étnicos ou povos irmãos?
(…) Os conflitos locais ou regionais, os massacres e os genocídios que sucedem no
continente devem-nos interpelar de maneira muito particular: se é verdade que, em
Jesus Cristo, pertencemos à mesma família e partilhamos a mesma vida, dado que, nas
nossas veias, circula o mesmo Sangue de Cristo, que fez de nós filhos de Deus, membros
da Família de Deus, então não deveria haver mais ódios, injustiças e guerras ente
irmãos.”
Bento XVI recordou que, “ao constatar o avanço da violência e a aparição
do egoísmo em África, o Cardeal Bernardin Gantin, fazia apelo, desde 1988, a uma Teologia
da Fraternidade”. Na memória, tinha talvez aquilo que escrevia o africano Lactâncio
ao alvorecer do século IV: «O primeiro dever da justiça é reconhecer o homem como
um irmão. De facto, se o mesmo Deus nos fez e nos gerou a todos na mesma condição,
que aponta para a justiça e a vida eterna, estamos seguramente unidos por laços de
fraternidade: quem não os reconhece, é injusto».
Recordando a recente Assembleia
do Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus, o Papa sublinhou que “é a partir desta
Palavra que é preciso valorizar as tradições africanas, corrigir e aperfeiçoar a sua
concepção da vida, do homem e da família”.
“É urgente que as comunidades cristãs
se tornem cada vez mais lugares de profunda escuta da Palavra de Deus e de leitura
meditada da Sagrada Escritura. É por meio desta leitura meditada e comunitária na
Igreja que o cristão encontra Cristo ressuscitado, que lhe fala e devolve a esperança
na plenitude de vida que Ele oferece ao mundo.”
Bento XVI concluiu rezando
com os presentes uma oração invocando Maria, “Protectora da África”.
« Santa
Maria, Mãe de Deus, Protectora da África, tu ofereceste ao mundo a verdadeira
Luz, Jesus Cristo. Pela tua obediência ao Pai e pela graça do Espírito Santo,
tu nos deste a fonte da nossa reconciliação e da nossa justiça, Jesus Cristo,
nossa paz e nossa alegria.
Mãe de ternura e de sabedoria, mostra-nos Jesus,
teu Filho e Filho de Deus, ilumina o nosso caminho de conversão para
que Jesus faça brilhar em nós a sua Glória em todos os âmbitos da nossa vida
pessoal, familiar e social.
Mãe, cheia de Misericórdia e de Justiça, pela
tua docilidade ao Espírito Consolador, concede-nos a graça de sermos testemunhas
do Senhor Ressuscitado, para que sejamos cada vez mais sal da terra e luz
do mundo.
Mãe do Perpétuo Socorro, à tua intercessão materna confiamos a
preparação e os frutos do Segundo Sínodo para a África. Rainha da Paz, rogai
por nós! Nossa Senhora de África, rogai por nós!» (texto integral em "Viagens
apostólicas")