Senhor Presidente, Ilustres Representantes das Autoridades civis, Senhor Cardeal
Tumi, Venerados Irmãos no Episcopado, Amados irmãos e irmãs!
Obrigado
pelas boas-vindas com que me acolhestes. Obrigado, Senhor Presidente, pelas suas amáveis
palavras. Apreciei imenso o convite a visitar os Camarões, e por isso desejo exprimir
a minha gratidão a Vossa Excelência e ao Presidente da Conferência Episcopal Nacional,
D. Tonyé Bakot. Saúdo a todos vós que me honrastes com a vossa presença nesta ocasião,
e desejo que saibais a grande alegria que sinto por me encontrar convosco aqui, em
terra africana, pela primeira vez desde a minha eleição para a Sé de Pedro. Saúdo
afectuosamente os meus Irmãos no Episcopado como também o clero e os fiéis leigos
aqui reunidos. Dirijo uma saudação respeitosa também aos Representantes do Governo,
das Autoridades civis e do Corpo diplomático. Dado que esta Nação, como várias outras
na África, se aproxima do cinquentenário da sua independência, quero juntar a minha
voz ao coro de congratulações e bons votos que os vossos amigos em todo o mundo vos
enviarão nesta feliz ocasião. Com gratidão, registo a presença de membros de outras
Confissões cristãs e seguidores de diversas religiões. Unindo-vos a nós neste dia,
ofereceis um sinal claro da boa vontade e harmonia que existe neste país entre pessoas
de diferentes tradições religiosas. Venho ter convosco como pastor. Venho para
confirmar os meus irmãos e as minhas irmãs na fé. Este foi o dever que Cristo confiou
a Pedro na Última Ceia, e esta é a função dos sucessores de Pedro. Em Jerusalém, no
dia de Pentecostes, quando Pedro pregou à multidão, estavam presentes lá visitantes
também da África. Depois o testemunho de muitos e grandes Santos deste continente
durante os primeiros séculos do cristianismo – São Cipriano, Santa Mónica, Santo Agostinho,
Santo Atanásio, para nomear só alguns – assegura à África um lugar de distinção nos
anais da história da Igreja. Até aos dias de hoje, falanges de missionários e de mártires
continuaram a dar testemunho de Cristo em toda a parte da África, sendo aqui hoje
abençoada a Igreja com a presença aproximada de cento e cinquenta milhões de fiéis.
Muito apropriada se revela, pois, a decisão de o Sucessor de Pedro vir à África para
celebrar convosco a fé vivificante em Cristo, que sustenta e nutre um número assim
tão grande de filhos e filhas deste continente. Foi aqui em Yaoundé, no ano 1995,
que o meu venerado antecessor, Papa João Paulo II, promulgou a Exortação pós-sinodal
Ecclesia in Africa, fruto da Primeira Assembleia Especial para a África do Sínodo
dos Bispos, realizada em Roma no ano anterior. O décimo aniversário daquele momento
histórico foi celebrado com grande solenidade nesta mesma cidade, não há muito tempo.
Vim aqui para apresentar o Instrumentum laboris para a Segunda Assembleia Especial,
que terá lugar em Roma no próximo mês de Outubro. Os Padres do Sínodo reflectirão,
juntos, sobre o tema: «A Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça
e da paz: “Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 13.14)». Quase
dez anos depois da entrada no novo milénio, este momento de graça é um apelo a todos
os Bispos, presbíteros, religiosos e fiéis leigos do continente para se dedicarem
com redobrada força à missão que tem a Igreja de levar esperança aos corações do povo
da África e, desse modo, também aos povos de todo o mundo. Mesmo no meio dos
maiores sofrimentos, a mensagem cristã traz sempre consigo esperança. A vida de Santa
Josefina Bakhita proporciona um admirável exemplo da transformação que o encontro
com o Deus vivo pode gerar numa situação de grande sofrimento e injustiça. Diante
da dor ou da violência, da pobreza ou da fome, da corrupção ou do abuso de poder,
um cristão nunca pode ficar calado. A mensagem salvífica do Evangelho exige ser proclamada,
com força e clareza, de tal modo que a luz de Cristo possa brilhar na escuridão da
vida das pessoas. Aqui na África, como em tantas outras partes do mundo, inumeráveis
homens e mulheres anseiam por ouvir uma palavra de esperança e conforto. Conflitos
locais deixam milhares de desalojados e necessitados, de órfãos e viúvas. Num continente
que no passado viu muitos de seus habitantes cruelmente raptados e levados para além-mar
a fim de trabalhar como escravos, o tráfico de seres humanos, especialmente de inermes
mulheres e crianças, tornou-se uma moderna forma de escravatura. Num tempo de global
escassez alimentar, de confusão financeira, de modelos causadores de alterações climáticas,
a África sofre desconformemente: um número crescente de seus habitantes acaba prisioneiro
da fome, da pobreza e da doença. Estes clamam por reconciliação, justiça e paz; e
isto é precisamente o que a Igreja lhes oferece. Não novas formas de opressão económica
ou política, mas a liberdade gloriosa dos filhos de Deus (cf. Rom 8, 21). Não a imposição
de modelos cultuais que ignoram o direitos à vida dos nascituros, mas a pura água
salvífica do Evangelho da vida. Não amargas rivalidades inter-étnicas ou inter-religiosas,
mas a rectidão, a paz e a alegria do Reino de Deus, descrito de modo muito apropriado
pelo Papa Paulo VI como «civilização do amor» (cf. Alocução ao Regina caeli, Pentecostes
de 1970). Aqui, nos Camarões, onde mais de um quarto da população é católica,
a Igreja está em boas condições para levar por diante a sua missão a favor da saúde
e da reconciliação. No Centro Cardeal Léger, poderei dar-me conta pessoalmente da
solicitude pastoral desta Igreja local pelas pessoas doentes e atribuladas; merecedor
de particular encómio é o facto de os doentes de sida sejam gratuitamente tratados.
O empenho educativo é outro elemento-chave do serviço da Igreja e agora vemos os esforços
de gerações de missionários professores dar o seu fruto na obra da Universidade Católica
da África Central, um sinal de grande esperança para o futuro da região. De facto,
os Camarões são terra de esperança para muitos na África Central. Milhares de refugiados,
vindos dos países da região devastados pela guerra, encontraram aqui acolhimento.
Esta é uma terra de vida, com um Governo que fala claramente em defesa dos direitos
dos nascituros. Esta é uma terra de paz: ao resolverem pelo diálogo a disputa na península
Bakassi, os Camarões e a Nigéria mostraram ao mundo que uma paciente diplomacia pode
realmente dar fruto. Esta é uma terra de jovens, abençoada com uma população jovem
plena de vitalidade e impaciente por construir um mundo mais justo e pacífico. Justamente
os Camarões são descritos como uma «África em miniatura», pátria de mais de duzentos
grupos étnicos diferentes que vivem em harmonia uns com os outros. Tudo isto são razões
para louvar e agradecer a Deus. Ao chegar hoje ao vosso meio, rezo pela Igreja,
aqui e por toda a África, para que possa continuar a crescer na santidade, no serviço
à reconciliação, à justiça e à paz. Rezo para que o trabalho da Segunda Assembleia
Especial do Sínodo dos Bispos possa atear a chama dos dons que o Espírito derramou
sobre a Igreja na África. Rezo por cada um de vós, pelas vossas famílias e entes queridos,
e peço que vos junteis a mim na oração por todos os habitantes deste vasto continente.
Deus abençoe os Camarões! Deus abençoe a África!