Cidade do Vaticano, 12 mar (RV) – Foi apresentada, esta manhã, na Sala de Imprensa
da Santa Sé, a “Carta de Bento XVI aos Bispos da Igreja Católica, sobre a remissão
da excomunhão dos quatro bispos consagrados pelo arcebispo Lefébvre”.
A Carta,
dirigida aos Bispos da Igreja Católica, consiste num esclarecimento das intenções
do papa e dos órgãos da Santa Sé, para “contribuir para a paz na Igreja”, após “uma
discussão veemente” que há muito tempo não se verificava. A Carta foi iniciada em
meados de fevereiro e concluída antes dos Exercícios Espirituais do Papa e da Cúria
Romana.
No documento, Bento XVI reflete sobre as “desventuras ou erros”, que
influenciaram negativamente no “caso Williamson” e o equívoco que, com a remissão
da excomunhão, pudesse alterar o caminho da reconciliação entre cristãos e judeus,
a partir do Concílio. O Santo Padre reconhece uma informação insuficiente e agradece
os “amigos judeus”, que ajudaram a superar o mal-entendido e a restabelecer a atmosfera
de confiança.
Após a apresentação da Carta do Papa, o Diretor da Sala de Imprensa
da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, fez um longo comentário sobre este difícil esforço
de reconciliação.
O documento, diz Padre Lombardi, é inusual e digno da máxima
atenção. Até agora, Bento XVI jamais havia se pronunciado de forma tão pessoal e intensa
sobre um assunto semelhante em seu pontificado. Ele viveu o acontecimento da remissão
da excomunhão e suas respectivas reações com evidente participação e sofrimento.
Com
lucidez e humildade, o pontífice reconhece as limitações e erros, que influenciaram
negativamente no caso, manifestando a sua solidariedade com seus colaboradores.
Bento
XVI quer, com a sua Carta, esclarecer a natureza, o significado e as intenções sobre
a remissão da excomunhão. Ele explica que a excomunhão era apenas uma punição às pessoas
que colocavam a risco a unidade da Igreja, sem reconhecer a autoridade do papa.
Diante
das questões levantadas por muitos: “Era realmente necessário adotar a medida de remissão
da excomunhão? Não há questões mais importantes e urgentes na Igreja?”
A resposta
a estas perguntas ocupa mais da metade de toda a Carta do Papa, explica o Diretor
da Sala de Imprensa da Santa Sé.
De modo sintético, Bento XVI recorda as grandes
prioridades do seu pontificado, bem conhecidas desde o início: levar os homens a Deus;
unidade dos cristãos; diálogo entre os crentes em Deus a serviço da paz; testemunho
da caridade na dimensão social da vida cristã.
O Santo Padre convida, depois,
seus interlocutores a uma profunda reflexão pessoal e eclesial, com base no critério
da “reconciliação com o irmão”.
Enfim, o papa conclui seu documento com um
convite ao amor, como prioridade absoluta do cristão, e com um auspício profundo de
paz na comunidade eclesial. Logo, ele nos encaminha, com decisão e coragem, ao Evangelho,
como critério fundamental e último, não apenas da vida cristã e eclesial, mas também
do seu governo da Igreja.
Somente por meio de uma conversão ao Evangelho, conclui
Padre Lombardi, podemos esperar uma superação das divisões, como também a compreensão
da profunda convergência da Tradição e do Concílio. Desta forma, podemos compreender
que o nosso papa, expondo-se em primeira pessoa também em situações de crise, nos
guia a reencontrar o ponto essencial, mais profundo e radical, do qual retomar nosso
caminho. (MT)