Santa Sé pede que seja valorizada a actividade assistencial da mulher, em casa
(11/3/2009) A assistência aos doentes é um trabalho realizado mais por mulheres no
âmbito mundial e é injustamente desvalorizado: afirmou D.Celestino Migliore, núncio
apostólico e observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas que pronunciou um
discurso no Conselho Económico e Social na 53ª sessão da Comissão sobre o status
da mulher. Nesta ocasião mostrou a preocupação da Santa Sé pela «distribuição
equitativa das responsabilidades assistenciais entre homens e mulheres». O prelado
afirmou que considerar a assistência como um aspecto fundamental da vida humana tem
«implicações profundas, especialmente para o reconhecimento da dignidade da mulher». Esta,
de fato, implica «programas, políticas e tomada de decisões, assim como posturas pessoais
e compromisso pelo bem-estar de todos». Os seres humanos «não são só criaturas autónomas
e iguais, mas também interdependentes e que, apesar de seu status social e o momento
vital em que se encontrem, podem precisar de assistência». A superação do dilema
entre autonomia e dependência «favorece também uma nova visão da obra de assistência,
que não pode atribuir-se só a certos grupos, como mulheres e imigrantes, mas deve
ser compartilhada por homens e mulheres, tanto em casa como no sector público». Concretamente,
no caso dos portadores do HIV, o trabalho assistencial domiciliar dentro das famílias
e das pequenas comunidades é o meio mais adequado para que «não se associe o estigma
social» à doença. Infelizmente – lamentou –, a assistência no domicílio quase não
se reconhece, e muitos assistentes «enfrentam situações financeiras precárias», já
que quase não recebem nada dos fundos que se destinam a combater esta doença. O
valor da assistência «A assistência deveria converter-se num aspecto fundamental
do debate público e assumir uma relevância que seja capaz de modelar a vida pública,
dando aos homens e às mulheres a capacidade de preocupar-se mais pelas necessidades
dos demais», declarou. Este trabalho, mal remunerado e desgastante devido ao seu
escasso reconhecimento, está a ser levado a cabo mais por mulheres pobres e imigrantes.
«Em sociedades caracterizadas por importantes transformações demográficas, por sistemas
familiares, ocupacionais e assistenciais inadequados, as mulheres imigrantes respondem
ao pedido de assistência de crianças, doentes, idosos e deficientes graves». Em
muitas partes do mundo, este trabalho assistencial, não regulamentado, em condições
difíceis e com explorações de todo otipo, tem como consequência o facto de muitas
mulheres que o realizam se encontrarem em situação de vulnerabilidade e isolamento
social. Neste sentido, os governos «deveriam reconhecer que as instituições públicas
estão a ser aliviadas de trabalho graças à assistência familiar e, portanto, deveriam
adoptar normas e leis que a protejam», também do ponto de vista migratório. Entre
outras iniciativas, D. Celestino Migliore propõe que se dê uma formação profissional
adequada a estas mulheres, em elementos de saúde, psicologia, higiene etc. «revalorizando
a sua inestimável atitude e evitando as situações de exploração». O trabalho de
assistência, concluiu o prelado, «é capaz de criar um processo de democratização da
sociedade e de promover a consciência pública sobre a justiça social e efectiva, assim
como a igualdade real entre homens e mulheres».