Belém, 06 mar (RV) - Repercute na Europa a denúncia de Dom José Luis Azcona
Hermoso, bispo de Marajó, de uma rede de exploração sexual de mulheres, meninas e
meninos em sua prelazia. O bispo espanhol, que vive no Brasil desde 1985, está ameaçado
de morte desde que divulgou a existência da rede, que opera na região entre as diferentes
ilhas das costas fluviais e oceânicas.
Dom José, que dispensa a escolta, temendo
pela vida dos guardas, é o terceiro bispo que vive sob ameaça no Pará, depois de Dom
Erwin Kreutler, bispo de Altamira, e Dom Flávio Giovenale, de Abaetetuba. Por revelar
os abusos contra o povo e as contradições do modelo de desenvolvimento da região,
que não leva em conta os direitos dos moradores, constam de uma lista de 200 nomes
marcados para morrer.
Segundo Dom José Luis, nas cidades de Breves e Portel,
no Marajó, meninos e meninas entre 11 e 16 anos se prostituem em navios e balsas que
transportam mercadorias no rio Amazonas. O problema não se limita a estas cidades.
Em troca de alimentos ou combustível, as crianças se aproximam das embarcações em
pequenos botes e oferecem serviços sexuais. Em muitos casos, os pais são coniventes,
mas em outros, os menores se tornam vítimas de redes organizadas que os enviam a bordéis,
onde sofrem abusos de comerciantes, médicos e professores e até mesmo de políticos
locais e autoridades - conforme denuncia o bispo de Marajó.
Após 5 anos de
denúncias de Dom José Luis, a Assembléia Legislativa do Pará formou uma comissão parlamentar
que está investigando o caso.
Os senadores Magno Malta, José Nery, Geraldo
Mesquita e Romeu Tuma estão ouvindo testemunhas. Ao chegarem a Belém, quarta-feira,
receberam de movimentos sociais e entidades de defesa dos direitos humanos um manifesto
exigindo a punição dos envolvidos nos crimes de pedofilia.
Dom José Luis explica
que a Marinha brasileira não tem condições de controlar a extensa região de fronteira.
Armas, drogas e mulheres passam pela desembocadura do Amazonas em direção à Guiana
e ao Suriname. Algumas das vítimas são menores e acabam forçadas a trabalhar em regime
de escravidão; muitas vão trabalhar em prostíbulos na Holanda e na Espanha.
Entidades
como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Central Única dos Trabalhadores
(CUT), Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) e Intersindical, pediram à Comissão
Justiça e Paz para acompanhar os trabalhos da CPI.
“A Comissão Justiça e Paz
faz parte da rede de enfrentamento à exploração de crianças. Vamos ficar o dia inteiro
fazendo barulho”, afirmou Irmã Henriqueta, da CNBB. A religiosa adiantou que o bispo
de Marajó, Dom José Luiz Azcona, chega hoje à noite e deve depor ainda hoje. (CM)