Bagdá, 02 mar (RV) - Temores e esperanças acompanham o anúncio feito neste
fim de semana pelo governo norte-americano, da retirada definitiva de seus militares
do Iraque. Encontrando os marines que estão partindo para o Afeganistão, o presidente
dos Estados Unidos, Barack Obama assegurou que até o dia 31 de agosto de 2010 o exército
norte-americano deixará o país, seis anos depois do início da guerra. A repatriação
dos 142 mil militares será realizada em duas etapas por razões de segurança, mas o
plano de retirada suscita de várias partes perplexidade: o temor é que o país seja
deixado sem controle em condições de instabilidade e violência. A Rádio Vaticano conversou
com Mons. Philip Najim, visitador apostólico para os fiéis Caldeus na Europa.
R.
Não devemos esquecer que as forças da coalizão declararam oficialmente que são uma
força de ocupação do país, por isso deixar hoje o Iraque, de um lado está correto,
mas de outro não, porque hoje o Iraque não possui uma força capaz de defender o povo
iraquiano, porque se trata de um exército fraco, que ainda não está equipado, não
é capaz de dirigir militarmente este país. É um exército que não é 100% patriótico,
nacional; temos necessidade de uma reconciliação entre as seções políticas que possam
criar um exército que olhe para os interesses do povo iraquiano, para poder criar
um Estado independente, soberano, que possa defender si mesmo e possa também realizar
uma vida democrática.
P. Como foi acolhida a notícia pela população? Prevalecem
os temores ou as esperanças? R. Os dois sentimentos se encontram neste momento
nos corações do povo iraquiano. O temor existe porque não podemos deixar, neste momento,
o Iraque sozinho com a sua fraqueza; porque deve adquirir uma vida sã, patriótica,
nacional, que possa realizar uma política em favor do homem, do crescimento do Iraque;
um Estado capaz de dirigir a economia. Por isso existem temores, mas existem também
esperanças, porém são mais temores do que esperanças.
P. Quais possíveis repercussões
sobre a situação dos cristãos no País? Teme-se um aumento das violências e das perseguições?
R. O sofrimento diz respeito a todos os iraquianos. Todas as etnias do povo
iraquiano sofreram perseguições, seja a muçulmana, seja a cristã, e continuam a sofrer,
infelizmente, porque neste momento existe um Estado fraco. Durante todos esses anos
de presença das tropas norte-americanas, os cristãos sofreram muito: suas igrejas
foram atingidas, também foram atingidos os líderes ecelsiásticos que deram testemunho
da sua fé, do amor pela sua pátria: se este país não adquire a sua força, a sua dignidade
e a sua soberania, através de um exército que defende a pátria, não será possível
ir em frente.
P. Desde o início da guerra, seis anos atrás, como mudou a situação
dos cristãos no Iraque?
R. Foram feitos pequenos passos avante, através do
governo atual do Iraque, que procurou criar uma situação de segurança, sem conseguir
totalmente. Por isso, esses seis anos de guerra, de invasão, criaram uma situação
muito difícil para os cristãos: milhares e milhares deles deixaram o país para poder
encontrar uma vida mais segura, pois vimos nestes seis anos, que a pessoa iraquiana
perdeu a sua dignidade dentro de seu país, através da invasão e os vários grupos políticos,
que não colocaram o interesse do povo iraquiano em primeiro lugar. Essa situação,
por seis anos, criou um grande problema para o Iraque, e os países europeus não fizeram
muito. (SP)