O nosso jejum e a fome de tantas crianças: Mensagem do Bispo de Coimbra para a Quaresma
2009
(1/3/2009) Vamos iniciar a celebração da Quaresma e, com ela, o caminho que nos deve
conduzir à Páscoa de Jesus vivida neste ano de 2009. Será Páscoa de Jesus, que
a Igreja viverá com Ele; e bom que é que esta Páscoa da Igreja cada cristão a experimente
na sua vida pessoal, integrando-se, pelos sentimentos e pela prática, na assembleia
de oração a que pertence. 2.Nas comunidades de toda a Igreja vai proclamar-se
a palavra de Deus, que sabiamente nos propõe os caminhos garantidos milenarmente experimentados
para celebrarmos uma Páscoa verdadeiramente cristã, que seja morte e ressurreição
com Jesus, que seja morte para o pecado e ressurreição para uma vida nova, aquela
vida que se iniciou em nós pelo Baptismo. Esses caminhos são os de escuta de Deus,
da oração mais frequente, da penitência e do jejum, do amor ao próximo. 3.na sua
mensagem para a Quaresma do presente ano o Santo Padre Bento XVI valoriza particularmente
o jejum, acentuando que ele não é mera prática do passado mas um meio que nos é proposto
a todos nós, entorpecidos pelo pecado e suas consequências, como muito conveniente
para restabelecermos a amizade com o Senhor. Efectivamente, privando-nos do alimento
corporal, dispomo-nos a aceitar outro alimento: “O verdadeiro jejum destina-se a comermos
o verdadeiro alimento, que é fazer a vontade do Pai”. Lembra também o Santo Padre
que esta antiga prática penitencial “pode ajudar-nos a mortificar o nosso egoísmo
e a abrir o coração ao amor de Deus e do próximo”, levando-nos a “tomar consciência
da situação em que vivem tantos irmãos nossos” nos dias de hoje e por vezes À nossa
porta. 4.Nesta perspectiva e sublinhando agora a dimensão da ajuda fraterna nos
caminhos da Quaresma, quero lembrar aos membros da Igreja Diocesana de Coimbra as
considerações arrojadas do mesmo Papa sobre a pobreza no mundo incluídas na sua Mensagem
para o último Dia Mundial da Paz, mensagem em que a pobreza das crianças ganha particular
evidência. Assim, fazendo-nos eco das mensagens do Santo Padre e unindo ao jejum
uma generosa prática do amor cristão, vamos tornar como destino da nossa campanha
de renúncia quaresmal o auxílio a crianças que experimentam privações. Concretizaremos
este auxílio no apoio à Casa de Mira da Obra do Frei Gil e na organização de uma colónia
de férias para filhos de desempregados. 5.Que estes motivos e práticas para a
vivência de uma autêntica Quaresma cristã não se reduzam à realização de um peditório
em um qualquer Domingo do tempo quaresmal. Que eles sejam frequentemente presentes
nas mensagens e nas orientações dos pastores; em propósitos de grupos apostólicos
e de espiritualidade; nas conversas e nos gestos das famílias cristãs, onde as próprias
crianças são por vezes as mais genuinamente generosas. Deixo a informação de que,
na anterior Quaresma, a nossa campanha permitiu/nos distribuir 29 800 euros por uma
casa de formação para raparigas de São Tomé e Príncipe e uma actividade sócio-pastoral
em Santiago de Cabo Verde, a que se juntaram mais 1650 euros enviados para o fundo
assistencial da Conferência Episcopal Portuguesa. Que o apóstolo São Paulo seja
para nós exemplo provocante, ele que tanto se empenhou em reunir as ofertas das suas
Igrejas para acudir à pobreza da Igreja de Jerusalém. +Albino Mamede Cleto, Bispo
de Coimbra