PAPA PRESIDE À BÊNÇÃO E IMPOSIÇÃO DAS CINZAS NO BAIRRO ROMANO DO AVENTINO
Cidade do Vaticano, 26 fev (RV) - Ontem quarta-feira de Cinzas, teve início
o tempo forte da Quaresma, em preparação à Páscoa do Senhor.
À tarde, pelas
16h00, Bento XVI deixou o Vaticano e se dirigiu, de automóvel, ao bairro do Aventino,
em Roma, para presidir, na Basílica de Santa Sabina à celebração Eucarística, com
o rito da bênção e imposição das cinzas. A celebração foi precedida de uma procissão
penitencial, que partiu da vizinha igreja de Santo Anselmo, dos monges beneditinos.
Durante
a Santa Missa, o Santo Padre recebeu a imposição das cinzas das mãos do prefeito emérito
da Congregação para a Evangelização dos Povos, o idoso Cardeal Jozef Tomko, que é
titular da Basílica de Santa Sabina, dos Padres Dominicanos. Por sua vez, o papa impôs
as cinzas sobre o Cardeal Tomko e sobre outros cardeais, arcebispos e fiéis presentes.
Em
sua longa homilia, o Santo Padre refletiu sobre o evento de ontem, quarta-feira de
Cinzas, porta litúrgica que introduz à Quaresma. Os textos da celebração traçam, embora
sumariamente, toda a fisionomia do tempo quaresmal.
A Igreja, disse o papa,
se preocupa em mostrar-nos qual a orientação que o nosso espírito deve seguir e nos
fornece os subsídios divinos para percorrer, com decisão e coragem, o singular itinerário
espiritual que estamos iniciando.
Em sua reflexão, o pontífice fez um apelo
à conversão, que emergia como tema dominante em todas as partes da liturgia de ontem:
o Senhor esquece e perdoa os pecados dos que se convertem; Ele convida o povo cristão
a rezar, para que cada um empreenda “um caminho de verdadeira conversão”.
Na
página evangélica, Jesus adverte sobre a traça da vaidade, que causa ostentação e
hipocrisia, superficialidade e auto-complacência; Ele reafirma a necessidade de nutrir
a retidão do coração e mostra, ao mesmo tempo, a maneira para crescer na pureza de
intenções: cultivar a intimidade com o Pai celeste. E o papa acrescentou:
“Particularmente
agradável neste ano jubilar, comemorativo do bimilenário do nascimento de São Paulo,
nos é proposta a palavra da segunda Carta aos Coríntios: “Suplicamo-lhes, em nome
de Cristo: deixem-se reconciliar com Deus”. Este convite do Apóstolo, disse
Bento XVI, soa como um ulterior estímulo para levar a sério o apelo quaresmal à conversão.
Paulo experimentou, de modo extraordinário, o poder da graça de Deus, a graça do Mistério
pascal da qual também vive a quaresma. Ele se apresenta a nós como “embaixador” do
Senhor. E o papa se perguntou:
“Quem, então, melhor do que ele, pode ajudar-nos
a percorrer de modo frutuoso este itinerário de conversão interior? Ele recorda na
primeira Carta a Timóteo: “Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, o
primeiro dos quais sou eu”. E acrescenta: “Mas, precisamente por isso obtive misericórdia,
porque Jesus Cristo quis demonstrar, primeiramente em mim, toda a sua magnanimidade,
para que eu servisse de exemplo para aqueles que teriam acreditado nele para ter a
vida eterna”. Portanto, o Apóstolo tem a consciência de ter sido escolhido
como exemplo para os cristãos, sobretudo no que diz respeito à conversão e à transformação
da sua vida, realizada graças ao amor misericordioso de Deus. De fato, ele recorda
que “antes, era um homem blasfemador, perseguidor, violento... mas, a graça do Senhor
superabundou em sua pessoa. E o pontífice explicou:
“Toda a sua pregação
e, ainda antes, toda a sua existência missionária, foram sustentadas por um impulso
interior, que pode ser comparado à experiência fundamental da graça: “Pela graça de
Deus, eu sou aquele que sou”. Esta consciência emerge em todos os seus escritos e
serviu como “leva” interior, sobre a qual Deus pôde agir, levando-o para ulteriores
confins não apenas geográficos, mas também espirituais”.
Por isso, São
Paulo reconhece que tudo que atua nele é obra da graça de Deus, mas é preciso aderir
livremente ao dom da vida nova recebida no Batismo. E o papa se pergunta novamente:
como levar a cumprimento a vocação batismal? Como ser vitoriosos na luta entre a carne
e o espírito, entre o bem e o mal, que marca a nossa existência? E respondeu:
“No
trecho evangélico, o Senhor nos indica, hoje, três meios úteis: a oração, a esmola
e o jejum. Em relação à oração, ele exorta a perseverar e a vigiar e a “rezar ininterruptamente.
Quanto à esmola, a caridade é o cume da vida do cristão, o vínculo da perfeição. O
Apóstolo não fala expressamente do jejum, mas exorta, porém, à sobriedade, como característica
de quem é chamado a viver em vigilante espera do Senhor”. Eis, portanto, afirmou
o Santo Padre, a vocação dos cristãos: ressuscitados com Cristo, eles passam da morte
para a sua vida, que se encontra em Cristo.
O papa concluiu sua homilia dizendo
que, enquanto recebemos as cinzas em nossas cabeças, como sinal de conversão e penitência,
devemos abrir o nosso coração à ação vivificante da Palavra de Deus.
A quaresma,
marcada por uma escuta freqüente desta Palavra, por uma intensa oração, por um estilo
de vida austero e penitencial, deve servir de estímulo à conversão e ao amor sincero
para com os irmãos, especialmente com os mais pobres e necessitados.
Ao término
da Santa Missa e da imposição das Cinzas, Bento XVI deixou a Basílica de Santa Sabina
e regressou, de automóvel, para o Vaticano. (MT)