Em Portugal a Quaresma será marcada por apelos em favor da partilha e da solidariedade
(25/2/2009) A crise económica e financeira mundial que ganha impactos particulares
na sociedade portuguesa é a preocupação dominante dos Bispos portugueses. As consequências
sociais são uma realidade próxima de quem acompanha a vida em cada diocese, traçando
um quadro de atenção aos mais pobres, sejam famílias carenciadas, os sem-abrigo ou
crianças. A atenção cristã e solidária está patente nos destinos das renúncias
quaresmais de 2009. D. Manuel Quintas, bispo do Algarve, indica que os cristãos não
podem “ficar surdos ao clamor dos pobres ou fechar o coração diante do sofrimento
dos outros” perante a “insegurança e a instabilidade geradas pela crise financeira,
económica e social em que vivemos”. Já D. Manuel Pelino, Bispo de Santarém, dá conta
de um “momento de profunda crise da economia que se traduz numa crise social que a
todos atinge e preocupa. Cada vez há mais necessitados”. Mas se as mensagens se
revestem de alertas, não ganham a forma de lamentos. Vários bispos afirmam que a crise
constituiu uma oportunidade para mudar de vida. D. Manuel Pelino indica ser uma ocasião
para “rever o modelo de sociedade e o estilo de vida pautado pelo consumismo desenfreado”.
O bispo de Santarém evoca em especial os cristãos, para quem esta situação é um convite
“a pôr em prática o estilo de vida evangélico, mais simples e austero, menos consumista
e menos egoísta, menos centrado em cada um e mais solidário”. Também D. Januário Torgal
Ferreira, bispo das Forças armadas e de Segurança apela “à coerência e à moderação”.
D. António de Sousa Braga, bispo de Angra, fala num “salto de qualidade na civilização
humana”. A diocese de Leiria – Fátima, com vista à praxis cristã, elegeu o centro
de acolhimento da paróquia da Sé de Leiria e a Comunidade Vida e Paz, concretamente
na ajuda aos sem-abrigo, pois, indica o bispo, “num ano marcado pela crise sócio-económica
as primeiras vítimas são os mais pobres”. A diocese de Lisboa volta-se para as
crianças da Casa do Gaiato, apostada em continuar a obra do Padre Américo que promoveu
a educação e reintegração de crianças e jovens em risco. Coimbra vai apoiar também
os mais pequenos da Casa de Mira da Obra do Frei Gil, privilegiando ainda as crianças,
cujos pais estão desempregados, com uma colónia de férias. As crianças de Setúbal
vão ter também a ajuda do Ordinariato Castrense, que vai apoiar a Congregação das
Missionárias da Caridade. Famílias carenciadas A preocupação com a Igreja
doméstica é recorrente no episcopado português. Afectadas por créditos e endividamentos,
desemprego ou empregos precários, são muitos os casos que chegam aos responsáveis
diocesanos, quer directamente quer também através das Caritas. Algumas dioceses,
já consequência do aumento da pobreza e dos pedidos de ajuda, constituíram, em anos
anteriores, Fundos Sociais diocesanos. Angra dispõe também de um Fundo de Solidariedade
de ajuda às famílias em maiores dificuldades apostada em quebrar o “fosso entre pobres
e ricos”. D. Jorge Ortiga, centrando a ajuda na Caritas Arquidiocesana, vai criar
um espaço capaz de recolher, durante todo o ano, tudo o que “seja útil aos pobres
(material) e que, para nós, seja desnecessário”. Será a Casa Alavanca a dar resposta
aos inúmeros casos de desemprego que o Arcebispo de Braga acompanha. D. Jorge sublinha
mesmo que a situação social “pede alguma coisa dos cristãos". Ajuda internacional
Conscientes que a crise não afecta exclusivamente os portugueses e dando continuidade
aos laços que a Igreja no nosso país mantêm com as Igrejas lusófonas, os bispos portugueses
destinam parte da renúncia quaresmal ao países lusófonos. Aveiro vai ajudar a
“Igreja de Benguela que desde há vários anos partilha com Aveiro o dom dos seus sacerdotes”,
explica D. António Francisco dos Santos, bispo da cidade dos moliceiros. Portalegre
e Castelo Branco vão ajudar São Tomé e Príncipe, num projecto aviário na Roça “Bôbô
Fôrro”, uma exploração agrícola e pecuária pertencente à Caritas daquele país africano.
Também Lisboa mantém um “Fundo de Ajuda Inter-Eclesial”, através do qual presta ajuda
a Igrejas mais pobres espalhadas pelo mundo.