2009-02-21 12:51:55

Não ceder ao eugenismo, que se apresenta hoje sob novas formas: exortação do Papa em discurso à Academia Pontifícia para a Vida. "Qualquer discriminação em relação a pessoas, povos ou etnias, tendo como base factores genéticos, é atentado contra a humanidade"


“Qualquer discriminação exercida por qualquer poder em relação a pessoas, povos ou etnias em razão de diferenças reconduzíveis a alegados factores genéticos é um atentado contra a humanidade”. “A confiança na ciência não pode fazer esquecer o primado da ética, quando está em jogo a vida humana”. Advertências de Bento XVI, recebendo neste sábado de manhã, no Vaticano, aos membros da Pontifícia Academia para a Vida e aos participantes no Congresso que teve lugar nestes dias sobre “As novas fronteiras da genética e o risco de eugenética”. A Academia para a Vida foi instituída por João Paulo II em 1994, sob a presidência do professor Jerôme Lejeune, cientista francês.
Evocando o caminho percorrido pela genética, desde que o abade agostiniano Gregório Mendel descobriu, em meados do século XIX, as leis da hereditariedade dos caracteres, Bento XVI sublinhou o “lugar de particular relevo que a genética moderna ocupa no seio das disciplinas biológicas que contribuíram para o prodigioso desenvolvimento dos conhecimentos sobre a arquitectura invisível do corpo humano e os processos celulares e moleculares que presidem às suas múltiplas actividades”.
“Permanece ainda hoje muito aberto o âmbito da investigação e cada dia se entrevêem novos horizontes em larga parte ainda por explorar. Nestes âmbitos tão enigmáticos e preciosos requer especial apoio o esforço do investigador; não pode portanto faltar a colaboração entre as diferentes ciências como suporte para chegar a resultados concretos que sejam eficazes e ao mesmo tempo produtores de autêntico progresso para toda a humanidade”.
Há-de se evitar assim “o risco de um difuso reducionismo genético, que tende a identificar a pessoa exclusivamente com a referência à informação genérica e às suas inter-acções com o ambiente” – advertiu o Papa. “É necessário reafirmar que o homem será sempre muito maior do que tudo o que forma o seu corpo. De facto, o homem leva em si a força do pensamento, sempre em busca da verdade sobre si e sobre o mundo”. O Papa citou, neste contexto, Blaise Pascal, “um grande pensador que foi também um bravo cientista”, que escrevia que o homem “é um junco pensante”.
“Cada ser humano é, portanto, muito mais do que uma singular combinação de informações genéticas transmitidas pelos pais. A geração do homem nunca poderá ser reduzida a uma mera reprodução de um novo indivíduo da espécie humana, como acontece com um animal qualquer. Cada aparecer no mundo de uma pessoa é sempre uma nova criação”.
“Se se quiser entrar no mistério da vida humana, é pois necessário – prosseguiu ainda o Papa – que nenhuma ciência se isole, pretendendo possuir a última palavra. Pelo contrário, há que partilhar a vocação comum, para chegar à verdade, embora na diferença das metodologias e dos conteúdos próprios de cada ciência”.
Fixando-se, finalmente, no tema do Congresso agora promovido pela Academia para a Vida, Bento XVI deteve-se a considerar os riscos da eugenética, partindo das “inauditas formas de autêntica discriminação e violência” praticadas no passado. Na realidade, “a desaprovação em relação à eugenética utilizada com a violência de um regime de Estado ou fruto do ódio para com um estirpe ou uma população, está tão radicada nas consciências que encontrou expressão formal na Declaração universal dos direitos do homem”. E contudo, “também nos nossos dias surgem preocupantes manifestações desta odiosa prática, que se apresenta sob novos aspectos”.
“Toda e qualquer discriminação exercida por qualquer poder em relação a pessoas, povos ou etnias tendo como base diferenças reconduzíveis a reais ou alegados factores genéticos é um atentado com toda a humanidade. Há que reafirmar com vigor a igual dignidade de cada ser humano pelo próprio facto de ter vindo à luz”.

“Há que consolidar a cultura do acolhimento e do amor, que testemunham concretamente a solidariedade para com quem sofre, abatendo as barreiras que muitas vezes a sociedade eleva, discriminando quem é deficiente ou afectado de patologias, ou – pior ainda – chegando a seleccionar ou recusar a vida em nome de um ideal abstracto de saúde e de perfeição física.”.
"Se o homem vem reduzido a objecto de manipulação experimental desde os primeiros estádios do seu desenvolvimento, isso significa que as biotecnologias médicas se rendem ao arbítrio do mais forte. A confiança na ciência não pode fazer esquecer o primado da ética, quando está em jogo a vida humana”.








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