Defender o progresso científico, mas sem auto.impor como deus: advertiu o presidente
da Academia Pontifícia para a Vida na abertura do Congresso sobre eugenética, no Vaticano
Há que defender sempre o progresso científico ao serviço do bem. Mas o homem tem que
pôr de lado a tentação de querer-se substituir a Deus: sublinhou o arcebispo D. Rino
Fisichella, intervindo na abertura do Congresso que decorre a partir desta sexta-feira,
no Vaticano, sobre “As novas fronteiras da genética e o risco de eugenética”, promovida
pela Academia Pontifícia para a Vida. Os congressistas serão recebidos neste sábado
pelo Papa.
“Todas as conquistas científicas comportam inevitavelmente o olhar
do Janus bifronte, que mostra a beleza e ao mesmo tempo a tragicidade” – anotou o
presidente da Academia Pontifícia para a Vida, que advertiu para o facto de, hoje
em dia, existir efectivamente “o risco de uma deriva eugenética”, sobretudo em razão
de “uma mentalidade que tende a difundir-se, lenta mas inexoravelmente”.
Evitando
uma visão reducionista do ser humano, há que “ter sempre presente a concepção unitária
da pessoa; o corpo, embora sendo uma componente essencial, não esgota a globalidade
da pessoa”. Sem dúvida que a Igreja sempre defenderá a Ciência, “na sua legítima
aspiração a indagar o imenso mistério da criação” e a desenvolver tecnologias que
consintam viver “cada vez melhor num ambiente ao serviço do homem e à medida do homem”
– assegurou D. Rino Fisichella. Contudo, acrescentou, “a doença, a dor, o sofrimento
e a morte, permanecem com todo o seu peso de interrogações a que é necessário dar
respostas carregadas de sentido”.
É por isso que “nem tudo o que é cientificamente
e tecnicamente possível é de per si lícito”. E não pode ser unicamente o cientista
a traçar o confim entre liceidade ou não liceidade da sua experimentação: impõe-se
o confronto com outras ciências a que toca a competência de verificar o limite e a
exigência ética objecta subjacente”.
A concluir, D. Rino Fisichella defendeu
o princípio fundamental da inviolabilidade da pessoa, fruto de um dom gratuito de
Deus: “O homem é devedor da sua vida. Ele saiu das mãos do Criador e a sua plena realização
só se poderá concretizar com a condição de que ele se sinta a si próprio e construa
a própria existência pessoal e social sem nunca querer substituir-se a Deus”.