"Um apelo para todos": editorial do Padre Lombardi sobre gesto do Papa relativo aos
bispos lefebvrianos
Sobre o vivo debate que suscitou a decisão do Papa de levantar a excomunhão aos quatro
bispos lefebvrianos, intervém no costumado Editorial dos sábados “Octava dies”, o
nosso director, Padre Frederico Lombardi:
“Ao mesmo tempo que gradualmente
se vão acalmando as águas depois das discussões dos últimos dias, reflictamos um pouco
pensando ao futuro. De facto, o generoso gesto do Papa de levantar a excomunhão aos
quatro bispos ordenados há vinte anos por Mons. Lefebvre não estava de modo algum
voltado para o passado, um passado aliás bem dolorosamente conhecido, dado que já
nessa altura tinha sido precisamente o cardeal Ratzinger o protagonista dos esforços
– infelizmente falhados – de evitar a rotura. O gesto visava e continua a visar o
futuro. Mas fizemos uma vez mais a experiência de quanto é difícil e árduo o caminho
em direcção à unidade. Porventura nos é possível agora ver melhor qual é o preço a
pagar para a obter. O estender a mão, da parte do Papa, permanece para todos
um grande e admirável exemplo de humildade e de coragem, de dedicação à causa da unidade,
que não receia correr riscos. Os riscos fizeram-se sentir com todo o seu peso, pelas
dificuldades e pela incerteza do caminho empreendido, por circunstâncias desfavoráveis
não conhecidas ou não previstas. Mas precisamente por isto, a dificuldade torna-se
um apelo para todos. Para os colaboradores do Papa e em geral para os membros da Igreja,
para que não desertem – por medo, desorientação ou rigidez nas suas posições – no
momento das dificuldades, deixando-o sozinho perante o desafio. Mas também para os
interlocutores do diálogo de reconciliação, posto sem meios termos diante das reais
exigências de um caminho a percorrer em humildade e disponibilidade evangélica também
da parte deles, para conseguir recompor a unidade. Como doutras vezes, esta provação
– digamos mesmo, esta crise – pode dar lugar a um desaire, mas pode também favorecer
um crescimento, um passo em frente. Em direcção a uma Igreja que será menos potente
de antes, mas mais humildemente capaz de se manifestar lugar de amor e de perdão oferecido
e acolhido em Cristo. N’Ele, é claro que não se pode contrapor Concílio e Tradição.”