CORDIALDIADE E DISTENSÃO ENTRE VATICANO E ESPANHA

Cidade do Vaticano, 05 fev (RV) - Prossegue a visita do Secretário de Estado, Tarcisio Bertone, a Madri. Ontem, o cardeal manteve um longo colóquio com o Premiê José Luis Zapatero, num encontro caracterizado pela atmosfera de distensão: mais de uma hora, sem intérpretes – segundo fontes do governo espanhol – de diálogo construtivo, em que Zapatero adiantou a Dom Bertone um convite a Bento XVI para participar, em 2010, das celebrações do Ano Santo Compostelano, em Santiago de Compostela. Em 2010, já está previsto que o papa presida, em Madri, o Dia Mundial da Juventude.

Fontes do palácio do governo não confirmaram se os dois abordaram no encontro questões contrastantes, como a reforma da lei sobre o aborto, a contestada matéria escolar ‘Educação à cidadania’, os casamentos homossexuais e a revisão da lei sobre liberdade religiosa. Todos estes temas foram, por sua vez, discutidos com a Vice-premiê, Maria Teresa de la Vega, em outro encontro, “de grande cordialidade”. A dirigente teria assegurado ao secretário de Estado que o Governo quer “erguer pontes”, e reconhecido que a Igreja tem direito a intervir no debate democrático.

De la Vega defendeu as reformas programadas por Zapatero na nova legislatura, em especial a nova lei do aborto, mas garantiu ao secretário de Estado que o governo não vai alterar seus acordos com a Santa Sé. A Vice-premiê reconheceu que existem posturas diferentes na sociedade espanhola, e informou que o objetivo do governo é garantir e proteger os direitos das mulheres e dos médicos.

Antes mesmo de aterrisar em Madri, Dom Tarcisio Bertone – que também foi recebido pelo rei Juan Carlos, que o acolheu falando italiano – antecipou a sua “intenção de diálogo”, destacando que tradicionalmente os católicos respeitam o poder político legitimamente constituído.

Segundo o jornal “El País”, um novo atrito do Governo com a Igreja poderia custar ao partido milhões de votos. Às vésperas da chegada do cardeal, propostas legislativas como a eutanásia, a apostasia, a revisão das relações com a Igreja, e a questão dos símbolos religiosos, foram bloqueadas no parlamento, graças aos votos do Partido Socialista, que votou como os Populares. A hipótese da lei da eutanásia, avançada pelos socialistas no ano passado, parece hoje arquivada. O financiamento público à Igreja não será tocado e a nova lei do aborto pode ser adiada para o fim do ano.

Com o Ministro do Exterior, Miguel Ángel Moratinos, o secretário de Estado do Vaticano analisou tópicos da atualidade internacional, com atenção especial à situação em Gaza e Cuba. Fontes do ministério informaram que sobre a questão cubana, houve uma perfeita concordância de pareceres, e que ambos apostam no diálogo crítico e no relacionamento fluido com as autoridades da Ilha.

O secretário de Estado se reuniu também ontem com o líder da oposição e Presidente do Partido Popular, Mariano Rajoy, e jantou com o Presidente da Conferência Episcopal Espanhola, Cardeal Antonio María Rouco Varela.