PAPA: PARA SAIR DA CRISE ECONÔMICA É NECESSÁRIO MUDAR RELAÇÕES ENTRE MERCADO E TRABALHO
Cidade do Vaticano, 31 jan (RV) - Bento XVI recebeu em audiência esta manhã,
na Sala Clementina, no Vaticano, os dirigentes da Confederação Italiana Sindical dos
Trabalhadores – CISL – (sigla em italiano); uma das maiores organizações sindicais
italianas, que celebra os seus 60 anos de fundação.
Em seu discurso aos presentes,
o Santo Padre falou de uma "nova síntese" entre mercado, capital e trabalho, que não
esqueça a solidariedade e a dignidade de quem trabalha e recorra de modo decisivo
ao acordo entre as partes sociais, superando os particularismos. Essa, segundo o pontífice,
é a oportunidade que a crise econômica mundial oferece à humanidade de hoje.
Mais
de um século de estudos e de magistério social por parte da Igreja oferece os instrumentos
para "ler" causas e saídas de uma crise econômica mundial que, se, por um lado, cria
certamente alarme, por outro, pode ser aproveitada como trampolim para repensar os
atuais mecanismos financeiros. Foi a primeira reflexão que Bento XVI ofereceu aos
expoentes da CISL:
"O grande desafio e oportunidade que a preocupante crise
econômica do momento convida a saber colher, é de encontrar uma nova síntese entre
bem comum e mercado, entre capital e trabalho."
O Santo Padre baseou a
sua reflexão nos ensinamentos da Doutrina social da Igreja, os quais – recordou –
desde o fim do Séc. XIX – com a célebre encíclica de Leão XIII, Rerum Novarum (1891),
defenderam a "inalienável dignidade dos trabalhadores", e contribuíram para promover
a visão cristã do trabalho.
Em tempos recentes, tanto a Centesimus Annus (1991),
quanto a precedente Laborem Exercens (1981), de João Paulo II, desenvolveram esse
magistério específico – prosseguiu o pontífice.
E a substância, afirmou Bento
XVI citando a segunda das duas encíclicas do Papa Wojtyla, é que "a Igreja jamais
deixou de considerar os problemas do trabalho dentro de uma questão social" que "condiciona"
indivíduos e famílias e que requer que seja afrontada com a arma da solidariedade:
"Para
superar a crise econômica e social que estamos vivendo, sabemos que é necessário um
esforço livre e responsável por parte de todos; ou seja, é necessário superar os interesses
de parte e de setor, de modo que possam afrontar juntos e unidos as dificuldades que
atingem cada âmbito da sociedade, especialmente, o mundo do trabalho. Jamais como
hoje se percebe uma tal urgência; as dificuldades que atingem o mundo do trabalho
impelem a um efetivo e mais decidido concerto entre os múltiplos e diversos componentes
da sociedade."
Ademais, o "chamado à colaboração", antigo quanto a Bíblia
– observou o pontífice – adquire um sentido particular nos momentos difíceis:
"Portanto,
os votos são os de que da atual crise mundial nasça a vontade comum que dê vida a
uma nova cultura da solidariedade e da participação responsável, condições indispensáveis
para construir, juntos, o futuro do nosso planeta."
Recordando que as mais
recentes encíclicas sociais reconheceram "o papel e a importância estratégica dos
sindicatos", Bento XVI concluiu dirigindo, à referida confederação sindical, a seguinte
exortação:
"O mundo precisa de pessoas que se dediquem com interesse à causa
do trabalho, no pleno respeito pela dignidade humana e pelo bem comum. A Igreja, que
aprecia o papel fundamental dos sindicatos, se faz próxima a vocês, hoje como no passado,
e está pronta a ajudá-los, a fim de que possam cumprir, da melhor forma possível,
a sua tarefa na sociedade."