SANTA SÉ HOMENAGEIA GALILEU GALILEI, NO ANO DA ASTRONOMIA
Cidade do Vaticano, 29 jan (RV) – A Santa Sé considera que, após a reabilitação
de Galileu Galilei, por parte de João Paulo II, em 1992, os tempos "estão maduros"
para uma nova revisão desse personagem histórico, "que a Igreja deseja honrar" – disse,
nesta quinta-feira, o presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Dom Gianfranco
Ravasi. O arcebispo fez tal afirmação durante a apresentação, no Vaticano, das
iniciativas previstas pela Santa Sé, para o Ano da Astronomia e para o Congresso Internacional
sobre Galileu Galilei (Pisa, 1564-Florença, 1647) que se realizará em Florença, centro-norte
da Itália, de 26 a 30 de maio próximo. O prelado recordou que o Ano da Astronomia
− convocado pelas Nações Unidas, para comemorar o quarto centenário das primeiras
descobertas astronômicas – representa para a Santa Sé, uma importante ocasião de aprofundamento
e diálogo sobre a astronomia e o astrônomo toscano, Galileu Galilei. "Galileu foi
o primeiro homem a olhar o céu através de um telescópio – sublinhou Dom Ravasi. Ele
descortinou para a humanidade, um mundo, até então, pouco conhecido, ampliando os
confins do nosso conhecimento e obrigando a uma releitura do "livro da natureza",
de outra perspectiva. A Igreja deseja honrar Galileu, gênio inovador e filho da Igreja"
– disse o prelado. O arcebispo ressaltou que "os tempos estão maduros para uma
revisão do astrônomo toscano e de seu caso". E recordou quando, em 1981, João Paulo
II criou a comissão para reexaminar o processo de Galileu Galilei, sublinhando a coragem
dessa comissão, no reconhecer os erros no julgamento do astrônomo; erros induzidos
pela incapacidade de separar a fé, de uma cosmologia milenar, que levou os juízes
a acreditarem que aceitar a revolução coperniciana faria vacilar a tradição católica
e, portanto, tais ensinamentos deveriam ser proibidos. O prelado acrescentou que
"por esse erro de julgamento subjetivo", Galileu sofreu e muito. "Hoje – argumentou
– num clima mais sereno, podemos olhar para o astrônomo e reconhecer que suas pesquisas
científicas não são incompatíveis com a fé cristã. Por isso – prosseguiu – Galileu
Galilei merece hoje, todo o nosso apreço e gratidão." Por ocasião dessas comemorações,
a Santa Sé pretende reeditar as atas do processo contra Galileu Galilei, para recordar
que o Papa Urbano VIII nunca assinou a condenação da Inquisição contra o cientista
italiano, segundo revelou, recentemente, Dom Ravasi. Entre as iniciativas, destaca-se
o congresso que se realizará no dia 26 de fevereiro, na Pontifícia Universidade Lateranense,
de Roma sobre o tema "1609-2009. 400 anos de "Sidereus Nuncius", de Galileu". De
26 a 30 de maio, se celebrará em Florença, o Congresso Internacional de Estudos intitulado
"O caso Galileu. Uma releitura histórica, filosófica e teológica", organizado pelo
Instituto Stensen, dos Jesuítas. De 21 a 26 de junho terá lugar um curso de estudos
organizado pelo Observatório Astronômico Vaticano, anualmente, desde 1986. E durante
todo o mês de outubro, estará aberta, no Vaticano, a exposição "Galileu 2009, fascinação
e empenho de um novo olhar sobre o mundo. A 400 anos da primeira observação com telescópio". De
15 de outubro de 2009 a 5 de janeiro de 2010, estará aberta ao público nos Museus
Vaticanos, a mostra "Astrum 2009: o patrimônio histórico da astronomia italiana de
Galileu até hoje", que incluirá livros, arquivos e instrumentos procedentes do Observatório
Astronômico Vaticano e dos próprios Museus Vaticanos, assim como o manuscrito "Sidereus
Nuncius", de Galileu, conservado na Biblioteca Nacional Central, de Florença. Galileu
Galilei foi condenado pelo Tribunal da Inquisição, por ter aderido à teoria de Nicolau
Copérnico, que afirmava que era o Sol e não a Terra, o centro do Universo, contrariamente
ao que se acreditava na época. No dia 31 de outubro de 1992, a 350 anos da morte
do astrônomo, João Paulo II reabilitou solenemente sua memória e criticou os erros
dos teólogos da época, que ensejaram a condenação de Galileu e não desautorizaram
expressamente o tribunal que o sentenciou. Num discurso de 13 páginas, lido pelo
Papa Wojtyla, ele definiu Galileu Galilei como "um físico genial", "que se mostrou
mais perspicaz na interpretação das Escrituras do que seus adversários, teólogos".
(AF)