REFUGIADOS ZIMBABUANOS "AMONTOADOS" EM IGREJA SUL-AFRICANA
Johanesburgo, 29 jan (RV) - Todos os dias, ao fim da tarde, o largo da Igreja
Metodista Central, de Johanesburgo, começa a se encher de pessoas que fogem da fome,
da doença e da perseguição do regime zimbabuano de Robert Mugabe.
O espetáculo
− já rotineiro para os habitantes do centro de Johanesburgo – é, na verdade, a imagem
mais nua e crua da tragédia humanitária em Zimbábue e em quase todo o sul da África:
homens, mulheres e crianças (muitas de colo) que procuram ajuda! Ajuda que lhes é
dada pelo bispo metodista, Dr. Paul Verryn.
Conhecido por sua coragem em defesa
dos "mais vulneráveis da sociedade" – palavras que ele mesmo utiliza para definir
os refugiados − e pela forma direta como critica o regime do presidente zimbabuano,
Robert Mugabe, ele também acusa os líderes da África Austral de apoiarem e sancionarem
o regime de Harare.
Com isso, o bispo sul-africano conquistou a confiança
de todos os que fogem de Zimbábue, e a admiração dos líderes cívicos, religiosos e
políticos da região.
Graça Machel, esposa do ex-presidente sul-africano Nelson
Mandela, e defensora dos direitos humanos, lançou, na semana passada, com várias outras
personalidades, na Igreja Metodista Central, a campanha "Salvem Zimbábue Já!"
Numerosos
embaixadores da União Europeia acreditados na capital zimbabuana, uniram-se aos demais
presentes, na Igreja Metodista Central de Johanesburgo, para "avaliar a situação humanitária
dos refugiados e suas necessidades". Todos foram unânimes em afirmar que se sentiram
"comovidos pelo peso da tragédia humana" dos zimbabuanos ali refugiados: mais de duas
mil pessoas, neste momento.
Muitas dormem ao relento, em frente à igreja, outras
no interior do edifício de cinco andares, espalhadas pelo chão, pelas escadarias,
nos vãos e corredores.
Além disso, muitos deles estão doentes, alguns caminham
com muletas, e centenas de mulheres carregam no colo ou nas costas − à maneira africana
− crianças pequenas.
Todos, sem exceção, exibem marcas da longa e dolorosa
viagem em direção à África do Sul − mais de mil quilômetros − repletos de perigos,
animais selvagens, rios infestados de crocodilos e oportunistas que os exploram, em
troca de uma entrada mais segura no país vizinho.
Na segunda-feira, logo depois
de a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) ter divulgado − no
comunicado final da cúpula extraordinária, realizada em Pretória − que o governo de
unidade (com Mugabe na presidência) deverá ser empossado no próximo dia 11 de fevereiro
em Harare, o Dr. Paul Verryn, de 56 anos, deixou bem claro o que pensa da estratégia
regional para resolver a crise em Zimbábue: "Mais uma vez a SADC protegeu o ditador
e sancionou o regime ditatorial de Robert Mugabe. Faço um apelo para que esse apoio
seja retirado de imediato, a fim de que o povo de Zimbábue possa escolher seus representantes
sem medo nem limitações" – afirmou. (AF)