"Novas tecnologias, novas relações. Promover uma cultura de respeito, de diálogo,
de amizade." Mensagem do Santo Padre para o 43° Dia Mundial das Comunicações Sociais
(23/1/2009) Amados irmãos e irmãs, Aproximando-se o Dia Mundial das Comunicações
Sociais, é com alegria que me dirijo a vós para expor-vos algumas minhas reflexões
sobre o tema escolhido para este ano: Novas tecnologias, novas relações. Promover
uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade. Com efeito, as novas tecnologias
digitais estão a provocar mudanças fundamentais nos modelos de comunicação e nas relações
humanas. Estas mudanças são particularmente evidentes entre os jovens que cresceram
em estreito contacto com estas novas técnicas de comunicação e, consequentemente,
sentem-se à vontade num mundo digital que entretanto para nós, adultos que tivemos
de aprender a compreender e apreciar as oportunidades por ele oferecidas à comunicação,
muitas vezes parece estranho. Por isso, na mensagem deste ano, o meu pensamento dirige-se
de modo particular a quem faz parte da chamada geração digital: com eles quero partilhar
algumas ideias sobre o potencial extraordinário das novas tecnologias, quando usadas
para favorecerem a compreensão e a solidariedade humana. Estas tecnologias são um
verdadeiro dom para a humanidade: por isso devemos fazer com que as vantagens que
oferecem sejam postas ao serviço de todos os seres humanos e de todas as comunidades,
sobretudo de quem está necessitado e é vulnerável. A facilidade de acesso a telemóveis
e computadores juntamente com o alcance global e a omnipresença da internet criou
uma multiplicidade de vias através das quais é possível enviar, instantaneamente,
palavras e imagens aos cantos mais distantes e isolados do mundo: trata-se claramente
duma possibilidade que era impensável para as gerações anteriores. De modo especial
os jovens deram-se conta do enorme potencial que têm os novos «media» para favorecer
a ligação, a comunicação e a compreensão entre indivíduos e comunidade, e usam-nos
para comunicar com os seus amigos, encontrar novos, criar comunidades e redes, procurar
informações e notícias, partilhar as próprias ideias e opiniões. Desta nova cultura
da comunicação derivam muitos benefícios: as famílias podem permanecer em contacto
apesar de separadas por enormes distâncias, os estudantes e os investigadores têm
um acesso mais fácil e imediato aos documentos, às fontes e às descobertas científicas
e podem por conseguinte trabalhar em equipa a partir de lugares diversos; além disso
a natureza interactiva dos novos «media» facilita formas mais dinâmicas de aprendizagem
e comunicação que contribuem para o progresso social. Embora seja motivo de maravilha
a velocidade com que as novas tecnologias evoluíram em termos de segurança e eficiência,
não deveria surpreender-nos a sua popularidade entre os utentes porque elas respondem
ao desejo fundamental que têm as pessoas de se relacionar umas com as outras. Este
desejo de comunicação e amizade está radicado na nossa própria natureza de seres humanos,
não se podendo compreender adequadamente só como resposta às inovações tecnológicas.
À luz da mensagem bíblica, aquele deve antes ser lido como reflexo da nossa participação
no amor comunicativo e unificante de Deus, que quer fazer da humanidade inteira uma
única família. Quando sentimos a necessidade de nos aproximar das outras pessoas,
quando queremos conhecê-las melhor e dar-nos a conhecer, estamos a responder à vocação
de Deus - uma vocação que está gravada na nossa natureza de seres criados à imagem
e semelhança de Deus, o Deus da comunicação e da comunhão. O desejo de interligação
e o instinto de comunicação, que se revelam tão naturais na cultura contemporânea,
na verdade são apenas manifestações modernas daquela propensão fundamental e constante
que têm os seres humanos para se ultrapassarem a si mesmos entrando em relação com
os outros. Na realidade, quando nos abrimos aos outros, damos satisfação às nossas
carências mais profundas e tornamo-nos de forma mais plena humanos. De facto amar
é aquilo para que fomos projectados pelo Criador. Naturalmente não falo de relações
passageiras, superficiais; falo do verdadeiro amor, que constitui o centro da doutrina
moral de Jesus: «Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua
alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças» e «amarás o teu próximo
como a ti mesmo» (cf. Mc 12, 30-31). Reflectindo, à luz disto, sobre o significado
das novas tecnologias, é importante considerar não só a sua indubitável capacidade
de favorecer o contacto entre as pessoas, mas também a qualidade dos conteúdos que
aquelas são chamadas a pôr em circulação. Desejo encorajar todas as pessoas de boa
vontade, activas no mundo emergente da comunicação digital, a que se empenhem na promoção
de uma cultura do respeito, do diálogo, da amizade. Assim, aqueles que operam
no sector da produção e difusão de conteúdos dos novos «media» não podem deixar de
sentir-se obrigados ao respeito da dignidade e do valor da pessoa humana. Se as novas
tecnologias devem servir o bem dos indivíduos e da sociedade, então aqueles que as
usam devem evitar a partilha de palavras e imagens degradantes para o ser humano e,
consequentemente, excluir aquilo que alimenta o ódio e a intolerância, envilece a
beleza e a intimidade da sexualidade humana, explora os débeis e os inermes. As
novas tecnologias abriram também a estrada para o diálogo entre pessoas de diferentes
países, culturas e religiões. A nova arena digital, o chamado cyberspace, permite
encontrar-se e conhecer os valores e as tradições alheias. Contudo, tais encontros,
para ser fecundos, requerem formas honestas e correctas de expressão juntamente com
uma escuta atenciosa e respeitadora. O diálogo deve estar radicado numa busca sincera
e recíproca da verdade, para realizar a promoção do desenvolvimento na compreensão
e na tolerância. A vida não é uma mera sucessão de factos e experiências: é antes
a busca da verdade, do bem e do belo. É precisamente com tal finalidade que realizamos
as nossas opções, exercitamos a nossa liberdade e nisso - isto é, na verdade, no bem
e no belo - encontramos felicidade e alegria. É preciso não se deixar enganar por
aqueles que andam simplesmente à procura de consumidores num mercado de possibilidades
indiscriminadas, onde a escolha em si mesma se torna o bem, a novidade se contrabandeia
por beleza, a experiência subjectiva sobrepõem-se à verdade. O conceito de amizade
logrou um renovado lançamento no vocabulário das redes sociais digitais que surgiram
nos últimos anos. Este conceito é uma das conquistas mais nobres da cultura humana.
Nas nossas amizades e através delas crescemos e desenvolvemo-nos como seres humanos.
Por isso mesmo, desde sempre a verdadeira amizade foi considerada uma das maiores
riquezas de que pode dispor o ser humano. Por este motivo, é preciso prestar atenção
a não banalizar o conceito e a experiência da amizade. Seria triste se o nosso desejo
de sustentar e desenvolver on-line as amizades fosse realizado à custa da nossa disponibilidade
para a família, para os vizinhos e para aqueles que encontramos na realidade do dia
a dia, no lugar de trabalho, na escola, nos tempos livres. De facto, quando o desejo
de ligação virtual se torna obsessivo, a consequência é que a pessoa se isola, interrompendo
a interacção social real. Isto acaba por perturbar também as formas de repouso, de
silêncio e de reflexão necessárias para um são desenvolvimento humano. A amizade
é um grande bem humano, mas esvaziar-se-ia do seu valor, se fosse considerada fim
em si mesma. Os amigos devem sustentar-se e encorajar-se reciprocamente no desenvolvimento
dos seus dons e talentos e na sua colocação ao serviço da comunidade humana. Neste
contexto, é gratificante ver a aparição de novas redes digitais que procuram promover
a solidariedade humana, a paz e a justiça, os direitos humanos e o respeito pela vida
e o bem da criação. Estas redes podem facilitar formas de cooperação entre povos de
diversos contextos geográficos e culturais, consentindo-lhes de aprofundar a comum
humanidade e o sentido de corresponsabilidade pelo bem de todos. Todavia devemo-nos
preocupar por fazer com que o mundo digital, onde tais redes podem ser constituídas,
seja um mundo verdadeiramente acessível a todos. Seria um grave dano para o futuro
da humanidade, se os novos instrumentos da comunicação, que permitem partilhar saber
e informações de maneira mais rápida e eficaz, não fossem tornados acessíveis àqueles
que já são económica e socialmente marginalizados ou se contribuíssem apenas para
incrementar o desnível que separa os pobres das novas redes que se estão a desenvolver
ao serviço da informação e da socialização humana. Quero concluir esta mensagem
dirigindo-me especialmente aos jovens católicos, para os exortar a levarem para o
mundo digital o testemunho da sua fé. Caríssimos, senti-vos comprometidos a introduzir
na cultura deste novo ambiente comunicador e informativo os valores sobre os quais
assenta a vossa vida. Nos primeiros tempos da Igreja, os Apóstolos e os seus discípulos
levaram a Boa Nova de Jesus ao mundo greco-romano: como então a evangelização, para
ser frutuosa, requereu uma atenta compreensão da cultura e dos costumes daqueles povos
pagãos com o intuito de tocar as suas mentes e corações, assim agora o anúncio de
Cristo no mundo das novas tecnologias supõe um conhecimento profundo das mesmas para
se chegar a uma sua conveniente utilização. A vós, jovens, que vos encontrais quase
espontaneamente em sintonia com estes novos meios de comunicação, compete de modo
particular a tarefa da evangelização deste «continente digital». Sabei assumir com
entusiasmo o anúncio do Evangelho aos vossos coetâneos! Conheceis os seus medos e
as suas esperanças, os seus entusiasmos e as suas desilusões: o dom mais precioso
que lhes podeis oferecer é partilhar com eles a «boa nova» de um Deus que Se fez homem,
sofreu, morreu e ressuscitou para salvar a humanidade. O coração humano anseia por
um mundo onde reine o amor, onde os dons sejam compartilhados, onde se construa a
unidade, onde a liberdade encontre o seu significado na verdade e onde a identidade
de cada um se realize numa respeitosa comunhão. A estas expectativas pode dar resposta
a fé: sede os seus arautos! Sabei que o Papa vos acompanha com a sua oração e a sua
bênção. Vaticano, 24 de Janeiro - dia de São Francisco de Sales - de 2009.